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Formar Atletas Autónomos ou Gerações Virtuais

 


Poderá ser uma autocrítica, ou mesmo uma forma de estar generalizada, que já venho a fazer algum tempo de forma a melhorar a minha intervenção como treinador, tanto em treinos como nos jogos. Cometemos erros inconscientemente que podemos corrigir quando tomamos consciência da forma e frequência desse mesmo erro. Essa evolução acontece pela constante superação do erro. O treinador que comanda verbalmente as ações dos jogadores constantemente, que parece que usa um comando de uma consola, pode ser a meu ver feita na fase inicial no futebol de formação, mas não mais que isso. E porquê? Porque vai claramente condicionar o desenvolvimento da autonomia decisional do jogador... Se nas aprendizagens não for concedida a oportunidade de ler o jogo e atuar em função das possibilidades existentes, nunca estes conseguirão lidar com os verdadeiros obstáculos que o futebol lhes apresenta.

É sem dúvida um dos problemas do futebol de formação. Existe como em tudo na vida uma dose certa para tudo, não devemos ser radicais na forma de intervir ou não nos treinos/jogos. Temos que falar em Futebol de Rua, pois não existe adultos a intervir nos jogos das crianças, e esta, é umas das valências do jogo informal, do treino livre... Os miúdos organizam-se, jogam e aprendem e não aprendem só sobre o jogo... Uma visão mais liberal do processo formativo do atleta. Não devemos é pensar que isto só existe no clube A, B ou C, quando nenhum de nós está imune a este tipo de comportamento, temos é que saber quando o fazer, para depois irmos aos poucos libertando e “doseando” a criatividade necessária para fazer deles atletas organizados e autónomos nas suas decisões. Deixar os miúdos jogar e praticar as situações de treino propostas, utilizando as suas capacidades cognitivas e motoras.



Ao longo dos tempos, o futebol mudou muito, adquiriu novas formas tácitas e estilos, mas em todas as épocas a inteligência foi o ponto de partida para entender o seu sentido coletivo ao qual até as grandes individualidades se devem submeter. É desta forma, que faz tanto sentido falar hoje em «princípios de jogo». Como o próprio nome indica, eles são um «princípio» para modelar o «jogar» da equipa, traduzindo num conjunto de normas e movimentos comportamentais que orientam o jogador em campo na procura das soluções mais eficazes em diferentes situações de jogo. São eles que determinam e balizam o posicionamento e a movimentação dos jogadores.  É esta a grande raiz tática do futebol: o jogo do drible e do passe. Tudo nasce destas duas simples definições. Progredir no terreno jogando coletivamente, passando a bola uns para os outros, e não com meros pontapés para a frente, tentando colocar a bola o mais rapidamente possível perto da baliza.

A reflexão atual que se faz em torno dos «princípios de jogo» é importante para entender o seu verdadeiro sentido e ver como ele, com outro nome (ou até sem definição), fez ao longo dos tempos parte da ideologia de jogo de todas as grandes equipas. Todas elas tinham os movimentos comportamentais-base que orientavam os jogadores em campo na procura das soluções mais eficazes. 



Conseguir, em campo, uma interligação dinâmica entre a ordem e o talento individual, balizada pelo modelo e pelos seus princípios de jogo não mecanizados. É para isso que servem os «princípios de jogo», pontos de partida comportamentais para uma certa ideia de «jogar», integrando ordem e talento individual. Deve-se procurar uma, digamos, «mecanização não mecanizada» e não uma mera «mecanização mecanizada pura».

A inteligência é, por isso, o grande princípio "Máximo" da movimentação no futebol. O jogador é livre para agir, mas não pode agir livremente. A sua liberdade acaba quando choca com a ordem coletiva superior que rege o «jogar coletivo». Os princípios de jogo são, assim, as balizas e os limites dessa liberdade. Se não forem mecânicos, standardizados e permanentemente repetidos eles dão critério à liberdade e ao talento individual que, de outra forma, estaria desenquadrado, não teria ordem e sairia fora do conceito coletivo do «jogar», tornando-se inócuo e até subversivo em relação aos tais princípios de jogo.

A capacidade do treinador – e dos seus jogadores - entenderem e interpretarem estes conceitos é que marcam a diferença entre as grandes equipas da atualidade. Mesmo o gesto mais mirabolante produz jogo, pois tem em mente um princípio coletivo. Mais uma prova, afinal de que mais do que na técnica ou na tática, o bom futebol começa na inteligência, individual e coletiva!



BRUNO RODRIGUES

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