Após se tornar campeão em 2022/2023 e ter um início de época com uma importantíssima vitória sobre o FC Porto, levantando assim o primeiro troféu da época esperava-se que o SL Benfica vivesse nesta fase uma época menos conturbada.
O treinador do campeão
nacional apontou desde cedo as saídas de Gonçalo Ramos, Grimaldo e até Enzo
Fernandez como razões para o momento de menor fulgor vivido pela equipa. Estas
declarações aportam desde logo a responsabilização nas contratações efetuadas e
que pouco ou nada acrescentaram à equipa até ao momento (à exceção de Di Maria).
As várias lesões que
assolam o plantel, a adaptação lenta dos novos elementos, a gestão de
Vlachodimos (comparando o caso com outros do plantel temos a resposta), a teimosia
nos seus jogadores “top level”, as férias prolongadas que por onde tem passado
não dão bom resultado, as mudanças de sistemas táticos, a falta de perceção da
cultura portuguesa e a capacidade de comunicação na mesma língua, entre outros,
poderiam ser alguns dos aspetos a apontar ao técnico alemão.
No entanto, indo a factos
e não apontando o dedo somente a uma pessoa dentro de um projeto (o treinador
não pode nem deve ser bom só quando ganha), percebemos que alguns dos problemas
se arrastam no tempo e que agora deixaram de ser disfarçados pela valia
individual dos elementos, fruto do momento que os resultados consagram:
- Disputados 22 jogos a equipa encarnada mudou o 11 por 17 vezes, o que perfaz 77,3% das partidas que jogou até ao momento. Um número elevado justificado por opção técnica, mudança de sistema tático, lesões e expulsões.;
- As posições que mais mudanças têm visto desde início de época são a lateral esquerda, o duplo pivôt do meio-campo e o avançado. Mudanças também já operadas na baliza, na lateral direita, no centro da defesa e nas alas, ainda que de forma menos consistente.;
- A lateral esquerda já conheceu 5 jogadores diferentes no 11 inicial.;
- O duplo pivôt já conheceu 6 jogadores diferentes no 11 inicial.;
- A
posição de avançado já conheceu 6 jogadores diferentes no 11
inicial.;
- O
avançado com mais golos/minutos é Petar Musa com 4 golos em
710 minutos (10 vezes titular). Seguem-se Arthur Cabral com 2 golos em 611
minutos (5 vezes titular) e Tengstedt com 2 golos em 556 minutos (6 vezes titular).;
- Para
que se possa comparar, o jogador com mais minutos no plantel e único totalista
é Aursnes (1980 minutos).;
- O lateral com mais assistências na Liga é Rodrigo Gomes do Estoril, que já contabiliza
5. Seguem-se Aursnes e Moura do Famalicão com 4 cada.
- Na época passada, o lateral com mais assistências foi Grimaldo com 9 assistências. Seguiram-se Tiago Santos no Estoril com 7 assistências e uma lista encabeçada por Bah com 4 assistências.
Deixando os números de
parte por um pouco, constatam-se alguns problemas que já vinham da época anterior
(principalmente após a saída de Enzo) e esta época ainda se tornaram mais visíveis.
A equipa continua a jogar
sem utilizar e explorar a largura (estando em largura ou aparecendo de trás). O jogo em que
cria mais oportunidades nos últimos tempos passou precisamente por prender Di
Maria mais na linha no último terço e ter Aursnes confiante a vir de trás para
criar superioridade e dar ajuda ao seu colega de ataque (tem que querer ser
ajudado também).
As estatísticas anteriores também comprovam a pouca participação e importância do corredor esquerdo no ataque, principalmente de quem joga na lateral. Atendendo ao mapa do último jogo teremos uma melhor perceção do que se passou em campo:
Comparativamente à última
época em que até já eram visíveis algumas lacunas na utilização da largura
máxima para explorar os espaços deixados pelas defesas e em que as duas laterais
voavam pelos corredores, esta época temos um SL Benfica manco e mesmo no seu
melhor corredor lateral, Bah tem surgido a espaços e sem o mesmo fulgor da
época passada (talvez condicionado pelas lesões) e Aursnes não sendo um lateral
acaba por se proteger mais, até em função do pouco compromisso defensivo que Di
Maria tem. Não tendo o Benfica ainda criado dinâmicas para mascarar isso, o
norueguês vai só pela certa lá na frente.
E aqui, não posso seguir
sem deixar algumas notas sobre o planeamento para a época. Gilberto foi vendido
após uma época em que na sua fase de menor forma desportiva, Schmidt aproveitou
para apostar em Aursnes na lateral e tapar um buraco naquela fase, mas acabou por
“matar” um jogador que preferiu depois sair e dar continuidade noutro clube.
Ristic que na época transata
poucas ou nenhumas oportunidades teve para se mostrar em campo (Grimaldo também
não deu hipótese, mas houve oportunidades para isso), começou a época a titular
frente ao FC Porto, no entanto, uma má primeira parte da equipa acabou por ditar
a saída ao intervalo. De referir, que esse jogo foi abordado sem avançado fixo
e a estratégia nunca resultou, não conseguindo o SL Benfica pressionar e
condicionar o seu adversário em condições na primeira parte. Viria a ser substituído por Jurasek, que
infelizmente também não viria a pegar de estaca, nem a demonstrar o suficiente
para ser para já titular do campeão nacional.
