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Pequena Ode ao Treinador do Distrital


Ser Treinador. Haverá sempre tanta coisa a dizer e a escrever sobre o que é ser Treinador. Muito mais do que apenas aquele que treina. Muito mais do que apenas aquele que coloca umas bases, distribui uns coletes e idealiza as movimentações para as Bolas Paradas. Muito mais do que apenas aquele que escolhe os dezoito convocados e, de entre estes, o onze inicial. Muito mais ainda do que o Psicólogo, o Conselheiro, o Amigo, etc…
Ser Treinador é tudo isto e muito mais. E se todos os pormenores supracitados podem considerar-se como transversais a todos quantos treinam, independentemente do escalão e do nível competitivo, há um factor diferencial que, a meu ver, “afecta” apenas os Treinadores que, um pouco por todo esse País, militam e trabalham nos Distritais: a resiliência.
De acordo com a Wikipédia, a “resiliência é a capacidade de o indivíduo lidar com problemas, adaptar-se a mudanças, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas sem entrar em surto psicológico, emocional ou físico, por encontrar soluções estratégicas para enfrentar e superar as adversidades.”  Conhecem melhor realidade do que a Distrital para que um Treinador possa testar a sua capacidade resiliente? Eu não…
Sejamos sinceros: nos Distritais, os Treinadores deparam-se com um pouco de tudo…e até mesmo com um muito de nada. Falta de material para treinar, falta de recursos humanos (não é o mesmo que falta de qualidade nos recursos humanos à sua disposição, atenção!), falta de investimento (ou inexistência de investimento e, em alguns casos, “desinvestimento”), falta de infra-estruturas, falta de cultura desportiva, falta de abertura de mente por parte de alguns agentes desportivos, etc…
O curioso é que tudo isto contrasta com o excesso de sabedores da sua profissão e com o excesso de mentes fechadas e incapazes de vislumbrarem um metro para lá daquilo que os seus olhos enxergam ou pensam que enxergam. Porque, para muitos, a verdade será sempre aquilo que conseguem ver e nunca algo mais do que isso…
Mas mesmo assim o Treinador do Distrital continua a trabalhar. Nalguns casos sabe Deus como. Nalguns casos sabe Deus em que condições. E noutros casos penso que ninguém sabe porque continua a trabalhar aquele Treinador do Distrital, dada a inexistência de quase tudo ou a existência de tanto nada. Noutros casos ninguém entende porque aguenta ele o que aguenta.
Mas ele aguenta. Aguenta porque é mais resiliente do que os outros. Aguenta porque é mais forte do que os outros. Aguenta porque as desculpas que todos os outros lhe dão, estejam eles acima ou abaixo da sua hierarquia, são os motivos pelos quais ele (Treinador do Distrital) não quer desistir. Porque ele (Treinador do Distrital) não é igual aos demais. Não sendo melhor nem pior do que aqueles que consigo trabalham, ele (Treinador do Distrital) não cede à tentação das desculpas fáceis e fúteis. E seria tão fácil fazê-lo…


Podem dizer-me que trabalhar em clubes com dinheiro é complicado, que trabalhar em clubes com muito dinheiro e jogadores cujos egos são enormes é ainda mais complicado, que trabalhar com empresários e grupos económicos é extremamente complicado…
Aceito. Mas acredito que qualquer Treinador do Distrital estaria disposto a trocar com os Treinadores que militam nas divisões superiores para poder viver essas realidades complicadas, ainda mais complicadas e extremamente complicadas. Acredito que qualquer Treinador do Distrital estaria disposto a provar a sua competência (ou a inexistência dela, como é óbvio) nessas realidades mais complicadas, em vez de estarem a fazer contas aos jogadores que não vão aos seus treinos e que os obrigarão a optar por qualquer coisa que sirva para entreter os poucos elementos presentes na sessão de treino.
Ser Treinador é, a meu ver, ser altruísta. Mas ser Treinador do Distrital é, para além de altruísta, ser nobre. De uma nobreza e de um altruísmo inexplicáveis. De uma dedicação e de uma devoção incomensuráveis. De um amor e de uma paixão inquebrantáveis.
Ser Treinador do Distrital não é fácil…por isso mesmo esta é a minha homenagem a todos aqueles que, de Norte a Sul do País (incluindo os arquipélagos), dão provas da vossa qualidade, do vosso brio e da vossa resiliência. Continuem assim!
Um bem-haja a todos vós…

                                                                          Laurindo Filho


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