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Ideias de Jogo, Progresso e Projetos

 


Muito daquilo que obtemos provém da forma como estamos, o tão popular “colhes aquilo que semeias”. Acredito que a escolha do modelo de jogo, pode influenciar bastante a qualidade do nosso trabalho, é o ponto de partida para tudo aquilo que se relaciona com o trabalho de época, mas também pode afetar aquilo que é a evolução de um projeto desportivo, independentemente do objetivo, em termos de resultado, a que este projeto se propõe. Tenho para mim que, em Portugal, na atual realidade em que nos encontramos, a evolução de um projeto desportivo está intimamente ligada com a capacidade de produzir talento e como consequência disso, realizar boas vendas. Cada vez mais somos um campeonato que importa excelentes talentos e exporta grandes jogadores para os principais clubes do mundo. Não consigo dissociar a produção e otimização de talento, daquilo que são ideias de jogo, ou formas de estar em campo, ambiciosas. Saliento dois exemplos em Portugal, daquilo que irei rotular como o “bom exemplo” e o “ver para crer”.

“Bom Exemplo” – Famalicão de João Pedro Sousa e Miguel Ribeiro. Prescindir do seu treinador predileto foi o grande arrependimento de Miguel Ribeiro. Isto porque considera ser o treinador ideal para aquilo que ele idealiza ser este projeto famalicense. Um scouting forte, capaz de encontrar jovens talentos que possam ser trabalhados e potenciados, boas bases na formação para que jovens portugueses possam futuramente apetrechar a equipa senior, e uma ideia de jogo que consiga maximizar todo este talento. Aconteceu assim com Pedro Gonçalves, Manuel Ugarte, Toni Martinez, Ivan Jaime, entre outros. O Famalicão consolidou o seu projeto enquanto clube de primeiro  escalão com base numa equipa técnica cuja ideia de jogo potencia os talentosos plantéis que têm tido. A escolha do treinador, e do perfil que esse treinador traz, é absolutamente fulcral para um projeto desportivo. A estreia neste campeonato não poderia ter corrido melhor, com o Famalicão a vencer o Sporting de Braga, em Braga, por 1-2, revelando mais uma panóplia de novos talentos, todos eles a acompanhar com atenção (Limatta; Aranda; Afonso Rodrigues, entre outros exemplos). Poderá começar este projeto, continuando a ser consolidado, um crónico candidato a apurar-se regularmente para competições europeias?



“Ver para Crer” – Vitória de Guimarães iniciou a temporada com uma derrota preocupante na Liga Conferência frente ao Celje da Eslovénia. Essa derrota ditou o afastamento demasiado cedo desta competição, mas mais importante, ditou também a saída do seu treinador principal Moreno. As consequências desta saída ainda estão por apurar, no entanto, esta saída de quem planeou toda a época e fez pré época com a equipa pode ditar uma época difícil para o clube de Guimarães. Isto porque veio Paulo Turra… Um discípulo de Felipão Scolari, é rotulado pela imprensa brasileira como um conservador, no que a ideias de jogo diz respeito, mais defensivo, com grande foco na verticalidade e alta intensidade em todos os processos, tornando-se uma tremenda incógnita na sua capacidade de promover este talentoso elenco vimaranense. Acima de tudo, parece ser uma contradição do praticado até então. Salientar que o Vitória de Guimarães já leva anos e anos a promover o seu projeto desportivo, um bocadinho à imagem do que o Famalicão está a começar a fazer, e já saíram grandes jogadores deste clube. Foram beneficiando dos bons trabalhos de Rui Vitória, Luís Castro, Pepa, sendo que será mesmo um “ver para crer” se Turra casa com o projeto vimaranense.

Ideias, formas de estar em campo, todas me parecem válidas. Sabemos perfeitamente que o principal fator de controlo de qualidade acaba por ser o resultado e, muitas vezes, entre a bola que bate no poste e entra e a bola que bate no poste e sai se criam carreiras, se fazem bons ou maus trabalhos. A questão inicial é tentar perceber a compatibilidade das ideias, com o projeto que elas vão servir. Com os jogadores que se tem. Com a capacidade que essas ideias têm de persuadir o grupo de jogadores que se tem à frente. A probabilidade da bola bater no poste e entrar poderá e deverá ser maior, em caso de compatibilidade.

 


Pedro Cardoso

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