Afinal o que é a Competência no Futebol de Formação? Que parâmetros deveriam ser utilizados na avaliação daquilo que deveria ser Competência? Será que erradamente não atribuímos uma definição pouco concreta do que é ou deveria ser a Competência de um Treinador no Futebol de Formação? Então qual é de facto a missão do Treinador de Formação?!
A colocação da ordem de palavras é importante quando falamos em Desporto, pelo menos na Formação de um Desporto colectivo.
A colocação da ordem de palavras é importante quando falamos em Desporto, pelo menos na Formação de um Desporto colectivo.
Competência
como condição prévia do sujeito, herdada ou adquirida. É comum definir
competência como capacidade de um organismo. Saber respirar, por exemplo, são
capacidades herdadas. Nascemos com competência comunicativa, isto é, herdamos a
nossa aptidão para a linguagem. Ao mesmo tempo, temos de adquirir competência
em uma ou mais línguas pois, essas não são herdadas, mas sim, aprendidas e
constituem-se património da nossa cultura e da nossa
possibilidade de comunicação.
Nesse
caso, competência e desempenho são dimensões diferentes. O caminhar concreto,
em uma determinada situação e em função de uma certa necessidade, não é
comparável à capacidade de caminhar, independentemente de que o desempenho
dessa capacidade esteja ocorrendo ou não, ou seja: ter capacidade de
caminhar não é caminhar.
Competência,
nesse primeiro sentido significa, muitas vezes, o que se chama de talento, dom
ou extrema facilidade para alguma actividade. Há professores cuja competência
para ensinar decorre dessa facilidade. É como se fosse uma condição prévia,
herdada ou aprendida. Aprendida porque, uma vez que alguém consegue um diploma
ou é declarado formado ou habilitado para uma certa função é como se,
imediatamente, isso se tornasse um património seu.
É necessário ter boa matéria prima e é aí que entra um bom Departamento
de Recrutamento e cujo trabalho (bom ou mau) nunca pode ser descurado e que
pode ter repercussões (positivas ou negativas) que só se sentirão do 5-12 ano.
Tendo já jovens talentos, para formar bons jogadores é imperativo
essencialmente ter os melhores treinadores, os melhores psicólogos e as
melhores infra-estruturas. É tão simples quanto isso, os melhores nas suas
respectivas áreas para potenciar a melhor matéria.
Isto aplica-se a qualquer
colaborador que possa entrar em contacto com os jovens atletas, mas focando-me agora mais nos treinadores, os atletas precisam de treinadores que para além de
competência e profissionalismo, que sejam homens exemplares pois, quer tenham
consciência disso ou não, esses treinadores têm nas mãos uma enorme
responsabilidade visto que estarão a ter um profundo impacto na formação da
personalidade desses jovens, a chamada dimensão humana!
Tendo dito isto, continuo
a acreditar que o "Psicólogo Primário" deve ser sempre o treinador, sendo
que, esta é uma área em que obviamente alguns treinadores têm maior
sensibilidade do que outros e que tem a ver com a própria personalidade dos
treinadores pois, há quem tire todos os cursos possíveis sobre Psicologia ou
Pedagogia, mas falta-lhes o humanismo ou as competências sociais necessárias
para conseguirem compreender os seus “pacientes“.
A medida primária seria a
criação de uma estrutura capaz de governar a Formação e Prospecção, uma
estrutura que reuniria competências diversas e que tornaria a estrutura mais
flexível, moderna e pedagógica, com capacidade de se adaptar às contingências
da Formação.
O jogador, o treinador e a equipa. Todos vivem da
capacidade de entender a altura para agarrar o momento certo e lançar o futuro.
O jogador nasce erradamente com a noção de que para
jogar futebol (e jogar bem, com o reconhecimento do esforço), tem de estar
sempre a correr o mais possível. Nada mais errado. O espaço (sua ocupação) e a
bola (perceber por onde ela deve andar) é que fazem o jogo, a tal teoria
futebolística do que é “jogar bem”. É, em suma, pensar bem o jogo posicional.
O feito do treinador é permitir-lhe descobrir o jogo.
Antes era apenas descobrir um... campo de futebol. É muito diferente…
A táctica é a noção dos espaços e a aprendizagem. O
instinto tem mais a ver com o momento em que te chega a bola. Há que ler o jogo
onde quer que esteja a bola e isso aprende-se. Por exemplo, quando tens dois
médios e um vai na pressão, tu dás um passo atrás e fazes a cobertura porque
aprendeste, mas, em pleno jogo, isso é instintivo, porque já o fazes desde
pequeno. Tens é de saber que depois quando mudas a zona onde jogas, mudas de
movimentos. Ou seja, o instinto também se aprende! A liberdade tens de ser tu a
dar-te a ti próprio em função de te sentires mais ou menos relaxado segundo
estiveres mais acostumado em determinado local do campo. Quanto melhor conheces
a posição, mais te atreves no jogo.
Numa entrevista, Guardiola explicou que tinha de
escolher entre ter mais um homem na defesa (defesa a 4) ou ter mais um homem no
meio-campo (defesa a 3). Entrou com esta segunda ideia (1x3x5x2) mas logo ao fim
de 15 minutos com a bola em profundidade tremeu ao ver Thiago deslocado sobre a
ala direita (sem se atrever a dar-se liberdade no jogo) e assustou-se com o
“três-para-três” da sua linha recuada. Assim, rapidamente reequilibrou-se num 1x4x4x2 que foi mais um 1x4x1x4x1 tal a forma como Muller defendia numa ala e só
depois surgia em diagonal no momento ofensivo. Guardiola assumira que tinha
solução para tudo menos para parar Messi. É a confissão da insustentável leveza
humana. O instinto que decide quando lhe chega a bola, em tese aplicada ao
momento em que algo entra no jogo e supera a táctica.
Causa sempre impressão, no entanto, ver um treinador
mudar de plano táctico de jogo (sistema) logo aos 15 minutos. Ainda para mais,
claro, se ele for Guardiola. Porque neste caso não se trata de elogiar a
capacidade da equipa rapidamente se transformar em termos de sistema no
decorrer do jogo. Trata-se de um treinador reconhecer que pensou mal o jogo e o
que o adversário podia fazer. Muitas vezes,
porém, tal passa, muito rapidamente, de controlar o jogo para controlar o ...
resultado. Ao não se aperceber dessa linha tão ténue que separa realidades tão
diferentes é quando a estratégia se perde como plano pensado e a equipa, em
campo, passa apenas a resistir. Mas nem tudo são fintas, defesas
desequilibradas e golos. Também há quem veja o jogo, do banco, com o quadro
táctico sempre presente.
Estrutura
bem as equipas e dá-lhes um estilo. Uma equipa sem estrelas é uma equipa que
“vê-se ao que quer jogar”. Isso é fundamental para ter o mais importante numa
equipa dita de nível médio: organização e personalidade.
Ter uma
“bela ideia de futebol”. "Caminhar pelo jogo", tem a
vantagem de garantir sempre a organização atrás da linha da bola.
Nesta fase debate-se a continuidade de treinadores em
face da vontade do clube, isso leva-me a pensar que tal resulta dessa estrutura
que entretanto se foi criando (com peças mais articuladas no edifício do
futebol), se achar agora já capaz de ser superior ao treinador que ao longo das
épocas fez (e refez) sucessivas equipas.
Os treinadores têm, pois, diferentes pesos, impactos e
missões em cada clube diferente, e esses pormenores farão toda a diferença. Já os títulos conquistados esses, serão
sempre uma consequência dessa mesma Competência e Formação.
Bruno Rodrigues |
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