A partir da compreensão de que só é possível extrair e disponibilizar o potencial de um atleta havendo um relacionamento primeiramente humano e social, antes de profissional, tácito ou estratégico, o líder vive de todos os compromissos emocionais que assume com ele próprio e com os seus liderados. A base da sua liderança configura-se, na minha opinião, através do seu empenho e eficiência em facilitar o desenvolvimento dos seus atletas, de forma que eles sintam que o seu desempenho e evolução é efetivo.
Do ponto de vista do líder e da sua
forma de pensar, agir e comunicar, ele tem uma clara perceção de que liderar
com alma é o melhor caminho, e de que é preciso ter liderados que façam parte
da organização, grupo ou equipa, não porque querem isso, ou precisem ou gostem
disso, mas porque acreditam no que o líder acredita. Obviamente acreditar no
mesmo implica gostar disso e ter um sentimento de pertença em relação a isso.
Um líder que lidera com alma é decisivo no grupo do qual faz parte porque lhe
molda a cultura, lhe confere a visão, solidifica as relações emocionais entre
os membros, produz o ambiente desafiador – a ambição que faz membros funcionar
nos limites ou até ultrapassá-los.
A vontade de mudar a história, o
rumo dos acontecimentos, de forma brutal – de se tornar imortal – é o
combustível para a vida de um líder com alma.
“Mas eu sou apenas um treinador
vulgar de uma equipa de miúdos…”. E daí? Qual é o problema? Na minha perspetiva
não existe problema nenhum e só nos traz ganhos este tipo de aprendizagem.
Porque não aprender com os melhores, perceber o que eles fazem, adaptar a nós e
experimentar em nós, parar, observar e refletir acerca dessas práticas? Ser um
líder não é ser Deus. Não é algo inatingível. Algumas características são
inatas e alguns já nascem com elas, outros têm de trabalhar e esforçar-se um
pouco mais. Outras características são desenvolvidas, a partir do
autoconhecimento. Mourinho sabe disso. Guardiola, idem. Phil Jackson sabia
disso. Ferguson também.
As lideranças fortes não são todas
obrigatoriamente de “mão dura”. Ancelotti, Mourinho, Capello ou Simone, vários
processos para levar um grupo até ao mesmo caminho. O “treinador do grito”
perde terreno num tempo em que o estudo do comportamento humano tem de ser mais
evoluído. Kloop diz que “não tem de ser amigo dos jogadores, mas todos os
jogadores devem ser meus amigos”. Não é fácil, porém, esse tipo de liderança.
É simplesmente impossível alguém se
tornar um bom líder sem ser um bom comunicador. E isto não significa ser um bom
conversador – é uma grande diferença. A chave para se tornar um comunicador
hábil raramente é encontrada naquilo que é ensinado na formação, na escola e
mesmo na educação obtida pelos nossos pais. Desde os nossos primeiros dias na
sala de aula somos treinados para nos concentrarmos na pronunciação, no
vocabulário, na presença, no léxico, na gramática, na sintaxe e afins. Por
outras palavras, somos ensinados a concentrarmo-nos em nós mesmos. Sem querer
menosprezar todas estas coisas, que são bastante importantes para a nossa
aprendizagem, são os elementos mais subtis da comunicação que raramente são
ensinados em sala de aula (os elementos que interferem noutros) que os líderes
procuram aprender.
O verdadeiro líder é aquele que
aponta o caminho. Aquele que traz consigo uma confiança brutal que ilumina com
um foco potente. Ele atleta ou treinador, permite que quem está ao seu redor
aja e demonstre as suas ideias, discutindo assertivamente, alinhando-as com os
valores e princípios do grupo. O líder desenvolve e incentiva a coragem nos
seus liderados…” Exemplifica-a” nas suas ações…
Todas estas capacidades são inatas, ou seja, nascem connosco, ou são passíveis de ser aprendidas e desenvolvidas? Acho que são as duas coisas, embora todas as pessoas sejam diferentes e não possam funcionar através de “receitas”. O que é para um pode não ser para outro, e cada um de nós tem o dever de fazer desenvolver a sua liderança para crescer por dentro e fazer crescer os outros à sua volta. Ao líder são requeridas flexibilidade e criatividade que inspirem nos seus colaboradores a habilidade de gerirem o imprevisível, não estivéssemos nós a falar de futebol.
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