Não temos estofo europeu. Não temos estaleca europeia. Escolham o termo
que mais vos aprouver, mas a verdade é uma e apenas uma: actualmente não temos
capacidade para aspirar a mais do que uma qualificação na fase de grupos, sendo
que até mesmo aqui torna-se claro que é mais fácil consegui-lo na Liga Europa
do que na Liga dos Campeões.
Os sintomas não são novos, as evidências são mais que muitas e não
surgiram apenas agora, mas talvez esta última semana europeia possa servir de
mote para uma análise séria e cuidada em relação ao que se passa no futebol
português.
Sinceramente prefiro acreditar que os agentes desportivos responsáveis
pelo descalabro europeu não vão minimizar as eliminações e assobiar para o
lado, mas depois olho para tudo o que coloco na génese deste “UEFAGATE” e
começo a duvidar desse meu optimismo. Das dúvidas nascem grandes incertezas
quanto ao futuro europeu do futebol português e começam a brotar pequenas certezas
quanto a tudo o que não estamos a ser capazes de fazer para mudar o paradigma
do nosso futebol.
Porque é disso que realmente se trata, neste momento. De uma mudança de
paradigma. De uma mudança de mentalidades que tem de começar na Educação,
passar pela Sociedade para depois chegar ao Futebol. E não o inverso…
Sinceramente gostaria de ver os agentes responsáveis pelo nosso Futebol,
mas especialmente aqueles que estiveram directamente envolvidos nesta semana
dantesca, a reunir, a debater e a discutir o que se passa para perspectivar um
melhor futuro e um melhor cenário para as nossas equipas nas competições
europeias. Caso contrário continuaremos a ser eliminados com relativa
facilidade.
Gostaria de ver outra coisa que não a complacência, o populismo e a
demagogia presentes nas palavras e nas atitudes de quem se esquece de honrar a
História dos clubes que tão bem lhes pagam, de quem se esquece de orgulhar os
sacrifícios de quem os seguem para todo o lado, de quem se esquece que o que
perdemos hoje já não ganharemos amanhã.
Mas enquanto isso não acontecer, enquanto continuarmos a permitir a
distribuição injusta de receitas televisivas, enquanto continuarmos a pactuar
com gestões fraudulentas, enganosas e viciadas, enquanto continuarmos a ser
audiência de programas que querem falar de tudo menos de Futebol, enquanto
continuarmos a assistir ao assassínio do futebol português em termos de tudo o
que tenha a ver com os seus quadros competitivos, então pouco ou nada poderemos
fazer.
A não ser ir para as redes sociais insultar os dirigentes, os
treinadores, os jogadores, os accionistas, os árbitros ou o vizinho do 3º
Esquerdo que é do clube rival, sempre que os nossos clubes forem eliminados das
competições europeias. Porque isso é que é de valor! Isso é que nos vai ajudar
a ajudar o nosso Futebol.
Não temos estofo europeu. Não temos estaleca europeia. Escolham o termo
que mais vos aprouver, mas a verdade é uma e apenas uma: dificilmente teremos
capacidade para, no futuro, aspirar a mais do que uma qualificação na fase de
grupos, sendo que até mesmo aqui torna-se cada vez mais claro que é mais fácil
consegui-lo na Liga Europa do que na Liga dos Campeões…
Laurindo Filho |
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