Frequentemente os Treinadores de Futebol nos
Escalões de Formação lidam com crianças e jovens que, fora do âmbito
futebolístico, mas no seu quotidiano, têm atitudes menos correctas, ou, com
maior frequência, têm desempenhos escolares aquém das suas capacidades ou das
expectativas dos seus Encarregados de Educação.
No final de cada Período Escolar (nas pausas
de Natal, da Páscoa ou de final de ano) chegam as notas escolares, as reuniões
de pais com os professores, uma ou outra má notícia acerca da
avaliação/desempenhos e, quase que invariavelmente, a primeira atitude dos Encarregados
de Educação é a aplicação de castigos. Alguns Encarregados de Educação têm a
tendência de castigar os filhos, obrigando-os a deixar o Futebol, ainda que por
vezes, de forma temporária. Disciplina é um fator determinante para qualquer
educação, mas será esta a forma correcta de educar?
É discutível que os “castigos” funcionem ou
façam parte do processo correcto de educar ou mostrar o que é certo ou errado.
Certo é que se torna necessário ter “bom senso” na hora de aplicar o castigo
adequado em cada situação, porque ele só funciona se tiver uma conotação
educativa e não punitiva.
Como fundamentar a quebra um compromisso
assumido pelo atleta para com um grupo (no início da época), justificando a
falha com outro compromisso tido com os Encarregados de Educação? Será que
existem hierarquias de compromissos ou acima de tudo existem compromissos
que invariavelmente devem ser honrados?
Ora, quando um atleta no início do ano
ingressa numa equipa, automaticamente sabe quais são os seus compromissos a
nível de presenças aos treinos e aos jogos. O desempenho escolar e o mau
comportamento, não podem servir para “rasgar” esse compromisso, porque haverá
várias partes lesadas, para além do próprio atleta. É desde pequeninos que se
lhes deve mostrar a importância da ética profissional que passa por assumir e
cumprir todos os compromissos!
“Mens sana in corpore sano”, esta
expressão utilizada já no tempo dos romanos, afirmava que somente um corpo
saudável pode produzir ou sustentar uma mente sã.
A falta do atleta nos treinos e jogos, durante
um período, poderá ser um factor que não ajuda a mente e o seu desempenho
escolar. Então será que retirar a ida aos treinos/jogos é positivo?
Cada caso é um caso, mas é reconhecido que em
muitos dos atletas nestas idades a auto-estima apresenta-se como um aspecto
essencial na construção da sua personalidade. Jovens com uma baixa auto-estima poderão
criar sentimentos de culpa ou de inferioridade prejudiciais ao seu
desenvolvimento. Por outro lado, depois de vários treinos de ausência, o atleta
irá perder novos conhecimentos ministrados nos treinos. Provavelmente, quando
regressar, irá voltar com mais problemas, principalmente a nível físico e de
interação com a equipa, o que poderá levar a que “perca o comboio” até ao final de época. A
ausência desse elemento da equipa irá também causar algumas alterações no
próprio grupo. A obtenção de, por exemplo, piores resultados desportivos poderá
originar a culpabilização e responsabilização do colega que faltou e que daria
“jeito” naquele jogo.
Cabe aos Pais pensar na melhor estratégia para
evitar que aquele mau comportamento ou resultado sejam repetidos. Falando
sobretudo como Treinador, penso que existem outras formas de actuar sem
utilizar “castigos” que lembram vingança. Deverão fazer entender ao jovem que
existem prioridades e que a prática de Futebol não será por certo a mais
importante. Há que criar regras (em conjunto), menos penalizadoras para ele e
que, quando aplicadas, resultam de uma decisão que transcende a exclusiva
responsabilidade dos Encarregados de Educação. No “fim da linha” poderá haver
as “represálias”, mas com maiores benefícios para a saúde do atleta (como por
exemplo, tempos de televisão, computadores ou telemóvel) e sem pôr em causa
“outros compromissos”! Cabe a cada Encarregado de Educação, que conhece melhor
o atleta, saber se será mais positivo o uso de incentivos ou de castigos! Por conhecimento
de causa, muitas das vezes basta auxiliar na planificação das actividades onde
se inclui os tempos de estudo!
O desporto é importante para o crescimento do
jovem atleta. Conciliar o Futebol com os estudos será o mais importante para o
seu desenvolvimento enquanto atleta e como pessoa!
Rui Gomes
3 Comentários
Caro Rui Gomes,
ResponderEliminarInteressante e válido para outras actividades formadoras e de como a sua remoção pode ser utilizada como "castigo". Um ou outro comentário, no entanto.
O adágio mens sana in corpore sano não indicia que «somente um corpo saudável pode produzir ou sustentar uma mente sã», mas sim uma "cumplicidade" entre o desenvolvimento mental e físico. Ou de como ninguém é "inteiro" descurando um desses aspectos. Como treinador certamente está a par de que Educação Física não é Desporto. O corpore sano do adágio andará muito mais de mãos dadas com a EF do que com o Desporto, com de resto é indiciado por toda a conversa sobre os Guardiões na República. Mas isto são apartes.
Sou firmemente um crente que retirar a prática de actividades formadores, quer do "corpore" quer da "mens", tende a criar dois problemas em vez de resolver um. Por um lado retira o jovem de uma actividade formadora, por outro vai criar mais revolta no jovem. A principal discordância que tenho do tom geral do artigo prende-se com a forma como ele foge ao título. Conquanto concordo inteiramente com o título ("Estás de castigo, mas vais ao treino."), quando o Rui começa com «A falta do atleta nos treinos e jogos» abre-se aqui um certo espaço a discussão.
Porque o que me parece é que é de todo o interesse para o próprio treinador ter putos com "mens sana in corpore sano" e que portanto, quando confrontado com situações de problemas a montante tomar a atitude de se aproximar dos Encarregados de Educação (que conhecem a criança, não o atleta!) e tentar chegar com eles a acordo. E falo aqui do Treinador porque tem, na relação de poder pai-filho, um papel neutro. É mais fácil um treinador falar com um puto, estabelecer com ele metas realistas e dizer-lhe que "não vais aos jogos fora" (por exemplo) e disto retirar-se uma motivação, do que ser um encarregado de educação a dizer as mesmíssimas coisas, por vezes até com as mesmas palavras. E acredite, que a ferida aberta sara muito mais depressa.
...O que não quer dizer que não haja uns pais iluminados que achem que são a última gota de água do deserto. Para esses paciência!
Bom dia caro leitor,
EliminarOs artigos de opinião são excelentes para debater todo o tipo de ideias. É bom saber que concorda em grande parte com o artigo. Também concordo com o que acrescenta (embora seja normal que quem escreva neste Blog tenha a visão mais ligada ao papel do treinador).
Concordo quando diz que o treinador é importante neste processo contudo na maioria das vezes não somos "consultados" nem é pedido a nossa ajuda. Os atletas simplesmente deixam de aparecer e depois de uma chamada sabemos que é "castigo". Obviamente que como treinadores podemos não concordar e tentar ajudar mas temos que respeitar a decisão do Enc.de Educação.
Continue a acompanhar o FA. Obrigado e cumprimentos.
E bem legal a importância e a diferença q meu filho esta.esta melhorando a cada dia mais e o endinando os caminhos certos e os errados
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