Os jogadores nem sempre são o que parecem. Temos
atletas que não cativam à primeira vista porque não tem, no estilo e andar
aquela atitude combativa que os adeptos gostam de ver, mesmo atrás de bolas que
vão sair irremediavelmente pela linha de fundo. Aos poucos, porém, vão
conquistando outra forma de olharem para eles, porque, na essência, eles nunca
mudam.
É curioso ver como os adeptos aplaudem mais depressa o esforço do que o talento. Ou seja, elogiam quem corre mesmo sem conseguir nada, mas não perdoam e assobiam quem tenta e falha uma finta.
É curioso ver como os adeptos aplaudem mais depressa o esforço do que o talento. Ou seja, elogiam quem corre mesmo sem conseguir nada, mas não perdoam e assobiam quem tenta e falha uma finta.
Cada vez mais os jogadores referência numa equipa nascem prioritariamente
do músculo. Só depois entra a técnica, indispensável para construir para além
do lado atlético.
Uma forma de ver como é o físico que manda nestes jogadores (apesar das
suas belas execuções técnicas) é ver como não sabem jogar... Cansados. As partes finais dos jogos são
sempre as que custam mais. Continua a chegar à bola primeiro, mas já não
executam da mesma forma. É a chamada fadiga tática. Quando um jogador acaba o
jogo com maiores dores de cabeça do que de pernas.
Não importa a idade do atleta, pois muitos continuam a fazer correr a bola
quando quase já ninguém se consegue mexer. Basta-lhes dar dois passos e estão no
sítio certo. A este tipo de jogador, nunca lhe dói a cabeça. São
duplos-craques. De nascimento e de mente, no que aprenderam e agora ensinam no
jogo.
No fundo, um grande jogador como qualquer grande inovador na sua área não
foi fabricado. “Tudo aquilo que os inovadores precisam de saber já tinham
aprendido no jardim-infantil: associar, questionar, observar, experimentar”. É
para um jogador de futebol como foi para Steve Jobs, na empresa que mudou o
mundo, reunindo, afinal, aquele conjunto de traços que se assemelham à forma de
agir de crianças de 4/5 anos. É o chamado ADN do inovador.
Para além da questão física, o que
pode ser trabalhado é o lado mental. Tudo isto não passa por um regresso às
bases, como quase sempre acontece para se encontrar uma boa resposta (a certa)
para uma pergunta difícil. No futebol e nos jogadores que nos fazem pensar
entre ser ou parecer é a mesma coisa.
Mas o futebol entrou num terreno frágil e perigoso. O
preço do talento disparou e a maioria dos clubes vive longe de o poder
alcançar. Mas, a cada época, os adeptos continuam a exigir caras novas e assim
sucedem-se os chamados jogadores de consumo rápido. Aparecem e desaparecem à
mesma velocidade. Criam-se falsos e fugazes craques, ou simples jogadores que parecem
mais do que são e que logo a seguir são substituídos por outros igualmente
superficiais. É o que exige o mercado. Mas não é isso que o futebol exige. O
que uma equipa precisa é de quem a perceba.
Uma equipa
pode começar o campeonato deslizando bom futebol. É natural que no seu decorrer
tenha uma quebra. Nenhuma destas situações muda o cenário fundamental que
compõe hoje a matéria de como é feita a sua equipa e jogadores. Mas têm que o
provar jogo a jogo.
O Treinador português tem de ser um especialista em
fazer crescer jogadores.
Ou seja, face
à impossibilidade (devido ao sufoco financeiro) para a maioria desses clubes
comprarem já jogadores de valor adquirido, é necessário ver para além do que os
jogadores parecem valer e conseguir detetar neles possibilidades de
crescimento que outros não conseguem. Depois, trabalhar com eles, entrar-lhes
na cabeça e potenciar ao máximo as suas qualidades ou competências táticas
para o jogo.
Para a maioria dos clubes, a
especialização do treinador a escolher deve ser esta. Claro que, depois, existe
o modelo de jogo, sistema e, a cada jogo, a estratégia, mas a base está lá
atrás: saber fazer crescer jogadores. Até pontos que mais ninguém pensava. E,
em alguns casos, arrisco dizer, nem eles próprios.
Características de um Talento: Dotado a nível de
Passe/recepção, assume o passe curto, médio e longo com qualidade, sendo forte
no drible e na capacidade de manter a posse. Jogador com bom nível da
intensidade de jogo e na execução quando pressionado. É culto taticamente e
tem excelente sentido posicional. Assume o jogo, gosta de ter bola e nunca se
esconde. Oferece constantemente opções para manter a posse e progredir - é
aliás aqui que se destaca sobremaneira, na forma como oferece coberturas
ofensivas ao portador da bola e toma opções seguras. Excelente no trabalho de
equipa... e ainda muito mais coisas... Tudo isto parece perfeito demais?? Sem
dúvida.
Importante é
tentar ver talentos que não tenham demasiadas oscilações (motivação máxima a
jogar contra um grande e não cair num buraco motivacional no jogo seguinte
contra uma equipa mais pequena) mas, no fundo, tudo isto se situa no quadro
geral de potenciar talento. Dotar o grupo sempre de uma espécie de objetivo
extra que transcenda cada simples jogo. Aceitar o futebol como um sentimento e
uma verdadeira identidade...
Bruno Rodrigues |
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