O Sport Lisboa
e Benfica de Bruno Lage sofreu no passado fim-de-semana a 2ª derrota para o
campeonato frente ao Futebol Clube Porto, tantas quanto o Treinador obteve na
principal competição nacional desde que assumiu o atual Campeão Nacional.
A realidade perante
este cenário é que o estado de graça do Treinador Bruno Lage perante os adeptos
terá terminado. Terminou por vários motivos, mas o principal trata-se daquilo que
mais carateriza os adeptos encarnados, um futebol positivo com uma vontade
gigante de querer sempre mais, seja em que altura, campo ou competição se
encontrem.
Em vários
momentos encontramos uma equipa apática, lenta de processos e sem ideias
coloridas e práticas dentro de campo. Aliado a isso, como o Técnico assumiu no
último fim-de-semana “Conseguimos esconder os nossos problemas durante um ano,
mas agora estão mais visíveis porque estamos a sofrer golos.”
A realidade é
que salta à vista o que se passa nos grandes jogos que o Benfica enfrentou durante
esta época, mas que também se fez sentir em alguns momentos na época anterior.
Faltam homens de barba rija lá dentro. Faltam os elementos que carregam o piano
pois, uma equipa nunca é nem pode ser somente constituída por artistas. E
contra uma equipa como a do Futebol Clube Porto que impõe uma intensidade fora
do comum no que aos duelos individuais diz respeito foi novamente percetível a dificuldade
na transição para o momento defensivo da equipa encarnada.
Em 63 Jogos
com Bruno Lage ao leme, o Sport Lisboa e Benfica ganhou por 47 vezes, empatou 7
e perdeu 9. Sobre os desaires perdeu 1-3 com o Futebol Clube Porto nas meias finais
da Allianz Cup na temporada passada, por 1-0 na 2ª mão da Taça de Portugal com
o Sporting Clube de Portugal que levou à eliminação na prova. Perdeu por 2-0 no
início desta época com o Futebol Clube do Porto e agora por 3-2, acumulando as
duas primeiras derrotas a nível nacional. Nas Competições Europeias o cenário
agrava-se, com um empate frente ao Galatasaray ainda na Fase Intermédia da Liga
Europa que chegaria para se apurar. Nos Oitavos-de-Final perde 1-0 frente ao Dinamo
de Zagreb em casa dos Croatas, dando a volta na 2ª mão com um esclarecedor 3-0.
Nos Quartos de Final vence o Frankfurt por 4-2 em casa e seria eliminado por
2-0 fora. Sobre esta época nem vale a pena comentar com uma eliminação num
grupo difícil, mas acessível para quem quer estar mais vezes entre os grandes
da Europa, com derrotas frente a Leipzig, Lyon e Zenit e ainda um empate frente
aos alemães fora. No saldo temos então 4 vitórias e 1 derrota frente a um fragilizado
Sporting Clube de Portugal, 1 vitória e 3 derrotas frente ao Futebol Clube
Porto, derrotas frente a Leipzig, Lyon, Zenit, Dinamo Zagreb e Frankfurt e empates
frente a Galatasaray, Leipzig.
Ou seja, apesar
de um saldo positivo frente a Sporting Clube de Braga, pelo meio temos também poucos
pontos perdidos ou jogos empatados frente a equipas de menor dimensão como são
o caso do Famalicão, Vitória FC, Sporting Covilhã, Vitória SC e Belenenses SAD.
Fruto disso também tiveram os adeptos do Benfica algumas exibições que fizeram
relembrar alguns treinadores que outrora também foram criticados.
Nos momentos
decisivos da época anterior valeu-nos em alguns desses jogos frente aos
principais rivais, o miúdo João Félix, que tal como noutros tempos Renato
Sanches, conseguiu a proeza de aparecer, assumir-se e trazer alguma irreverência
que tornasse a ideia de jogo ainda mais difícil de conseguir decifrar. Aliada a
uma boa organização que Bruno Lage trouxe à equipa serviu também a estabilidade
e confiança que consegue introduzir junto dos seus atletas.
