Barcelona e Setién. Setién e
Barcelona. Quem diria, há uns anos, que ambos encontrar-se-iam algures a meio
do caminho? Quem ousaria afirmar que o antigo treinador do Las Palmas iria um
dia chegar a Camp Nou, não fruto dos títulos, mas sim pela qualidade do seu
trabalho, pelos jogadores que por ele passaram e com ele cresceram?
Grande parte da beleza, da magia e da aura deste “casamento” reside
precisamente aí. Quique Setién não é o renomado treinador ganhador, dono de uma
invejável coleção de títulos, com estantes e armários a abarrotar de troféus ou
distinções. Ele é “apenas” um treinador que se preocupa em extrair o melhor dos
seus jogadores, proporcionando-lhes o maior estado de felicidade possível
através do futebol em que acredita. “Apenas e só isso”...
E foi precisamente esse mesmo
futebol que o levou até Camp Nou. Até a um dos maiores clubes do mundo, com uma
das afficións mais exigentes do mundo. Porque em Barcelona não basta vencer.
Não basta somar títulos. É preciso mais, muito mais. E não falo de trabalho,
mas sim de alma, de inspiração, de genialidade, de independência
Quique Setién poderá ser tudo isso e muito mais. Basta ver como jogaram
as suas mais recentes equipas. Basta analisar cuidadosamente quais os
princípios aplicados ao seu modelo de jogo, quer no Las Palmas, quer no Bétis
de Sevilha, por exemplo.
A bola, sempre ela, no centro
das suas atenções. Em 1433, em 1343, em 1352, tanto faz. Fosse qual fosse o
sistema tático apresentado, as ideias estavam lá e os jogadores seguiam-nas.
Com muitas ganas, mas igualmente com muita alegria. Porque a bola estava sempre
lá. No centro do seu jogo.
De tal forma que os seus
jogadores pareceram sempre estar apaixonados pelo que faziam. Pela forma como
se divertiam, pela forma como jogavam olhos nos olhos fosse quem fosse o
adversário, pela forma como ousavam em todas as zonas do campo, é fácil
perceber que os jogadores orientados por Setién estavam apaixonados pelas
ideias do seu treinador. E não há nada mais bonito do que uma equipa apaixonada
por uma ideia de jogo.
Creio que, entre outras coisas,
é também isso que falta a este Barcelona. Ernesto Valverde teve e tem os seus
méritos, mas, a meu ver, para além de nunca ter conseguido disfarçar a sua
incapacidade em criar um modelo de jogo que respeitasse a história do clube
catalão, o agora ex-treinador Blaugrana nunca conseguiu transmitir paixão à
sua equipa. Excepção feita a pequenos e pontuais fogachos exibicionais, o
Barcelona de Valverde pareceu sempre mais amorfo e sem ideias do que
apaixonado e genial.
Com Setién acredito que Messi e
companhia voltarão a desfrutar do jogo. De um jogo mais condizente com as suas
características e com a sua história. De um jogo apoiado, enleante, envolvente,
arrebatador, ao nível daquilo que os catalães estão habituados e ao nível
daquilo que todos os verdadeiros amantes de futebol gostam de ver.
No final muitos irão olhar para
esta sua passagem e contabilizarão apenas os títulos. Eu irei entreter-me a ver
quantos elogios mais, por exemplo, Busquets terá dito ao seu novo treinador. https://maisfutebol.iol.pt/internacional/espanha/busquets-entrega-camisola-com-dedicatoria-ao-treinador-do-betis
Laurindo Filho |
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