Começa a ficar complicado
apreciar o futebol português. E a principal causa para este fenómeno são as
prioridades de discussão a que assistimos semanalmente na televisão portuguesa,
bem como os consecutivos comportamentos de minorias, que nunca poderão ser
confundidas com as maiorias, mas que acabam por estragar o Futebol às maiorias.
É uma questão de falta de cultura e de muita imbecilidade.
Com
efeito, o principal tópico de discussão da semana foi o caso Marega, ocorrido
no passado domingo em jogo entre Vitória de Guimarães e Futebol Clube do Porto
onde após vários episódios e cânticos racistas, que aconteceram apesar de
algumas pessoas entenderem o oposto, o referido jogador se recusou a continuar
a defender as cores do seu clube e se retirou da partida, obrigando o seu
treinador a promover alteração forçada na equipa.
Este
artigo serve o propósito de reflexão, para o estado em que se encontra o nosso
futebol português. Cada vez mais é impensável este ser um desporto para as
famílias, onde a segurança impera. Os estádios estão cada vez mais vazios,
contribuindo para isso os péssimos espetáculos e arbitragens, o custo dos
bilhetes e jogos às 21:00h. Mas é possível relacionar os recentes episódios do
futebol português com algo mais?
Não
há muito tempo tivemos o ataque a Alcochete. Imagens de um ensanguentado Bas
Dost correram o mundo como um ataque dos sócios de um clube aos próprios
jogadores que pagavam para ver jogar, cujos golos celebravam, vil e repugnavelmente
classificado como “chato” por quem presidia. O futebol português volta agora a
ser falado no mundo inteiro devido a cânticos racistas e adensam a má imagem do
nosso futebol, visto aos olhos estrangeiros.
Será
que não podemos relacionar estes atos com os programas de televisão que
discutem a futebolice semanal? Não como causa principal ou única, mas
como algo que inconfundivelmente contribui para episódios como este
acontecerem. Estamos a falar de um fenómeno, creio eu, recente, não da
discussão de futebol nas televisões, mas em pessoas que vendem a sua
honestidade intelectual para cuspir um discurso programado e construído com
base no odio ao rival, onde a falta de fair play impera. Onde, até este caso de
Marega, serviu para construir discussões entre F.C.Porto e Benfica, os clubes
que discutirão o título nacional 2019/2020.
Reflexão da qual excluo o canal
11 por razões óbvias da promoção da discussão do futebol por gente que faz ou
fez parte do fenómeno, o que vemos na imagem acima são quase tudo programas em
que três intervenientes, cada um da sua cor clubística, defendem o seu clube,
dos ataques de um dos outros dois intervenientes. Falar sobre o jogo, ou o
jogador, principal talento dentro de campo é nestes contextos algo impensável.
De
facto, tomando o meu futebol predileto como exemplo, o inglês, este cenário
seria impensável. Primeiro porque não há três clubes com mais apoiantes do que
todos os restantes juntos, bem sei. Mas o tempo de antena e a opinião é dada a
quem o pode fazer com qualidade, ex. jogadores, ex. treinadores, ou seja, a
quem de direito. Será a opinião de quem lá andou menos relevante do que
políticos, engenheiros, médicos ou advogados? Estarão estes episódios
relacionados com a propaganda de ódio que estes programas espalham semanalmente
pelas televisões portuguesas? Deixo para reflexão. Já só falta estragarem-me o
futebol…
Pedro Cardoso |
0 Comentários