Aconteceu na
quarta, no Estádio do Dragão aquilo que ninguém previa, pese o favoritismo da
equipa de Jurgen Klopp: uma derrota pesada do F.C.Porto por 0-5, a derrota
europeia mais pesada no universo dos jogos caseiros e que mancha de certa forma
uma época que, considerando o baixo investimento e um reduzido número de
soluções credíveis no plantel, até ver bastante positiva. Mais do que explicar
a razão desta derrota com o jogo de ontem, sinto-me motivado a tentar perceber
o porquê desta derrota num contexto amplo, olhando também para a prestação
europeia do Benfica.
Na
verdade, o jogo de ontem confirmou aquilo que é um mau 2017/2018 para as
equipas portuguesas na Champions. Benfica fez uma prestação que certamente se
envergonhará. No que concerne ao F.C.Porto, podemos dizer que apesar de ter
concluído o seu objetivo de passar a fase de grupos, a consequência desse marco
acaba por ser uma derrota que mancha a história europeia do clube. Quanto ao
Sporting cumpriu os mínimos na fase de grupos qualificando-se para aquela que
aparenta ser a Liga Europa mais difícil dos últimos anos.
Resumida
que está a prestação portuguesa na Champions League, a que se deve esta inércia
dos clubes portugueses nesta competição?
Manuel
Machado enquanto Treinador do Moreirense, na presente época, foi muito vocal em
relação a uma diferença de orçamentos entre os três clubes grandes portugueses
e os restantes que completam a Primeira Liga. As suas palavras foram mal vindas
na altura pois pareciam servir como justificação a uma preferência por uma
equipa pragmática e matreira, em vez de servir de exemplo para um futebol
apoiado, construído e esteticamente mais vistoso, quando Rio Ave e Desportivo
de Chaves têm sido capazes de demonstrar que mesmo com orçamentos baixos e
possível potenciar o talento dos seus jogadores. Mas interpretando as palavras
de Manuel Machado sem olhar para esta questão, a verdade e que essa diferença
existe.
Uma
diferença de orçamentos, que tem como consequência uma diferença de qualidade
dos intervenientes. Uma diferença de qualidade dos intervenientes que tem como
consequência uma grande dificuldade de preparar os jogos contra os melhores da
Europa, pela falta de exigência a que os clubes grandes portugueses estão
sujeitos, internamente.
Diferença
de orçamento há em todos os campeonatos, a questão esta na escala da
diferenciação. Se nos cingirmos aos três grandes, temos duas derrotas no
campeonato: o Boavista de Jorge Simão que conseguiu derrotar o Benfica no Bessa,
e o Estoril de Ivo Vieira que derrotou o Sporting há cerca de duas semanas
atrás. Se formos à Champions League, temos seis derrotas em seis jogos para o
Benfica, três derrotas para o Sporting, duas perante o Barcelona e uma frente a
Juventus, e duas derrotas para o F.C.Porto, frente a Besiktas e Leipzig.
Continuando
a tentar elaborar um contexto, dir-me-ão: mas Barcelona e Real Madrid (usados
aqui como exemplos) também goleiam no seu campeonato e são as equipas que têm
dominado o futebol europeu. Ora, para bom entendedor meia palavra basta, e
Barcelona e Real tem os melhores jogadores do mundo logo estarão sempre
preparados para ganhar a qualquer equipa. O contexto que quero aqui apresentar
é que alguns jogadores que foram titulares nos três grandes são hoje titulares
em equipas que lutam pela descida em Espanha. Dou-vos os exemplos de Diego
Reyes, Paulo Oliveira e Sidnei, três centrais, três jogadores que a dada altura
da sua carreira foram titulares pelos três diferentes grandes do futebol
português, sendo que no caso de Diego Reyes até me estou a cingir ao presente,
e que são hoje titulares em equipas que lutam pela manutenção na La Liga. Ora,
este é o contexto.
Um
contexto em que, apesar de Real Madrid e Barcelona terem super equipas, há
sempre concorrência e há sempre qualidade num campeonato que por muito que
pareça ser discutido a dois, tem sempre Atlético Madrid, Valência, Sevilla como
equipas bastante competentes.
Somos
vítimas do Síndrome da Realidade que temos, uma realidade claramente dominada
pelos três grandes, mas que nos condena fortemente quando o objetivo passa por
nos equipararmos às melhores equipas do mundo. Pode haver exceções, até porque
somos os mais motivados para esses jogos e raramente temos algo a perder, mas o
resultado será mais vezes pesado para as equipas portuguesas, porque estão, à
partida, derrotadas.
Pedro Cardoso
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