O talento de um jogador é inato em termos de habilidade, mas a sua expressão, em termos de qualidade futebolística, tem sempre a ver com a inteligência e conhecimento do jogo. Não basta saber fintar ou fazer o que quer da bola. Por isso, muitos jogadores a quem não detetávamos algo que o destacasse dos demais, foram depois, numa análise global, considerados grandes craques. Podem não ter esse traço mágico que salta logo à vista, mas, em campo, fazem quase tudo bem porque sabem sempre o que fazer. Têm, claro, técnica, mas era sobretudo inteligência a jogar (mover-se, passar ou segurar, acelerar ou parar).
Esse talento não vem dos pés, vem
da cabeça, um dom. Sai pelos lugares inesperados como se fosse a saída mais
natural para cada jogada... Não é coisa que o treinador ensine. É algo que ele
faz... sentindo o jogo.
Definir futebol defensivo com
facilidade não é uma tarefa simples. É um conceito demasiado abstrato. Consigo,
porém, distinguir uma opção defensiva. É uma atitude concreta. Mais do que uma
estratégia, um princípio de jogo específico de uma equipa. Ou, noutro plano, de
um jogador dentro dessa estratégia. Só que o futebol tem muitas saídas e é
quase sempre irónico neste tipo de situações.
Ter grandes craques pode ser a saída individual, em jogadas, para um problema coletivo, de jogo. Nesse ponto, a questão começa na saída de bola desde trás. O passe longo, logo dos centrais passa a ser uma opção no modelo de jogo (e não só estratégica). Começa mesmo a impor-se ao toque apoiado na hora de construir porque a equipa, ansiosa e perante a dificuldade em avançar, sente que quanto mais depressa meter a bola nos pés daquele trio da frente mais depressa poderá resolver o problema (ou iludi-lo através das individualidades).
É natural que as grandes ideologias
no futebol tenham o seu ciclo. Nenhuma é eterna, mas todas deixam referências
para, a partir daí, se reconstruírem sucessivamente os novos tempos.
Mas o futebol entrou num terreno
frágil e perigoso. O preço do talento disparou e a maioria dos clubes vive
longe de o poder alcançar. Mas, a cada época, os adeptos continuam a exigir
caras novas e assim sucedem-se os chamados jogadores de consumo rápido. Aparecem
e desaparecem à mesma velocidade. Criam-se falsos e fugazes craques, ou simples
jogadores que parecem mais do que são, que logo a seguir são substituídos por
outros igualmente superficiais. É o que exige o mercado. Mas não é isso que o
futebol exige. O que uma equipa precisa é de quem a perceba.
Uma equipa pode começar o
campeonato deslizando bom futebol. É natural que no seu decorrer tenha uma
quebra. Nenhuma destas situações muda o cenário fundamental que compõe hoje a
matéria de como é feita a sua equipa e jogadores. Mas têm que o provar jogo a
jogo.
O Treinador português tem de ser um
especialista em fazer crescer jogadores. Ou seja, face à impossibilidade
(devido ao sufoco financeiro) para a maioria desses clubes comprarem já
jogadores de valor adquirido, é necessário ver para além do que os jogadores
parecem valer e conseguir detetar neles possibilidades de crescimento que
outros não conseguem. Depois, trabalhando com eles, entrar-lhes na cabeça e
potenciar ao máximo as suas qualidades ou competências táticas para o
jogo.
Para a maioria dos clubes, a
especialização do treinador a escolher deve ser esta. Claro que, depois, existe
o modelo de jogo, sistema e, a cada jogo, a estratégia, mas a base está lá
atrás: saber fazer crescer jogadores. Até pontos que mais ninguém pensava. E,
em alguns casos, arrisco dizer, nem eles próprios.
Características de um Talento:
Dotado a nível de Passe/receção, assume o passe curto, médio e longo com
qualidade, sendo forte no drible e na capacidade de manter a posse. Jogador com
bom nível da intensidade de jogo e na execução quando pressionado. É culto tacitamente
e tem excelente sentido posicional. Assume o jogo, gosta de ter bola e nunca se
esconde. Oferece constantemente opções para manter a posse e progredir - é
aliás aqui que se destaca sobremaneira, na forma como oferece coberturas
ofensivas ao portador da bola e toma opções seguras. Excelente no trabalho de
equipa... e ainda muito mais coisas...tudo isto parece perfeito demais??
Importante é tentar ver talentos
que não tenham demasiadas oscilações (motivação máxima a jogar contra um grande
e não cair num buraco motivacional no jogo seguinte contra uma equipa mais
pequena) mas, no fundo, tudo isto se situa no quadro geral de potenciar
talento. Dotar o grupo sempre de uma espécie de objetivo extra que transcenda
cada simples jogo. Aceitar o futebol como um sentimento e uma identidade...
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