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Treinador de Guarda-Redes: o Dia de Jogo


Como treinadores a principal forma de intervenção direta com os atletas é o treino. O treino tem como principal objetivo preparar os atletas a todos os níveis para o momento mais importante do microciclo: o jogo. Como treinadores de guarda-redes (TGR) somos parte de um processo integrado numa ideia de jogo e numa equipa técnica, ou seja, o nosso papel não se circunscrita somente ao Guarda-Redes (GR), mas também às interações do mesmo com os vários momentos de jogo e com a equipa.

Vasta parte do trabalho de treinador é realizado à semana. Não descurando essa parte fundamental do que é a preparação (o treino e tudo o que o envolve) quero somente focar o dia de jogo. De seguida irei descrever tarefas e momentos específicos que os TGRs têm a seu encargo e algumas ideias/sugestões para os mesmos.

Reunião

Sempre que possível gosto de rever no dia os penaltis, os livres diretos e a pressão do adversário. Importante referir que esses vídeos os GRs têm acesso de antemão com toda a informação. Este é o primeiro contacto do dia. Nestes momentos gosto de num ambiente positivo discutir estratégias para os principais batedores de penaltis, rever detalhes da pressão (voltar a falar nas possíveis soluções do nosso jogar e até falar concretamente sobre o que foi trabalhado) e transmitir objetivos para esse jogo. Por fim, passar uma mensagem positiva, encorajadora e confiante (apelar mais às emoções). De referir que este momento é realizado sempre que possível com todos os GRs. Incutir um espirito de grupo forte e coeso. Todos têm de estar prontos para a ação!

Momentos de equipa

No dia de jogo para além da palestra de jogo existem outros momentos em que o Treinador Principal possa querer mostrar os últimos pormenores do adversário e até mesmo rever a estratégia para os vários momentos de jogo. Para além desses momentos existem refeições de equipa e tempos de descanso/lazer. Pessoalmente gosto de dar máxima liberdade após a reunião sabendo que os GRs só me voltam a ver e ouvir perto da hora do aquecimento de jogo. Há atletas que gostam de rever os vídeos, que têm as suas rotinas e rituais, ouvir as suas músicas, etc.



Palestra e aquecimento de jogo

Após a chegada ao campo existe toda uma rotina. E isto é muito importante: rotinas. As horas são sempre aproximadamente as mesmas assim como o aquecimento de jogo (adaptado a cada GR e às condições atmosféricas). Cerca de 2 minutos antes da hora de entrada para aquecimento e já após a palestra final do Treinador Principal, reunimos de uma forma breve, e posso ou não dar algum detalhe relativamente ao onze que vai jogar. Na partida para o aquecimento de jogo gosto que entremos todos juntos, sempre com os protagonistas na frente (se possível levar os três Guarda-Redes). A partir deste momento entramos em automatismo e rotinas. Não há que pensar muito no que é para fazer. O hábito já está enraizado. Cada um sabe o que tem de fazer. Este é um momento importante para estar perto do GR em alguns momentos (passar confiança e algum detalhe relativamente às condições atmosféricas ou do relvado). De uma forma tranquila tento sempre entrar de uma forma mais leve e descontraída (retirar pressão e nervosismo) e à medida que o aquecimento vai decorrendo aumentar o foco e a emoção (importante também nas mudanças de tom de voz, mas sempre com um foco positivo e motivador). Pessoalmente gosto sempre de acabar o aquecimento com uma nota positiva: bola a ficar na mão do GR, nem que seja numa tarefa extremamente simples. Cumprimento final e siga para dentro.

Jogo

Antes mesmo de entrar em campo existem todos os rituais de cada equipa (grito, roda, o que seja). A última coisa a fazer antes de ir para campo é cumprimentar por fim o GR. Agora é com eles. Durante o jogo a tarefa de qualquer Treinador Adjunto é assistir o Treinador Principal e ajudar a equipa. Analisar o jogo, acrescentar ideias que ajudem ao que é a nossa maneira de jogar, a estratégia que foi planeada e ao que o jogo está a pedir. A organização e divisão de tarefas é importante. Como TGR é fundamental a nossa atenção ser focada nos seguintes momentos pela interação que existe mais direta com a restante equipa: bolas paradas defensivas; momentos defensivos de último 1/3; 1ª fase de construção.

Durante a partida não há tempo para grandes correções ao GR. O principal foco, para além do descrito anteriormente, é passar alguma dica que possa ajudar o GR, quer seja na leitura da pressão, na bola parada ou noutro momento. Existe uma linha direta. Nem que seja o olhar. Por isso gosto sempre de manter uma postura calma e confiante. Ser assertivo na comunicação ajuda. 



Intervalo

Rapidamente ir logo de encontro ao GR. Maior parte das vezes não é preciso dizer nada, eles é que nos vão abordar sobre os problemas e dificuldades que estão a sentir. É um momento de acalmar, tranquilizar e ouvir. O trajeto campo balneário é feito lado a lado. Palestra do Treinador Principal e na ida para o campo gosto de reforçar um ou dois aspetos importantes para o que resta do jogo. Voltar a sentir bola na mão e no pé, mudanças de direção e GR pronto para voltar à ação. Este é um momento importante para voltar a focar. Há atletas que têm dificuldade a retornar no pós intervalo. A qualquer momento o GR tem de estar pronto para a ação, isso requer máxima concentração. Só uma nota neste tema: a maior parte do desgaste do GR em jogo não é físico, mas sim mental.

Pós jogo

Não interessa o resultado nem a performance do GR. Acaba o jogo e vou de encontro ao GR, para um cumprimento. Muitas vezes a energia está em alta, pode haver frustração ou até tristeza. Abordar rapidamente com uma energia positiva estes sentimentos é crucial. Não é o momento ideal para falar de lances específicos. Para isso serve o vídeo após os ânimos esfriarem. Eu gosto de tranquilizar o GR. Mostrar que estamos lado a lado. E como esta posição é bonita, muitas vezes, pela relação que se cria, o colega de posição tem exatamente a mesma postura: ir ter com o colega e cumprimenta-lo. Há algo único nesta posição, certo?!

O dia seguinte

Após o jogo é tempo de recuperar. Se possível após folga, voltamos a encontrar-nos, reunir e analisar o jogo em conjunto. De cabeça fria e com um único foco: o desenvolvimento de atletas e GRs mais capazes de ajudar a equipa.

Passo a bola a vocês leitores, quer sejam GRs ou TGRs, quais são as vossas rotinas? Que gostam de fazer no dia de jogo? Deixem as vossas opiniões.



MIGUEL MENEZES

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