Por vezes dou
comigo a pensar na sorte que têm os Treinadores Profissionais de topo. Clubes
estruturados, condições infra-estruturais, condições financeiras, jogadores
comprometidos. Obviamente que estas condições exigem um elevado grau de compromisso
aos jogadores, não só por questões financeiras, mas também por estarem a fazer
aquilo que mais gostam: jogar Futebol.
Não deixa de
ser curioso, no entanto, que alguns Treinadores Profissionais de topo
aproveitem a atenção mediática de que dispõem para se lamentarem/queixarem em
relação a algumas situações existentes nas suas realidades.
Jorge Jesus
passou cerca de um mês a “chorar” a ausência de Adrien Silva numa determinada
fase inicial da época (Elias foi equacionado como seu substituto e Francisco
Geraldes estava em Moreira de Cónegos…vá-se lá perceber o cérebro dos
profissionais). Mais recentemente, José Mourinho afirmou que “tive de me adaptar a um novo mundo, ao
que os jovens jogadores são agora. Tive de compreender a diferença entre
trabalhar com um rapaz, como Frank Lampard que, aos 23 anos, já era um homem -
preocupado com futebol, trabalho e em ser profissional - e os rapazes de agora
que, aos 23 anos, são crianças. Hoje chamo-lhes «rapazes» e não «homens» porque
penso que são pirralhos e que tudo o que os rodeia não os ajuda na vida deles
nem ao trabalho que tenho de fazer”.
Duras palavras,
de facto, que ainda foram reforçadas pelo próprio Special One: “Tive de me adaptar a isso. Há dez anos,
nenhum jogador tinha o telemóvel no balneário. Agora não é assim. Mas temos de
alinhar com isso, pois se resistirmos vamos provocar conflitos e ficar na idade
da pedra. Caso se impeça um jogador de fazer algo, mesmo que seja uma coisa
estúpida nas redes sociais, estamos a ir contra a natureza”. Fantástico…
Não desvalorizando as palavras destes
dois Treinadores Profissionais de topo (um de topo nacional, outro de topo
mundial), hoje quero abordar a temática do “Compromisso” dos jogadores…na perspectiva
amadora e distrital. Da Formação aos Seniores.
Por cada jogador profissional de topo
que amua por não lhe permitirem snapchats no balneário após uma vitória contra
o último classificado (a verdade é que hoje celebram-se todas as vitórias com
fotos para o Facebook, Instagram, Snapchat, seja a vitória contra quem for…),
alguns Treinadores Amadores da Formação têm de lidar com 7 ou 8 miúdos que
estão mais preocupados com as apostas na 3ª Divisão do Vietname do que em ouvir
a palestra do Treinador antes do início de mais uma unidade de treino.
Por cada jogador profissional de topo
que é “apanhado na noite” a horas impróprias, alguns Treinadores Amadores de
equipas Seniores têm de lidar com meio plantel semi-embriagado horas antes de
um jogo importante, que pode significar uma Subida de Divisão ou o adeus a essa
mesma Subida de Divisão. E há também Treinadores Amadores da Formação que
passam pelo mesmo, pois há casos conhecidos de atletas sub-17 a tirarem “selfies”
com uma garrafa de cerveja na mão, para depois publicarem nas redes sociais com
a hashtag “Isto é (nome do clube)”. Atletas sub-17…
Por cada jogador profissional de topo
que inventa desculpas em conjunto com o seu empresário, de modo a conseguir um
novo contrato ou a ter de ir a uma acção publicitária do seu principal sponsor,
alguns Treinadores Amadores de equipas Seniores têm de lidar com as desculpas
mais surreais de que há memória para se faltar a um treino: reunião na Creche
do filho às 21 horas de uma sexta-feira, “a chuva está fria e estou a sentir
uma comichão na garganta, é melhor não treinar”, “hoje não vou conseguir ir ao
treino porque saio do trabalho às 19h45” (então, mas o treino começa às 20h30 e
ele trabalha a 2 km do campo)…
Para não falar de alguns Treinadores
Amadores da Formação que também sabem o que isto é. Ora é o Pai que quer
castigar o miúdo porque tirou más notas na Escola (e o Futebol é que tem culpa?),
ora é a Mãe que manda sms a dizer que hoje está muito frio e o menino pode
ficar engripado (quando o miúdo vai de tshirt para Escola às 7h da manhã em
pleno Janeiro, está claro que é o Futebol que o vai constipar), ora são os
próprios miúdos a inventarem desculpas para poderem ficar em casa a jogar
computador, a namorar ou a fazer parvoíces nas redes sociais.
