Desde sempre que o futebol nos habituou a um sistema de três substituições, onde os treinadores convocariam dezoito elementos do seu plantel, escolheriam onze para iniciar o jogo e teriam apenas três ocasiões para mexer nesse desenho. A pandemia da covid-19 trouxe uma alteração a este modelo, por necessidade, e as substituições permitidas passaram para cinco, em vez de três. Treinadores de formação já estão mais do que habituados a este modelo, pois com uma capacidade física inferior a adultos e com uma necessidade suprema de dar mais oportunidades a todos os jogadores as substituições autorizadas são, ou infinitas ou superiores aos três elementos. Vamos dar uma olhadela sobre o caso prático do Sporting x Arouca deste passado domingo.
Devido à expulsão de
Diomandé, Rúben Amorim teve de refazer a sua predileta linha de 5 defesas em
organização defensiva, que muitas vezes já conta com Nuno Santos a pressionar
alto, e introduziu Matheus Reis no jogo por troca com Marcus Edwards. Mais
tarde, não conseguindo agarrar-se à vantagem mínima que tinha no marcador, fez
entrar Eduardo Quaresma e Geny. A justificação para o primeiro, “tínhamos de
arriscar e defender com uma linha de quatro”, e para o segundo “é um jogador
que precisa de poucos apoios para conseguir desequilibrar”. Assim, pelas
palavras do próprio treinador conseguimos perceber que estas três substituições
foram estratégicas com uma lógica de pensamento por trás de cada uma e que,
face às necessidades da equipa consoante o desenrolar do jogo, foram feitas com
o objetivo de chegar aos três pontos. Antigamente Amorim ficaria limitado a
estas possibilidades, sendo que uma lesão obrigaria a equipa a jogar o restante
do jogo com apenas nove elementos, poderia adiá-las no jogo ou então fazer
apenas uma. Por uma destas realidades se teria de governar o atual treinador
leonino. Chegando o Sporting ao golo que lhe dava nova vantagem no marcador,
ainda houve chance para refrescar o meio-campo, com a entrada de Daniel
Bragança e reformular a linha defensiva com a entrada de Neto que trazia a
experiência necessária para fechar os três pontos, por troca com o recém
entrado Eduardo Quaresma. Segundo Amorim “foi o amarelo e o Neto traz mais
qualidade nos cruzamentos, e o adversário só estava a criar perigo nos
cruzamentos”.
Podemos
considerar então que houve uma intenção estratégica em cada uma das alterações.
Podemos também considerar que face às
vicissitudes que o jogo deu ao Sporting a equipa da casa teria mais dificuldade
em garantir a vitória se apenas tivesse três substituições possíveis. Esta
alteração oferece aos treinadores mais liberdade para gerirem o jogo como se de
um jogo de xadrez se tratasse (termos conhecimento detalhado do pensamento do
treinador do Sporting ao longo do jogo e o porquê de ter decidido como decidiu
é sempre um acrescento para o verdadeiro apaixonado pelo futebol). Este sistema
oferece também ao treinador a possibilidade de se basear no sistema antigo,
havendo ainda treinadores que gostem de mexer pouco e tarde (talvez o que
consideramos tarde no jogo, nos dias de hoje, fosse o normal de antigamente).
Existe a consideração também que há aqui uma oportunidade para maiores perdas
de tempo e ocasiões para acalmar o ritmo de jogo, o que poderá ser legítimo.
Em suma, e não querendo deixar o artigo sem uma opinião pessoal, parece-me que o sistema atual é benéfico ao futebol. Traz maior liberdade aos treinadores para mexer, maior capacidade física pela possibilidade de mexer mais cedo e refrescar as equipas, acautela possíveis lesões e obriga os clubes a terem plantéis mais equilibrados e vastos.
Seria interessante ter uma
opinião fundamentada dos treinadores consultantes do blog sobre esta matéria.
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