“Ninguém vale pelo que
sabe, mas vale pelo que ganha “… Faz uns tempos que ouvi essa frase num
programa televisivo e parei para refletir o quanto, futebolisticamente, isso é verdade
… Dei por mim a pensar em casos de treinadores que não ganhando jogos têm um
conhecimento enorme. Outros treinadores há, que não ganhando jogo nenhum, em
alguns contextos, mudaram de clubes e depois atingem o sucesso ou vice-versa… Fica
a questão se esses treinadores ganharam ou perderam conhecimento do “dia para a
noite”!
Qual o peso da vitória e
derrota na avaliação atribuída à qualidade dos treinadores?
Na minha opinião, a forma
economicista como vivemos atualmente leva-nos a pensar que o que mais pesar nas
avaliações são os cifrões, é o que dá lucro e leva-nos a apostar
mais no útil no que no belo e isso tem consequências na avaliação/escolha do
treinador e também na própria estética do jogo de futebol.
A realidade do futebol
atual é indicar qualidades aos treinadores apenas quando eles ganham pois é
esse fator que para as pessoas e para os adeptos da modalidade é sinonimo de
conhecimento desportivo e competência. Muitas vezes é esquecido como se ganhou,
pois, falamos mais no resultado no que no jogo! Existem jogos que ficam
0-0 e são excelentes jogos e jogos de 2-0 que infelizmente não valem sequer o preço
do bilhete. Devemos falar mais vezes da forma como obtemos os resultados e não
apenas do resultado em si. Na minha opinião devemos observar se o jogo teve
qualidade, pois o resultado na maioria das vezes será uma consequência dessa
qualidade, ou falta dela.
Já os treinadores ligados
a projetos não ganhadores normalmente são associados a “incompetentes”, “sem
conhecimento”, etc… ainda que esses mesmos treinadores possam estar a fazer um excelente
trabalho para a realidade em que estão inseridos e alguns tenham tido um
excelente percurso nas épocas anteriores (às vezes na própria equipa onde
estão).
Na minha opinião tem de existir
mais equilíbrio quando avaliamos a qualidade de um treinador pois existem algumas
notas importantes que devemos refletir:
1- A teoria não transforma, o que
transforma é a prática, ou seja, qualquer treinador tem de provar o
conhecimento, pois a teoria sem prática vale pouco;
2- O treinador “ganhador” pode não
querer dizer que tenha mais conhecimento, pode estar apenas em contextos de
alto sucesso devido ao valor individual dos atletas que tem à sua disposição;
3- O treinador não ter sucesso
desportivo não quer dizer que seja incompetente, há que analisar o contexto e o
projeto desportivo onde está associado.
4- Todos os treinadores do mundo têm
pontos fortes e pontos fracos, cabe-lhes identificar e ter junto deles pessoas
no staff que os ajudem a colmatar esses pontos.
5- Ganhar, perder ou empatar são os 3
resultados do jogo, mas o que deve ser também valorizado é o que passa durante
os 90 minutos e não apenas o resultado final.
Em jeito de conclusão
termino com uma reflexão do Prof. Manuel Sérgio: “a prática é mais importante
do que a teoria e a teoria só têm valor, se for a teoria de uma determinada
prática. É porque é mediada pela prática que a teoria pode transformar. No
entanto, a teoria surge como componente essencial e decisiva da nossa
destinação individual, social e histórica. Sem ela, não conhecemos, nem
conhecemos o conhecimento…”
Em suma, diria eu, que ninguém
vale pelo que sabe, mas vale muito pelo que faz com aquilo que se sabe!
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