No tempo de Guardiola, no Nou Camp, a equipa entrava em campo ao som dos Coldplay, “Viva la vida”. Em Madrid, no Bernabeú, tocava música clássica, o lado mais oponente da realeza merengue. A música que ouve também diz muito de como uma equipa encara o jogo.
O futebol é hoje uma babilónia de identidades de jogo
mais do que, como antes, um confronto de estilos entre o jogo tradicional de
cada país. Agora, com a invasão de estrangeiros, são os treinadores e suas
ideias, a marcar cada estilo.
Para além da
identidade que cada um incute na equipa, existe o lado estratégico que cada
jogo pede em função do adversário. Assim se pode subverter a permanente lógica
do mais forte.
O único resistente anglo-saxónico, o Bayer Munique é
uma equipa que vive acima desses subprincípios tácticos no pedestal da sua filosofia.
O sucesso do At. Madrid de Simeone a este nível é o
melhor exemplo da união identidade-estratégica alicerçada numa forma de jogar.
Pela forma como enjaula do adversário, ora pressionando alto, ora ao perceber
que não o vai conseguir travar nesses territórios adiantados, recua e fecha-se
numa caverna junto à sua área.
As equipas têm sempre uma identidade, seja qual for.
Muitas vezes, porém, tal passa, muito rapidamente, de controlar o jogo para
controlar o... resultado. Ao não se aperceber dessa linha tão ténue que separa
realidades tão diferentes é quando a estratégia se perde como plano pensado e a
equipa, em campo, passa apenas a resistir.
A
primeira fase desenhou os primeiros heróis e vilões.
Mas
nem tudo são fintas, defesas desequilibradas e golos. Também há quem veja o
jogo, do banco, com o quadro táctico sempre presente.
Estrutura
bem as equipas e dá-lhes identidade. Uma equipa sem estrelas é uma equipa que
“vê-se ao que quer jogar”. Isso é fundamental para ter o mais importante numa
equipa dita de nível médio: organização e personalidade.
Ter uma “bela ideia de futebol”. "Caminhar pelo jogo", tem a vantagem de garantir sempre a organização atrás da linha da bola. Um sintoma de que joga... pensando! Melhor sinal não poderia haver.
Sabendo
que os jogadores não são máquinas, precisam ser ensinados a pensar o jogo. Para
isso, precisamos perceber como funciona o cérebro humano e como o podemos trabalharde
forma a ensinar o jogador. Há pessoas mais capazes de aprender do que outras.
Há pessoas que se desenvolvem mais rapidamente e são mais inteligentes que
outras. Muitas vezes até há problemas por trás, como stress, medo, ansiedade,
dúvida, nervosismo e outras emoções que impedem que determinado jogador aprenda
mais. Com o tempo, o treinador precisa de perceber essas características e
treinar conforme os jogadores são capazes de aprender. Quando participamos em
grandes campeonatos, com jogadores inteligentíssimos e super motivados, essa
tarefa é mais fácil. Já em clubes amadores, quando muitos não têm a mínima
noção do que são momentos de jogo ou princípios, que não entendem que a técnica
é apenas uma ferramenta do portador da bola, seja para a segurar ou passar a
outro jogador, quando isso tudo são hábitos já enraizados nos jogadores desde
que são crianças, tudo isso se torna mais difícil.
Não
acredito que uma equipa não possa ter sucesso sem criatividade nem organização.
A criação de várias linhas de passe por exemplo, oferece mais opções ao
portador da bola. Isso é organização. E o portador terá que escolher uma delas
escolhendo preferencialmente a que dá mais oportunidades de criar situações de
finalização em primeiro lugar, e a que permite manter a posse de bola como
segunda escolha. Isso é criatividade. E como podemos criar esses hábitos nos
jogadores? Criando situações onde estes precisem pensar o jogo, onde sejam
forçados a tomar decisões.
São
algumas das ideias que eu acredito para o jogo. Aquela coisa de jogar
mecanizado, como bola no médio, bola no lateral, tabela e cruza, para mim é
algo que não faz sentido, principalmente se for para repetir durante um jogo
inteiro. É importante criar algumas rotinas, mas também criar algo que diga
respeito à relação com a bola e com o espaço.
Se
a nossa equipa está a defender, então precisamos fechar o caminho da baliza e
depois recuperar a posse de bola. Acredito que as linhas devem estar próximas,
como forma de garantir coberturas defensivas para que se possa proceder à
tentativa de desarme sem abrir o caminho para a baliza. Haverá necessidade de
um defesa se submeter ao desarme do portador e abrir um espaço em frente à
baliza?
Quando
a nossa equipa está a atacar, como já escrevi, não há necessidade de ser
previsível a repetir sempre a mesma jogada estudada, quando o jogo nem sempre
pede essa opção para atacar. Se não dá para ir por um caminho, vamos por outro.
Atacar ferozmente e entregar sempre a bola ao adversário, não quer dizer que
seja golo, mas o desgaste é garantido! E com desgaste e sem bola é mais fácil
para o adversário fazer golo. Se não dá para criar, apenas se mantém a posse de
bola e procura-se outro caminho para chegar ao golo. Ou se a equipa está
demasiado cansada e precisa repousar, então que mantenha a bola no pé, que
descanse um pouco, recupere o fôlego e ataca de seguida. Se os jogadores estão
cansados, como podem ser rápidos a atacar e como podem ser rápidos a recuperar
para defender se perderem a posse?
Sem
organização num conjunto não há qualidade. Mas essa organização precisa
proteger dos riscos que há em atacar o adversário, como perder a bola e sofrer
contra-ataque. Como tal, ao criar essa organização, acredito que o esforço mais
importante não é o físico, em correr durante 90 minutos, mas o psicológico, em
ter as melhores decisões, em procurar fechar os espaços, em fazer a leitura do
jogo, em procurar soluções. O desgaste não é apenas físico, mas também
psicológico. Se eu não for capaz de recuperar a bola, não posso fazer golos. Se
tenho a bola mas não sei atacar, então posso perder a bola facilmente e perder
o domínio do jogo.
Todas
estes fatores entre muitos outros formam um Equipa. Precisamos destes
"pequenos" pormenores para lhe chamarmos... Equipa.
Para
perceber isto, vamos supor um carro como exemplo. Um carro tem rodas, tem
volante, tem a embraiagem, tem o motor e outros componentes. Todos eles, formam
um carro. Mas, se lhe tirarmos uma roda, o carro simplesmente não anda. Se lhe
tirarmos o motor, só vai de empurrão mesmo. Sem o volante, pode até andar, mas
vai sem direção. Sem a embraiagem, então nem arranca mesmo. Cada um dos
componentes do carro pode até parecer insignificante quando isolado dos
restantes, mas no que diz respeito ao todo (o carro), se retirarmos um deles,
seja qual for, o carro fica incompleto o suficiente para não sair da garagem. O
carro é, portanto, um conjunto onde a soma das partes é maior que o todo, onde
não só importa quais são os componentes que fazem parte desse conjunto, como a
forma como eles se relacionam para que todo o conjunto funcione. Não é uma
questão de marca, mas sim uma questão de funcionamento, de identidade... de ser
ou não uma Equipa.
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