Apesar de
tudo, a realidade é que o Sport Lisboa e Benfica deste ano joga ao ritmo de
Pizzi. Ou aliás, não joga em muitos momentos. Vários são os momentos em que a
equipa sente a falta do seu suposto melhor atleta, tal como os números indicam.
Sendo um
atleta de excelência, de fato o Clube Encarnado joga à intensidade que o 21 da Luz
também joga. E as suas caraterísticas reforçam a ideia de alguns problemas que
o atual Campeão Nacional tem, demonstrando dificuldades defensivas na ajuda ao
seu companheiro de lateral, dificuldade na reação à perda de bola e/ou
aproveitamento de bolas paradas e eclipse nos Jogos Grandes, não demonstrando
aquele brilho e inteligência que nos restantes 75% dos jogos demonstra, engrossando
aí as suas estatísticas e jogando à imagem do Sport Lisboa e Benfica desta
época. Diria mesmo que é inacreditável que uma equipa com tanto lance de bola
parada (cantos), desperdice com balões batidos para dentro de área retirados
das zonas privilegiadas dentro da grande área.
Ouvi por estes
dias um apresentador de um daqueles reallity shows desportivos noturnos dizer que,
”o Sport Lisboa e Benfica cá dentro é um tubarão e lá fora é um Carapau” e,
olhando a estatísticas e àquilo que tem sido o recente percurso da equipa fica
bem patente esta realidade. Nunca fez tanto sentido a velha questão de que as equipas
que normalmente perdem menos pontos frente a equipas de menor dimensão
normalmente ganham o Campeonato.
E, muito por
aí, o Benfica enfrenta dificuldades em jogos com maior grau de dificuldade. O
seu melhor jogador e que deveria aparecer nesses momentos claudica e ficam
expostas as dificuldades que tem no momento de transição e no processo
defensivo da sua equipa. Apanhando equipas que fechem os principais pontos ofensivos
da equipa como as entradas em sobreposição de Grimaldo, a criatividade e arranques
de Taarabt ou o espaço que Rafa necessita no último terço do terreno para acelerar
e souber explorar as dificuldades de um meio-campo demasiado macio, uma
transição fraca a sentir falta de um atleta como Florentino que na época
anterior era exímio nessa função de matar linhas de passe e recuperar bolas logo
na zona onde a bola era perdida, ou o espaço que Ferro deixa nas suas costas
graças ao desposicionamento e desconcentração que lhe tem sido constante esta
época e, porque não, também as dificuldades defensivas de Grimaldo.
Por estes dias
disse Carlos Carvalhal sobre Bruno Fernandes “por vezes estes jogadores mais
técnicos não têm capacidade para reagir suficientemente rápido quando perdem a
bola, mas ele tem melhorado muito nisso nas últimas duas temporadas. Quando a
equipa perde a bola, ele reage rapidamente para ganhar a bola. Isso é
fundamental em Inglaterra.”.
Este que era o
melhor jogador do Campeonato Português conseguia manter a equipa do Sporting
Clube de Portugal viva durante vários momentos do jogo e da época, estando em
todo o lado tanto no processo defensivo como no ofensivo, onde conseguia fazer
a diferença. E, nos jogos difíceis, lá estava Bruno Fernandes a dar a cara e a
ir à luta, comandando os seus companheiros na procura de mais uma vitória. E é
isso que faz falta ao Benfica, alguém que lidere e comande nos momentos difíceis,
que tenha barba rija e se bata perante os adversários. Faz falta intensidade e
maior concretização nos duelos. Faz falta a inteligência de Pizzi também no
processo defensivo. Faz falta querer ser um bocadinho maior dentro de campo
pois, fora, como se constata, o Sport Lisboa e Benfica cresceu imenso em variadíssimas
áreas.
Ricardo Carvalho |
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