A presença do TGR no processo de treino de uma equipa é um acontecimento
relativamente recente. Há certa de 10 anos era pouco comum a existência de um
elemento que se preocupasse, em exclusivo, com o treino dos guarda-redes.
Pelos diferentes países, foram surgindo elementos responsáveis por esta
área em particular. Em conjunto com outras áreas especificas de intervenção, o
TGR foi desenvolvendo a sua importância, estando, nos dias de hoje, incluído em
todas as equipas técnicas.
A ligação à restante equipa técnica é, naturalmente, fundamental na
preparação dos nossos GRS. É em articulação direta com o Treinador Principal
que surge a proposta de treino. A confirmação da importância do GR no jogo
atual é visível na formulação da ideia de jogo. Todos os princípios de ação que
guiam a equipa devem ser entendidos pelo TGR, para que o envolvimento dos
jogadores que treina, no processo coletivo, seja total.
(Mister Luís Esteves com o líder Rui Vitória
nos tempos do SL Benfica)
|
Este relacionamento direto entre as partes orientadoras do treino é
fundamental. Para que a prática não perca coerência, o treino terá de ser
agilizado de forma a que todas as necessidades fiquem satisfeitas. A falta de
espaço e tempo para a execução de determinados exercícios pode e deve ser
combatida com uma estreita ligação entre o treino dos jogadores de campo e o
nosso. Apesar da especificidade da posição, sabemos que é no integrado que
surgem os melhores momentos de atividade.
Para colmatar alguma falta de tempo que possa existir para trabalhar em
espaços mais amplos, procuro, ao longo de 2/3 dias do microciclo, antecipar o
início da sessão.
No entanto, de forma a respeitar o lado mais específico da posição,
considero necessária a realização de uma observação/diagnóstico individual.
Na minha última experiência (GD Bragança) tive a oportunidade de aplicar
alguns destes princípios básicos, com o objetivo de melhorar determinadas ações
de jogo dos meus GR’s.
De seguida, irei expor: algumas lacunas identificadas; correções
aplicadas; melhorias observadas.
Jogo,
treino, jogo. Tudo ligado.
(Padrões de comportamentos imprescindíveis para o rendimento na minha opinião) |
Momento de jogo – Ações de cruzamento:
Na minha perspetiva, neste momento, o posicionamento em função do local
onde se encontra a bola é fundamental. No meu entendimento, este é o momento de
jogo mais complexo para o Guarda-Redes. São muitas as variabilidades presentes.
Analisar a leitura prévia da trajetória da bola, sair ou não sair ao lance, entender
a aglomeração de colegas e adversários que possam estar por perto, entre
outros.
Deixar aqui em nota, que defendo e treino este momento considerando 5
zonas possíveis de cruzamento, conforme apresento na imagem seguinte:
O seguinte lance espelha, aquilo que considero ser, uma falha no
posicionamento. O lance desenrola-se numa zona que designo por “meia distância”
ou “zona 2 (imediações da linha lateral da grande área)”. O nosso GR estava
colocado um pouco fora da linha do poste, o que lhe retirou espaço para que
pudesse intervir num cruzamento aéreo, como se veio a verificar. No entanto,
parece-me importante referir que os seus apoios estavam bem orientados, segundo
aquilo que é o meu entendimento – direcionados para o vértice da grande área.
Relativamente a este lance de jogo que analisei, o foco dos
comportamentos na zona em questão (meia distância – zona 2) foram os seguintes:
- Posicionamento
“meio de meio” da baliza (dividir uma metade da baliza em duas iguais);
- Orientação de
apoios (campo de visão aberto) e posição base alta;
- Possibilidade
de controlar zona de 1º poste e viajar se necessário para meio/2º poste;
- Mais ou menos
profundo, em função de bola aberta ou fechada (em função do pé que cruza) e
possibilidade de bola coberta ou descoberta (oposição por perto ou não).
Com o trabalho realizado, conseguimos corrigir um pormenor que me parece
relevante. A mensagem foi passada através do treino e validada no sucesso que
os jogadores apresentaram em jogo.
A abertura e qualidade dos GR’s com quem trabalhei ajudam a aumentar a
eficácia do processo de treino.
Para concluir, aproveito oportunidade para relembrar uma frase dita por
um colega, recentemente, à “Última Barreira”:
“Nunca a aquisição de conhecimento é uma viagem de elevador onde se
carrega no botão do último piso - para o bar rooftop, onde apreciamos a vista
lá no topo. Temos mesmo que ir pelas escadas. Pé ante pé. Degrau a degrau”.
João Garcia – Coordenador Departamento GR da Formação e Treinador
de GR dos Sub-19 do Estoril Praia
Hélder Esculcas |
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