Embora não
tenha sido um jogador de destaque lembro-me bem o que era no meu tempo, ter um
concorrente para a minha posição. Via-se sempre isso de bom agrado, sem desejar
mal à concorrência, mas como um estímulo à competição interna. Sabíamos que o “melhor
nos treinos”, durante a semana, seria o preferido a jogar nesse fim-de-semana!
Em outra
“galáxia”, mas não deixando de ser exemplificativo, Cristiano Ronaldo já por
diversas ocasiões confidenciou que a concorrência ajuda-o a ser melhor jogador!
Embora tente acreditar que no passado não era diferente do que atualmente se
passa e que agora não está tudo diferente, a cada semana mais me convenço que
estou enganado!
Lembro-me que
quando não tínhamos lugar na equipa inicial do fim-de-semana e comentássemos em
casa a situação, ouvia-se algo do género: “trabalha mais e treina melhor que
vai chegar a tua oportunidade”! Nem pensar em pedir aos pais para que falassem
com o treinador pedindo-lhe qualquer tipo de justificações…
Atualmente os
jovens atletas vivem cada vez mais na dependência dos pais e isso leva-os a
evitarem experiências capazes de estimular as suas competências e habilidades
e a descobrirem o mundo real, com os seus próprios olhos… É por isso comum que os jovens
atletas não gostem de ter um novo colega no plantel, com medo da competição.
Preferem ser a única opção pois, treinando-se bem ou mal, irão sempre a jogo,
mesmo que isso prejudique todo o plantel.
E às primeiras
dificuldades, luta-se, dá-se tudo, treina-se duro? Não!... Nestes momentos desiste-se!
Mentalizar desde cedo que os homens se veem nas derrotas, torna
qualquer criança mais forte e mais sensível à humildade na hora de saber
ganhar. Os insucessos fazem parte da vida! Aprender com eles é
fundamental para o crescimento e desenvolvimento humano.
Grande parte
dos atletas apenas se vê num contexto de sucesso pessoal, que neste caso é o de
estar convocado e a jogar de início. Preferem estar num clube onde perdem
consecutivamente, mas jogam, do que inseridos num contexto de sucesso onde vão
aprender e evoluir, mas onde têm concorrência nas suas posições do campo e onde
por vezes apenas veem jogar. Muitas vezes são os próprios treinadores, em
escalões como juvenis e juniores, que têm de estimular os atletas a não
desistirem e mostrarem que confiam na sua evolução e capacidades, para darem
mais em campo.
Mais estranho ainda
são aqueles jovens atletas que logo no início da pré-época fazem a leitura
sobre a sua utilização ao longo da época, quando nem o próprio treinador
conhece o grupo e provavelmente nem sabe o sistema tático a utilizar, em função
desse grupo!
Uma das
sensações mais positivas na competição interna é o jogador perceber que ganhou
o seu espaço com o seu trabalho e o seu empenho. Ter lugar garantido na equipa
porque não há concorrente de posição, parece-me de mentalidades pouco
ambiciosas e redutoras.
Que jovens são
estes para o futuro? Se desistem do futebol às primeiras dificuldades, como será
na sua vida? Como chegarão longe nos estudos? Como irão fazer esforços para
trabalhar? Será que vão desistir de tudo isso?
Numa altura
que se fala do abandono desportivo penso que a falta de trabalho e falta de
persistência dos atletas são os grandes fatores do seu abandono. Se tens um
concorrente à altura, luta e trabalha que o teu momento vai chegar! Se não tens
concorrência trabalha na mesma como se o tivesses!
Rui Gomes
2 Comentários
Bom artigo. Revejo-me no mesmo, tenho um miúdo que começou a jogar aos 5 anos e tem tido uma luta constante com os colegas mais velhos para progredir. Fica o convite para passar pelo canal no YouTube e acompanhar a evolução do Henrique
ResponderEliminarObrigado pelo comentário. O importante é nunca desistir e trabalhar sempre nos limites.
EliminarCumprimentos e boa sorte para o Henrique.