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Análise do Jogo – Interpretação do Processo Ofensivo entre Real Madrid, Barcelona e Atlético Madrid


A nova escola de formação de treinadores cria uma tendência da aceitação de métodos ofensivos que privilegiem a manutenção da posse de bola. Na procura de entender o fenómeno do jogo muitas perguntas surgem sobre qual a melhor maneira de encará-lo. Qual é o “melhor” método? Não me atrevo a responder a essa pergunta, dava pano para mangas. Aqui tento “apenas” interpretar dados e contribuir para a reflexão de todos os interessados em Futebol.

Faço-o como?

Olho (analiso) para o objetivo máximo do futebol (golo) por ser algo popular e agradável para todos os amantes (com a limitação de representar apenas 1% do jogo).

Estudei então as três equipas mais mediáticas da La Liga - Real, Barcelona e Atlético*. Há determinantes comuns no sucesso (relativo) das suas ações ofensivas que terminaram em golo?

*Porquê estas equipas? Estas equipas representam ainda, de um modo popular, três modos distintos de encarar o jogo na dimensão técnico-tática, física e estratégica.

 

Amostra

Analisei sistemicamente todas as ações ofensivas finalizadas com golo por parte dessas três equipas. 30 jogos observados (2700minutos na La Liga) com um total de 128 posses de bola de finalização com golo (total efetivo de posse de 33 minutos e 56 segundos).

 

Procedimento

As variáveis escolhidas foram:

- Tempo posse bola (considerada posse quando um jogador teve o controlo suficiente da bola por qualquer meio que não a bola ter vindo de um colega, de modo a deliberadamente influenciar a direção da bola);

- Nº de jogadores intervenientes (jogadores que contactaram com a bola desde do início da posse de bola até ao momento que esta entrou na baliza);

- Nº de passes (contabilizado sempre que é efetuado, mesmo que sofra um desvio do defesa e mesmo que seja intercetado, mas não corresponder às condições de perda da posse adotadas);

- Método Ofensivo (ataque posicional, ataque rápido ou contra-ataque);

- Resultado (resultado momentâneo aquando marcação do golo);

- Período (1ª ou 2ª parte);

- Local (jogo na condição de visitado (casa) ou visitante (fora).

 

Tratamento estatístico (resumido e objetivo)

Real Madrid

53 Golos observados




Referir que de todas as ações ofensivas c/ golo observadas apenas uma (1,89%) teve a participação do guarda-redes e terminou em golo sem existir interrupção da posse.

Barcelona

44 Golos observados




De todas as ações ofensivas observadas o Barcelona foi aquele que dos três teve um número maior de ações (20,45%) que tiveram participação do guarda-redes e que terminaram em golo sem existir a interrupção da posse (n=9).

Atlético

31 golos observados



Tal como o Real, apenas apresenta uma ação finalizada em golo onde houve participação do guarda-redes sem interrupção da posse.

 

Discussão e Conclusões?

Deixo a discussão/interpretação dos dados obtidos para os leitores. O que fazer perante esta informação de um modo transversal? Como a usamos para a nossa reflexão sobre o fenómeno do jogo?


Sugestão Prática

Real Madrid

Plano Estratégico

  Evitar risco na 1ª fase construção (fazem muitos golos a recuperar bola no meio-campo ofensivo);

Jogo mais vertical para ter a bola mais longe da nossa baliza e com bloco compacto (largo mas curto);

Bloco médio-baixo;

  Recorrer à falta para baixar o ritmo do jogo.

 

Plano Metodológico (sugestão microciclo):

Métodos de treino a procurar superioridade defensiva nos corredores laterais de modo a rejeitar duelos de um contra um (meta especializados oferecem esse tipo de manipulação);

Procurar exercícios de competição que penalizem a equipa que sofre um golo através de uma situação de transição rápida (método preferido do Real é o contra-ataque);

Exercícios setoriais que promovam equipa curta.


Barcelona

Plano Estratégico:

Bloco alto e pressionante num primeiro momento. Recuperar posições/coberturas se baterem a nossa pressão;

Alternar momentos de bloco baixo para gerir pressão/momento/resultado;

Aumentar o ritmo no momento ofensivo de modo a tentar quebrar a organização coletiva adversária (“baralhar” as coisas).

 

Plano Metodológico (sugestão microciclo):

Criar condições em que fica evidenciado a importância de ganhar a bola no meio-campo ofensivo (com inferioridade defensiva nesse setor);

penalizar golos sofrido em que houve uma fraca ocupação dos espaços centrais.

 

Atlético Madrid

Plano Estratégico

Baixar o ritmo de jogo;

Bloco médio-baixo;

Pressão sobre linha média de modo a que os defesas do Atlético sejam os jogadores c/ mais momentos de posse;

Motivação para nivelar espírito de empenho e compromisso.

 

Plano Metodológico (sugestão microciclo)

Contextos de stress psicológico e disputa;

Espaços curtos e desfavoráveis;

Promover permutas e coberturas.



NUNO DUARTE 

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