Os “dez” no futebol estão a acabar? Se calhar tacticamente até já acabaram mesmo. A preponderância física do meio-campo em detrimento da técnica e da fantasia. Aquele jogador que jogava solto entre os médios-defensivos e o ponta-de-lança, fazendo jogar toda a equipa, pautando os ritmos de jogo foi agora transformado no interior, o box-to-box como se diz em Inglaterra, jogadores como Arturo Vidal, Enzo Perez, Ramires, Moutinho…
Os treinadores preferem? Também
podem não preferir, mas temos cada vez menos, esse "Mágico". Temos
sim, um médio estilo “Pitbull” a jogar a 8, que recupera bolas, que “come”
metros em progressão, que queima linhas de passe ao adversário, que deverá ser
regular, um pêndulo da equipa, desviando os criativos para a ala, como era o
caso de Messi, Ronaldinho, Gaítan, Hazard, James Rodriguez entre outros, que
para equilibrar a equipa tacticamente, são colocados na linha, onde podem fazer
movimentos diagonais, entrando por dentro, para o interior do relvado, abrindo
a ala para o lateral entrar nas costas, cruzando de primeira, proporcionando
profundidade à equipa, enquanto o criativo arrasta o lateral que o cobre fora
de posição, o 6 adversário também tenta fechar, abrindo espaço para a entrada
do médio-interior na área, beneficiando do “cair” na ala do ponta que ocupou o
lugar do criativo que fletiu.
Muito se deve à mentalidade de quem
lidera nos tempos de hoje. Esta mudança de mentalidade dos treinadores,
sobretudo europeus é que se o lateral, central e médio de cobertura souberem
anular o criativo da equipa, não há mais ninguém para desequilibrar a equipa,
perdendo profundidade, criatividade, imprevisibilidade, ganhando músculo, rigor
táctico, equilíbrio, mas que deixa uma equipa sem chama, sem imaginação, sem
maneira de furar a organização defensiva do adversário.
Os mais variados sistemas vieram como
que encolher o espaço dos “dez” clássicos. Os jogadores que são mais
fortes na posse são recuados para 6, para serem os primeiros a iniciar a
transição ofensiva, tendo à sua frente duas “carraças” para ganharem
bolas. À frente do 6 de construção, posse e primeiro passe, estão
normalmente dois jogadores, que servem preferencialmente para roubar bolas,
esticar o jogo da equipa a nível de condução e fecharem os espaços para os
médios e alas contrários, através uma leitura de jogo acima da média. É
inconcebível, no futebol actual, ter um jogador no centro do terreno, alheado
das tarefas defensivas, que não desça, que não encurte o espaço, que não tenha
reação à perda, que apenas jogue e desça no último terço.
Vários jogadores sofrem muito com
esta mutação do futebol, são desviados para uma ala para fazer o movimento para
dentro, mas não era essa a sua raiz de jogo. O "Dez" gosta de
mostrar o seu futebol sem se preocupar com o “correr para trás”, dando aos
outros a incumbência de serem os primeiros a fechar o meio, recuperarem a bola
e entregarem-na “limpa", para que este crie de frente para o jogo.
Uma metamorfose tática que
revolucionou a maneira como os treinadores da nova geração leem o futebol.
Fazem do meio-campo uma trincheira, onde a capacidade de choque, de elevação,
de bloqueamento de espaços e de coberturas faz a diferença.
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