Nos dias de hoje existem várias ferramentas ao nosso alcance que permitem
uma melhoria significante na qualidade do processo de treino e consequentemente de jogo. Vivemos na era da informação e hoje em dia as tecnologias permitem uma massificação
da informação com plataformas como o Instat (usado no exemplo),
Wyscout, entre outras, a permitirem uma análise mais facilitada do jogo. Cabe a nós
treinadores selecionar o que pretendemos ver e dar importância.
Na minha realidade (Campeonato de Portugal, Sport Clube Beira-Mar) tenho
a possibilidade de ter de uma forma simples ao meu dispor um conjunto de
informações que auxiliam o planeamento e execução do microciclo semanal.
No vídeo abaixo podem ver um exemplo concreto (de Guarda-Redes) da
presente temporada em como executei a preparação de um jogo (o que vi, o que
fiz e o resultado final). O vídeo está dividido em três partes: análise do
adversário, o treino e o jogo.
A análise do adversário
Analisando o processo ofensivo do adversário existe
à partida muitas maneiras de este atacar a nossa baliza. A grande e principal
questão é entender o contexto. Quer seja se for a jogar em casa ou fora
(as equipas por vezes têm dinâmicas diferentes), quer seja pelas condicionantes do
campo (por exemplo as dimensões), mas nunca descurando que o nosso Guarda-Redes
está englobado numa ideia de jogo e que essa ideia tem princípios fundamentais
nos vários momentos de jogo.
Indo concretamente ao exemplo do vídeo, denotei uma
grande tendência para passes de rutura e procura do espaço nas costas do
adversário através da velocidade dos homens da frente. A maioria dos golos
marcados derivava de situações precedidas de passe rutura. Criavam várias
situações de perigo principalmente quando as outras equipas libertavam espaço
nas costas e os homens do meio tinham a possibilidade (quer em transição, quer em
organização) de estar de frente para o jogo para lançar os avançados. Juntando
essa informação com o nosso modelo de jogo (defender alto) esta seria uma das
formas que o adversário nos poderia explorar.
(Passes chave do adversário. Fonte: Instat)
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Treino
Sou da ideia que o Treino deve procurar estimular os
atletas para as situações que estes possam encontrar no jogo. Sabendo que existe
uma imensa variabilidade e imprevisibilidade. É estimular no treino
comportamentos que queremos ver replicados no jogo e aumentar a taxa de sucesso
dos Guarda-Redes nessas mesmas situações. O essencial é dar ferramentas aos
Guarda-Redes para interpretar contextos, decidir corretamente em função da
análise da situação e utilizar a técnica/princípios fundamentais nesse contexto.
Neste caso concreto optei por dar maior ênfase às
situações de 1x1 (passes de rutura), principalmente na capacidade de leitura do
momento do 1x1, nos princípios base do 1x1 e em função da leitura, a capacidade
de executar a técnica correta. De uma forma progressiva, partindo da técnica,
para os momentos e depois para o contexto. Na etapa final (situação mais aproximada
ao jogo), entram outros aspetos fundamentais mais de cariz tático e que
envolvem tomadas de decisão mais complexas, como por exemplo, em que zonas o GR
deve sair, se deve aguentar, se tem defesa, etc.
Jogo
Este é
o produto final do nosso trabalho. A imagem do nosso trabalho. Nem sempre atingimos
o sucesso mas acima de tudo tem de ficar a sensação de que tudo foi feito para
o atingir. Como Treinador de Guarda-Redes a minha principal preocupação é
preparar o Guarda-Redes para resolver de forma eficaz os problemas que lhe vão
aparecer no jogo. Chegando o dia de jogo só temos de estar tranquilos e
confiantes no processo e, acima de tudo, nos nossos Guarda-Redes. Job done.
Este
texto/vídeo não pretende ser a única solução para o problema que é o jogo. Mostra
somente uma forma de trabalhar e de pensar o treino e o jogo. Este é somente um
caminho, uma solução para o jogo.
Ficam
várias questões por aprofundar mas espero pelos vossos comentários e cá
estaremos para os aprofundar.
Juntos somos mais fortes!
Miguel Menezes |
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