“Hoje não posso, tenho treino” era a
máxima dos meus tempos de juventude. Sem telemóveis, com poucos computadores,
sem redes sociais. Mas com Educação, com Respeito, com Compromisso. Os treinos
eram “religiosos” para nós. Era como ir às aulas. Não faltávamos aos treinos.
Era impensável faltar aos treinos. E se o fizéssemos, já sabíamos que havia
alguém à espera de agarrar o “nosso lugar” e sabíamos que o Treinador não nos
iria perdoar a falta de compromisso.
E sabem o que acontecia quando o
Treinador nos sentava no banco? Nada. Nada de Pais a fazerem queixas ao
Coordenador, nada de Pais a fazerem queixas ao Presidente. Nada de Pais a irem
falar com o Treinador. Nada de
Directores a quererem influenciar as decisões de quem manda na equipa – o
Treinador – só porque têm uma grande amizade com o jogador que revelou falta de
compromisso e foi relegado para o banco de suplentes.
A verdade é tão simples e cristalina
como a água. Antigamente não havia desculpas, nem sequer se fomentavam
desculpas. Hoje em dia tudo serve de desculpa, muitos fomentam e são coniventes
com essas mesmas desculpas.
Perdem os miúdos, os graúdos, perdem os
Treinadores Amadores que querem distinguir-se através do seu trabalho, perde o
Futebol Amador, perde-se o espectáculo. E depois admira-se que a qualidade do
Futebol praticado nas Camadas Jovens e nos Seniores Amadores seja tão fraca.
Podia continuar a escrever por mais umas
quantas horas acerca deste tema. Mas hoje não posso, tenho treino!
Laurindo Filho
10 Comentários
Boa noite, antes deixem me saudar este maravilhoso artigo que acabei de ler, continuem com este tipo de trabalho! Lembrar do futebol amador distrital, é uma coisa espetacular, uma vez que vivemos numa tempo do profissionalismo no futebol, e de pensar que mais de metade dos jovens atletas que estão na formação embarcaram neste tipo de campeonato, porque infelizmente nem todos chegam ao topo! Eu que faço parte de um clube amador, enquanto jogador sênior, revejo e vejo e ajusto a realidade que este artigo descreve.... Espero ver mais artigos assim....
ResponderEliminarMelhores cumprimentos, e sucesso de bom trabalho!
Obrigado pelo seu comentário.
EliminarUm dos nossos propósitos, enquanto blog, passa pelo despertar de consciências, pela chamada de atenção para realidades que muitos pensam não existir...mas que existem.
Não é fácil estar no Futebol Amador. Seja como Jogador, seja como Treinador. Sabemos que existem inúmeras condicionantes e inúmeros obstáculos para quem quer estar de forma saudável no Futebol Amador de Formação ou Sénior. Mas cabe-nos a nós, agentes desportivos, trabalhar para que o futuro seja melhor.
Uma vez mais, obrigado pelo seu comentário. Continue a acompanhar-nos.
Cumprimentos
simplesmente perfeito!
ResponderEliminarObrigado pelo comentário. Continue a acompanhar-nos.
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Parabéns Amigo, excelente Texto, obrigado pela partilha.Forte abraço
ResponderEliminarObrigado pelo comentário, Sr. Américo Nogueira. Continue a acompanhar-nos.
EliminarCumprimentos
Sim é verdade, como disse anteriormente eu faço parte do mundo desportivo amador, ao mesmo tempo sou monitor de desporto, uma vez que sou professor de educação física, e todavia é de artigos como este, que visem informar consciêncializar o mundo desportivo para esta temática que é o mundo amador... Não é fácil mesmo o mundo amador...
ResponderEliminarCertamente acompanharei....
Muito obrigado pela atenção e pelas palavras.
EliminarContinuação de bom trabalho na sua área de actividade.
Cumprimentos
Descreves muito bem a nossa realidade! Parabéns e continuação de bom trabalho! Abraço forte!
ResponderEliminarObrigado pelo comentário. Continue a acompanhar-nos.
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