O problema aqui é que
mais uma vez, esta falta de confiança nos elementos, acabou por ditar a saída
de Ristic, que sendo sincero, pareceu desde logo um erro. O lateral que sempre
se comprometeu com a sua equipa, parecia ter condições para agarrar o lugar.
Consequência destas
mudanças… Jurasek não concretizou o que prometia, Bernat foi contratado para
dar tempo de adaptação ao colega e encontra-se sistematicamente lesionado e Ristic
acabou mesmo por partir para outro clube. Uma tremenda confusão!
A estabilização no centro
do ataque também tem sido um assunto em destaque. Gonçalo Ramos saiu já perto
do primeiro jogo oficial, deixando um tremendo buraco para ser tapado na
ofensiva encarnada. A questão inicial era mais do foro defensivo (!!!!) pois,
quem jogava na frente teria de pressionar e disponibilizar-se fisicamente da
mesma forma que Ramos fazia. O problema tornou-se maior quando finalmente os
adeptos se apercebem que deixaram, isso sim, de ter um goleador e uma
referência como 9 na sua equipa.
Petar Musa parecia ser o
seu sucessor e a equipa parecia sentir-se mais confortável consigo em campo, no
entanto, nunca pareceu recolher o consenso perante a equipa técnica. Na
primeira oportunidade que houve, Cabral passou a ser a escolha, mas saiu um tremendo
barrete até ao momento. No momento ofensivo e defensivo é um peixe fora de água
e não se conseguiu ainda entender o que de melhor poderá acrescentar à equipa.
É um jogador completamente inadaptado e em quem os adeptos parecem também não
acreditar, fruto do pouco que acrescentou e do que custou.
A última aposta, Tengstedt parece um jovem com algumas condições para singrar, no entanto, fruto de outros problemas dinâmicos da equipa, também continua sem ser servido nas melhores condições. Não demonstrou ainda ser um matador, mas parece cumprir alguns requisitos essenciais para a equipa técnica. Sobre a forma como é servido, veja-se a quantidade de gente que chega rapidamente ao último terço e a velocidade com que se mete a bola na área apanhando os defesas de frente para a baliza!
E toda esta confusão
acaba por ser demonstrativa daquilo que está a ser a época do SL Benfica. Como
poderás atacar uma época jogando da mesma forma e com os mesmos princípios,
quando os jogadores que tens são totalmente distintos? O Modelo de Jogo deverá
ajustar-se em função das caraterísticas do grupo e até ao momento, isso não
aconteceu.
Estamos a chegar ao virar
da 1ª volta e continuam dúvidas sobre o 11 que deverá iniciar de forma mais
regular, muito por a ideia não estar consolidada e ver-se uma série de
princípios que teimam em não ter resolução e ajustes para melhorar o futebol da
equipa. É até estranho que se continue a ver os jogadores a pressionar e/ou contrapressionar
de forma quase individual ou desfasada, não conseguindo incomodar o adversário
e recuperar bolas mais perto da baliza por mais vezes. O que se assiste é um
Benfica que nesse capítulo passou de dominar na perfeição os princípios e subprincípios
para sentir demasiadas dificuldades em condicionar o jogo dos adversários.
De estranhar será também
a dificuldade em solucionar o pouco compromisso defensivo de Di Maria com
dinâmicas que protejam a equipa. A solução não passa somente por ter mais
médios dentro de campo, mas sim passa por uma estratégia bem definida daquilo
que fazer no momento de perda e no momento sem bola, de forma a que quando a
equipa vá pressionar não seja apanhada em contrapé com a variação do centro de
jogo para o lado de Di Maria (veja-se o jogo com o Moreirense).
A última questão, passa também
pelo pouquíssimo aproveitamento das bolas paradas. Dá por vezes a sensação de
que nem há nada de muito planeado e este é um erro crasso numa equipa grande
pois, este tipo de fases são fundamentais para desbloquear um jogo. É tendência
bater cantos de forma mais curta, no entanto, não é só o sair curto por sair, a
bola terá de acabar dentro da área para não apanhar a equipa desequilibrada e
aproveitar-se alguma desatenção dos adversários.
Parece-me claro que houve
uma má gestão e planeamento do plantel até ao momento e que algumas contratações
serão erros de casting, no entanto, não é só por aí que a época do SL Benfica
estará a desviar-se do planeado numa altura tão importante a nível financeiro
como será a época 2024/2025.
Finalizando e para que se
tenha noção, o SL Benfica foi a equipa dos 4 grandes que venceu por menos vezes
com 13 vitórias em 22 jogos, contra 15 vitórias do Sporting CP em 21 jogos, 15
vitórias do FC Porto em 22 jogos e 16 vitórias do SC Braga em 25 jogos. Ainda
assim, continua o campeão nacional perto do cimo da tabela e a qualquer momento
tudo poderá mudar.
Há trabalho pela frente e chegou a altura de correr atrás ou deixar fugir, porque depois destes últimos acontecimentos está tudo em check e poderá ter consequências irreversíveis para o futuro. Chegarão os reforços para mascarar as fragilidades evidentes que a equipa tem demonstrado ou a dinâmica da equipa terá de ser alvo de reflexão e de mudança?
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