Nos
tempos que decorrem e com a mudança forte que se tem feito sentir na nossa
sociedade, longe vão os valores de perseverança e de capacidade de trabalho. Recordo
por isso uma pergunta que constantemente ouvia por parte dos mais velhos “Vens
ao Treino ou para o Treino?”, que sempre me ficou na memória e que rapidamente
nos fazia perceber para o que estávamos ali reunidos, treinar.
Atualmente,
talvez atolados pela quantidade de atividades que lhes proporcionam, os jovens atletas
não conseguem, na sua globalidade, encarar o treino como um momento de
superação, de prova de esforço de grupo, dedicação ao laço criado pelo tempo.
Largar a Playstation ou deixar a internet para andar a correr atrás de uma
bola? Largar o sedentarismo do vício de um ecrã por uma atividade física
exigente? Porquê??
Consigo
perceber que no primeiro treino da semana os atletas venham mais agitados,
sedentos por contar as novidades e, que talvez por isso o treino não possa ser
tão produtivo numa fase inicial. Também é fácil de entender que no Desporto não
podes dar tpc’s aos atletas, daí a evolução de cada um estar também relacionada
com a sua dedicação. Talvez por isto tudo, tenha aprendido que, cada vez mais,
é necessária a criação de um espaço dentro do treino onde os atletas se possam
recriar com a bola, aprender certas manhas que só com a experiência se adquirem
ou, simplesmente, transmitir alguma competição dentro do grupo.
É,
também, mais difícil a maneira como o Treinador tem de saber lidar com a
personalidade de cada miúdo, pois da mesma forma que alguns lidam bem com as
reprimendas e indicações do seu Treinador e tentam melhorar, outros simplesmente
não estão para ouvir lições em modos que não consideram os mais corretos.
Apesar de todas estas condicionantes,
cabe ao atleta perceber que não pode ir simplesmente ao treino. O Atleta tem de
ser estimulado a perceber que cada momento de treino é uma oportunidade para melhorar,
seja como desportista ou cidadão pois, quem não souber dar o seu melhor e
trabalhar para o grupo melhorar, vai se dar mal quer no campo quer na sua vida
pessoal.
Não
basta ir ao treino. Não basta ir e esperar que os 75 ou 90m de treino terminem
finalmente e possam enfiar-se novamente no seu Mundo, isolados da crítica
positiva, desperdiçando uma oportunidade constante em demonstrar que consegue
ser melhor. Ser o melhor nisto ou naquilo, não o Melhor Jogador do Mundo. Todos
sabemos o quanto é difícil chegar a esse patamar, mas em alguma coisa temos de
ser os melhores… sentir que no momento adequado estamos a contribuir para que o
grupo consiga atingir os seus objetivos, por muito mínimos que sejam.
Não
basta ir ao treino e, pior que tudo, ajudar a desestabilizar o grupo, perder o
foco. Não basta correr e não dar o litro. Não basta dizer que “não consigo” pois, o impossível só é impossível até acontecer. Se não acreditares em ti, quem
vai acreditar? De certeza, que o teu Treinador vai sempre acreditar nas tuas
capacidades e perceber que podes alcançar tudo, desde que assim também estejas
disponível para ouvir as suas indicações e, ser o humilde o suficiente para
perceber que és um produto inacabado e queres melhorar.
Ir
para o Treino será sempre uma vontade inatacável em melhorar, em provar algo. Ir
para o Treino é querer ajudar, ser parte de algo maior. É querer sentir o sabor
das vitórias de sacrifício e entender o que outros não conseguem, que o sabor
de uma vitória em que deste tudo e lutaste tanto tempo, tem um sabor único e
momentâneo. Sim, momentâneo pois, no segundo a seguir a desfrutares terás de
estar pronto para a luta novamente… não é assim que a vida é? Uma luta
constante e cansativa, mas acredita que vale a pena!
E
tu, vais ao Treino ou para o Treino?
Acreditas
nisto? Espero ter passado a palavra que me foi transmitida por “velhos sábios”.
Ricardo Carvalho
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