"Cada vez penso mais e corro menos", autor desta frase, Carles Puyol. O seu conteúdo leva-nos a refletir sobre a inteligência do jogo. Dominar e controlar os espaços mais importantes do terreno de jogo de uma forma inteligente é sintoma de uma equipa evoluída.
Puyol, refere que "agora preocupam-se mais com o espaço do que com a bola". A noção de controlo e domínio dos espaços é fundamental para um jogador e para uma equipa inteligente. No entanto, existem espaços mais "críticos" do que outros. O espaço destinado aos defesas centrais é fulcral na organização de uma equipa. Quando estão a defender, as equipas revelam preocupações em fechar o corredor central, sendo os defesas centrais aqueles que devem guardar os espaços que estão imediatamente à frente da sua baliza. Começo por referir, guardar espaços, porque para mim é uma característica importantíssima para definir um bom defesa central. Existem defesas centrais que são apelidados pelos adeptos de autênticos "guerreiros", que "vão a todas", que não largam os avançados...
Entendo este ponto de vista, mas não é o meu. Muito mais importante do que perseguir o adversário e fazer carrinhos nas laterais, é o defesa central saber guardar o seu espaço e não permitir que qualquer adversário (não só os Avançados) possam entrar nessa zona para fazer golo. O mais óbvio dos pontos estratégicos será o arrastar os defesas centrais para fora do seu espaço, de forma a que outros jogadores possam entrar por esse canal. Então os defesas centrais nunca "abandonam" o seu espaço?? Podem fazê-lo, mas segundo a minha perspetiva apenas com duas possibilidades: terem a certeza de que vão "encostar" num adversário que estava prestes a receber a bola num espaço importante e que poderia colocar em perigo a equipa se a bola fosse rececionada (se mesmo assim este ganhar a bola, devemos forçá-lo a jogar para fora deste espaço); terem a certeza absoluta de que o espaço abandonado vai ter uma eficiente cobertura.
O futebol evoluiu, antes não existia uma forma de jogar à zona. Um defesa central marcava o avançado e o outro jogava nas dobras. As equipas começaram -se a organizar com os defesas centrais a jogar cada um na sua zona. Com o passar dos anos, o jogo evoluiu para defesa "zona pressionante". Uma forma de jogar implica jogar em rede, todos dependem de todos, defendendo espaços em coordenação coletiva!
Para esta posição procuro sempre ter jogadores que para além de reunirem um conjunto de caraterísticas individuais necessárias, saibam jogar em coordenação com a equipa no seu todo, com a linha defensiva no seu conjunto (incluindo o Guarda Redes), mais pormenorizadamente com o seu parceiro do eixo central (quase com uma união que se assemelha a um casamento), também de forma muito próxima com o defesa lateral do seu lado, assim como assegurar as distancias para os jogadores do meio campo.
Existe uma característica que para mim é top... a capacidade de antecipação. Para mim esta caraterísticas está intimamente ligada com a inteligência do jogador. A forma como antecipa o que vai acontecer no jogo em cada instante realiza-se em eficiência defensiva e... Ofensiva! A forma de dar sequência ao jogo após cortar a bola influencia de uma forma construtiva a sua fluidez e velocidade de jogo.
O facto de estar numa linha recuada deve também ser aproveitado para darem feedbacks importantes aos seus colegas de forma a estarem em equilíbrio defensivo permanente. Estes equilíbrios são extremamente dinâmicos e requerem concentração e comunicação.
Jogar com "agressividade" e serem fortes nos equilíbrios, tentando sempre jogar em antecipação para rapidamente ficar em posse de bola e evitar que tenham que defender perto da sua área.
Ao contrário do modelo habitual, onde os defesas trocam a bola horizontalmente entre si até que o adversário abre um espaço, o princípio do homem livre dá simultaneamente uma verticalidade e uma capacidade de forçar o erro que de outra forma não existe na primeira fase de construção. A propósito de passes verticais e horizontais, mais uma vez a opinião de Cruyff é elucidativa e interessante:
“A horizontal pass? Prohibited. In my line-up there are as many lines as possible. Because you must have the option to pass the ball forward, even if it’s a meter. Because then I can still make up for the loss of possession. After a horizontal pass this is impossible. If it goes wrong you lose two players.”
De forma prática, numa situação em que a equipa adversária joga com um avançado apenas (o mais habitual), o central que recebe a bola do guarda-redes atrai o ponta de lança e joga no outro central que, por sua vez, imita o processo até que saia um médio na contenção e, assim, a estrutura contrária se desequilibre. Se o adversário jogar com dois avançados, o “6” é o elemento que cria a superioridade e ajuda na primeira fase de construção. Este é um princípio simples, mas que nem por isso é utilizado por muitas equipas. Quantas vezes viu a sua equipa trocar a bola entre centrais e laterais e laterais e centrais e centrais e centrais infinitamente até que um deles recorre ao "chutão" para a frente? O necessário para que o princípio do homem livre funcione é ter centrais com boa capacidade de decisão, entendimento do jogo e técnica que lhes permita receber, fixar, progredir e soltar de forma segura e laterais que subam no terreno de forma a não trazer mais adversários para dificultar esta primeira fase de construção e consigam dar largura ao jogo para tornar o campo maior e o corredor central mais despovoado.
Se os centrais forem capazes de assegurar a primeira fase de construção, o “6” não deve descer tanto. No fundo, quem quer atacar bem, tem de ter elementos atrás que saibam atacar bem. É tão simples quanto isto. Quem não os tem, corre sempre o risco de começar a jogada com um passe efetuado em condições adversas, "chutões" para a frente que tornam aleatório o rumo da jogada ou, pior, perdas de bola em zona proibida.
Bruno Rodrigues |
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