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O Treino de Guarda-Redes na Iniciação. Por onde começar?



Os Clubes procuram maioritariamente Treinadores para a Formação. É aí que a maior parte dos Treinadores entra “no mercado de trabalho”. O caso dos Treinadores de Guarda-Redes não foge à regra e é neste patamar que a meu ver existem grandes lacunas ao nível da formação do Guarda-Redes em Portugal. É na Formação, que a maior parte dos Treinadores, quer sejam de Guarda-Redes ou não, começam. Dentro dos patamares da Formação e, ao contrário do que a maior parte das pessoas possa pensar, a Iniciação ao Treino de Guarda-Redes é talvez a tarefa mais complicada e exigente para um Treinador de Guarda-Redes. Mais ainda para quem está a começar.
Para esclarecer considero o patamar de Iniciação do Treino de Guarda-Redes até ao fim do escalão de Benjamins (10 anos +/-). Com isto, não quer dizer que uma criança não possa começar depois desse patamar.
Grande parte das pessoas já terá ouvido falar nos Estágios de Desenvolvimento Cognitivo da Criança, de Jean Piaget. É amplamente conhecido, mas nem sempre pensamos na forma como isso afecta o nosso treino. Sabiam que só no estágio “operatório concreto” (dos 7 aos 11 anos) é que “a Criança desenvolve noções de tempo, espaço, velocidade, ordem, casualidade, etc, sendo já capaz de relacionar diferentes aspectos e abstrair dados da realidade? Não se limita a uma representação imediata, dependendo ainda do mundo concreto para chegar à abstracção.” Em termos práticos, quer dizer que a Criança não consegue ainda realizar pensamentos abstractos, a não ser que se baseie na realidade que conhece e a envolve. Já para não falar da importância das noções de tempo, espaço e velocidade.

                           
A questão que coloco é a seguinte: Porque será mais difícil treinar Crianças na Iniciação ao treino de Guarda-Redes?
A resposta é múltipla. Temos de olhar para a problemática de uma forma específica. A Criança tem as suas necessidades, capacidades, motivações e interesses. Portanto um treino para uma Criança de 12 anos a iniciar é completamente diferente de um treino de uma Criança de 8 anos a iniciar. Não tem somente a ver com as suas capacidades físicas, mas também cognitivas. Um exemplo concreto: ensinar os Guarda-Redes como se posicionam na Baliza sem usar o espaço real de jogo. Por muito que se diga “imagina ali uma linha e tal”, isto na cabeça da Criança não acontece porque esta pode não conseguir pensar ainda de forma abstracta. Há que lidar com coisas concretas! Um conselho: sempre que possível trabalhem na Baliza e com as marcações onde jogam (principalmente na Iniciação).
Uma estratégia a usar em treino é exemplificar o que pretendemos que a Criança faça (bons exemplos!). Depois perceber que exercícios analíticos fechados são necessários, mas não devem ser regra pois, são chatos e pouco interessantes para a Criança. O seu foco de atenção é reduzido e, como tal, a meio da conversa eles já estão “Tô nem aí”. A melhor maneira será sempre procurar determinado objectivo através de jogos que permitam à Criança bastante tempo de prática. Aprender o jogo jogando é também vital (como já tinha falado em outro texto).


Para concluir mais alguns pensamentos importantes:
- Devemos sempre pensar e delinear muito bem os exercícios que trazemos aos nossos Guarda-Redes de Iniciação.
- Um aspecto importante a ter em conta é a sua individualidade, dois meninos da mesma idade podem ter já capacidades cognitivas e físicas completamente distintas portanto o treino deve ser realizado em função das suas capacidades.
- Devemo-nos focar no essencial.
- Ao iniciar o essencial é ganhar o gosto pela posição. Depois começamos a dar as bases fundamentais (como agarrar, etc.).
- Tudo tem uma progressão coerente e lógica com as capacidades da criança.
- Muito contacto com bola e muitos jogos onde eles possam fazer o que mais gostam: defender.

Referência: http://penta.ufrgs.br/~marcia/estagio2.htm#esm

Juntos somos mais fortes,
Miguel Menezes

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4 Comentários

  1. Ótimo texto,trabalha na iniciação de goleiros é um enorme desafio pois parte de nós desenvolver todos os aspectos motores e cognitivo da criança. Temos que ter percepção apurada pois nenhuma criança é igual a outra, então todo treino deve ser pensado e repensado para atender todas as necessidades que uma criança possa ter. A parte técnica que são trabalhos específicos são o carro chefe para que esse aprendizado e desenvolvimento inicie.
    Grande abraço

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    1. Sr. António Santos antes de mais agradecer o seu comentário. Espero que continue a acompanhar os nossos textos e a dar as suas opiniões.
      Quanto ao que fala no comentário estou de acordo. O desafio é diário pois muitos exercícios não se aplicam às crianças. É importante responder às necessidades da criança em termos individual mas sabemos o quão difícil e desafiante essa tarefa pode ser.

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  2. Parabéns pelo texto ! Sou preparador de guarda redes a 26 anos com passagem pela Seleção Brasileira sub-17 ( campeão mundial em 2003 ) e sub-20. Concordo sobre a importância do preparador na iniciação e nas divisões de base, principalmente no período operatório concreto. Meu trabalho baseia-se em princípios e conceitos como o da aprendizagem significativa de Ausubel; ênfase na psicomotricidade aplicada; no aspecto lúdico inserido no treinamento analítico e no treinamento global ( contextualizado ); na teoria cognitivo-comportamental; na mentalização do gesto motor e em estratégias didáticas e conteúdos teóricos.

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  3. Obrigado pelo seu comentário.
    É importante percebermos com quem estamos a trabalhar (idade) para podermos utilizar conhecimento e estratégias que nos facilitem a abordagem ao treino.
    Gostei bastante da maneira como baseia os seus princípios metodológicos em treino. Vou certamente pesquisar com mais cuidado algumas dessas formas.
    Continue a acompanhar-nos.
    Cumprimentos.

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