Existe uma
corrente introduzida num passado recente em Portugal sobre uma filosofia de treino
de Guarda-Redes: O Guarda-Redes de Decisão. Uma metodologia assente no
principio base que o Guarda-Redes antes sequer de executar tecnicamente tem de
conseguir decidir em função do contexto de jogo. Apesar de se terem atingido
extremos quanto ao tipo de trabalho executado nesta metodologia, hoje estamos
num meio-termo entre esse trabalho puramente de decisão e um trabalho mais
segmentado.
É importante
desde já esclarecer que não existe somente uma maneira de se atingir o sucesso
e em determinados patamares de desenvolvimento do Guarda-Redes há certos
aspetos que ganham maior importância. Mesmo assim, devemos olhar sempre para o
Guarda-Redes e o seu treino como uma globalidade, ou seja, dificilmente
conseguiremos isolar e separar a técnica, o físico, o mental e o tático. Estes
momentos relacionam-se e interligam-se.
Um dos aspetos chave é que a decisão nem
sempre implica um contexto técnico-tático. A desculpa que se usa muitas vezes é
que não há espaço para trabalhar contextos de jogo e por isso só posso
trabalhar contextos fechados e analíticos. É mentira. Mesmo os exercícios mais
básicos podem ter muito de tomada de decisão. Claro que essa tomada de decisão
será mais simples mas não deixa de ser uma tomada de decisão. E nós, como
Treinadores de Guarda-Redes, devemos procurar as várias complexidades de
decisão, sendo que a final será sempre a do jogo, onde existe uma envolvência
com espaço, tempo, bola, adversários e colegas de equipa. Ou seja, o emaranhado
de imprevisibilidade que é o jogo.
Com este
artigo pretendo enaltecer a importância desta metodologia de decisão e de como
nós Treinadores de Guarda-Redes (desde a forma mais simples à mais complexa) a podemos
aplicar em treino através de princípios.
Partindo do mais simples:
- A bola sai poucas vezes em volei para a mão do Guarda-Redes. É um bom aquecimento mas se queremos provocar variabilidade a bola a sair do chão é muito mais aberta;
- Já pensaram
em quantas vezes colocamos a bola corrida em treino? A bola no jogo está a
correr. Na progressão do exercício podemos começar com bola parada mas a bola a
correr implica muito mais ajustes corporais e posicionais;
- A bola pode
e deve ser chutada de todas as maneiras, principalmente quanto esses contextos
podem vir a ter esse tipo de remate: do chão, a saltar, em volei, de pé
direito, de pé esquerdo (entre outros);
- Quantas
vezes dizemos ao Guarda-Redes para onde vai sair a bola? Eu diria em demasia.
Lá está, sempre numa lógica de progressão de complexidade. Se calhar começo por
definir que vai sair para “a direita e rasteira”. Depois “já só vai para a
direita”, ou seja tanto pode ir rasteira, meia altura ou como calhar. E depois
tanto “pode ir para um lado como para o outro”;
- Guarda-Redes
não consegue agarrar? Atenção que a segunda bola está viva;
Seguindo
para os mais complexos:
- Contextos
com imprevisibilidade de situações, ou seja, tanto sai cruzamento, como remate,
passe de rutura, etc.;
- Partir de
contextos de jogo, aumentando a complexidade da decisão técnico-táctica.
Abrindo progressivamente o leque de opções criadas;
- Usar
“defesas” em treino, porque a bola pode desviar neles e principalmente porque
em jogo existe coordenação defensiva (comunicação) mas também são estes que
influenciam o nosso posicionamento e tomada de decisão (sair x ficar, por
exemplo);
Estes
são somente alguns princípios base que costumo utilizar quando planeio o
treino. Deixem-me as vossas opiniões e outros princípios que possam ajudar na
construção e planeamento de uma sessão mais rica em decisões.
Juntos somos mais fortes,
Miguel Menezes |
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