Há
pouco tempo perguntaram-me quantos treinos gostaria de dar enquanto Treinador
de uma equipa sub-10. Tal como na vida, também no Futebol, por vezes, as
perguntas mais simples são também as de dificuldade acrescida na resposta.
Ainda assim, respondi rapidamente de acordo com as minhas ideias, que mantenho há algum tempo: dois treinos. Isto porque considero dois treinos suficientes
para um jovem Atleta sub-10. Ou não serão?
Segunda-Feira,
um dos bloggers do Futebol Apoiado, Ricardo Carvalho, no seu artigo “Roda Bota
Fora” escrevia sobre os seus tempos de juventude e das saudades que tem do tão
falado “Futebol de Rua”. Já muito foi escrito e abordado sobre a falta que este
conceito faz ao jovem Atleta, tanto na sua dinâmica própria, como no
desenvolvimento técnico que trazia ao praticante. A verdade é esta: antigamente
íamos para a rua jogar à bola, hoje em dia ficamos em casa a jogar FIFA…e será que o
Treinador não terá de se adaptar a esta mudança de paradigma?
Na
verdade, com uma redução drástica do tempo em que o praticante está em contacto
com a bola, o aumento do número de treinos e, por conseguinte, o número de horas
de treino, ou seja, aumentar o tempo útil da relação praticante-bola, parece
ser uma solução prática, fácil e útil. Reparará o Leitor Futebol Apoiado que
este artigo é mais um artigo de dúvida que propriamente de opinião.
Aquilo
que dá ideia através de uma interpretação rápida é que embora o tempo útil de
prática do Futebol aumente, estamos a aumentá-lo numa abordagem que em nada se
assemelha ao Futebol de Rua. Estamos a aumentá-lo numa abordagem de regras, de
horários a cumprir, de exercícios planeados, com limite de espaço e tempo, com
objectivos a serem cumpridos e com uma supervisão, por vezes, instantânea e
excessiva do Treinador. O Atleta beneficiará do treino extra, chamar-lhe-emos
assim, mas não dentro da dinâmica do Futebol de Rua. Liberdade…nem vale a pena
elaborar. Simplesmente liberdade.
Então,
dir-me-ão que a ideia poderá passar por recriar essa liberdade, no treino
extra. Trazer o Futebol de Rua para o complexo desportivo, com a presença do Treinador,
mas dar liberdade aos Atletas para fazerem as suas equipas e para criarem os
seus jogos, apenas com o upgrade de haver uma enfermaria pronta a responder a
qualquer incidente recorrente da Rua…um penso aqui, uma massagem ali e lá se
vão as cicatrizes de horas e horas de contacto com a bola. Então eu pergunto: o
que leva um jovem a querer ir a um treino, preferindo o treino a uma consola
de jogos? E o que leva um jovem a preferir uma consola de jogos a um jogo de
amigos na Rua? Questões que prefiro que fiquem para pensamento do que sejam
por mim respondidas. Lembre-se o Leitor da questão dúvida/opinião.
Quanto
aos princípios de jogo, bem sabemos que cada Treinador terá métodos diferentes.
O Treinador tem as suas ideias e procura transmiti-las aos seus jogadores. Os
grandes problemas aparecem nas mudanças de Treinadores ou quando um
Treinador apanha uma equipa com elementos nunca antes trabalhados por si.
Pessoalmente, incido muita da informação que dou aos jovens Atletas nos princípios
gerais e específicos. Acho vital haver uma linguagem universal de Futebol para
a formação dos jovens Atletas, pois eles têm inúmeros Treinadores e vão
precisar de saber o que significam certos conceitos para poderem dar seguimento ao seu trabalho. Isto é, mesmo que o Treinador seguinte trabalhe da mesma maneira e
com ideias diferentes.
Quero com isto dizer que acho
inconcebível um sub-15, sub-17, ou ainda mais grave, um sub-19, não saber
definir cabalmente um conceito como Progressão ou Contenção, Coberturas tanto
Defensiva como Ofensiva. Acho mesmo miserável. Se não o conseguem saber, não
conhecem o fundamento do Futebol. Se não conhecem o seu fundamento como podem
crescer ao nível da Inteligência e do Conhecimento do próprio jogo?
Concluindo
entre a dúvida do tempo útil de treino de um jovem e a certeza quanto a uma
linguagem universal que beneficie o Atleta em períodos de transição, mesmo
transitando de um Treinador que goste de um Futebol de pé para pé, para outro
que goste de um jogo vertical ou até mesmo mais directo, acho essencial que essa
linguagem seja transmitida. Até porque nem sei trabalhar de outra maneira.
Pedro Cardoso
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