As referências numa estrutura, numa equipa e num grupo ajudam a que a identidade seja melhor desenvolvida. Há referências ativas e referências passivas, há os capitães de braçadeira e os capitães sem braçadeira e há os craques que resolvem jogos com o golo e os outros com a assistência ou com a interceção.
Há
depois jogadores que têm isto tudo, é o sonho de todos os treinadores, são
raros mas existem. Sabem o que melhor os caracteriza? Usualmente são os mais
acessíveis e humildes, são os que abrem o coração e deixam os irmãos de armas
entrar para lutar por um objetivo comum, olham pouco para as estatísticas e
injustiças, apenas entram em cada treino com o objetivo de dar tudo pela equipa
que representam e isto é o que suporta a construção de uma identidade.
Há
referências que por vezes não o são num projeto, mas que depois o são noutros, na
maioria das vezes isto é porque a atmosfera em redor não é propícia ao sucesso
e isso depois castiga no coletivo, mas também no reconhecimento individual.
Eu
acho que o tempo constrói a justiça na carreira dos jogadores, ver o que Márcio
e Amilcar vivem neste momento no Caxinas deixa-me cada vez mais crente disto
mesmo, são referências, merecem mais destaque pela carreira que tiveram e vão
tendo, são inspirações para os mais novos, exemplos enquanto comportamento, mas
também atitude, profissionalismo e valores que transmitem. Partilham uma aura e
energia de sucesso em seu redor. Juntemos isto a uma juventude com tanta
qualidade e sede, e percebemos que foi das melhores decisões e planificações
que podemos observar em Portugal nos últimos anos. Agradecem os Caxineiros,
agradece a Liga Placard, mas acima de tudo, agradeceremos nós no futuro quando
os jovens que partilham o tempo, o campo, treinos e jogos, que “roubam” as
experiências do Amilcar e Márcio, forem transportando isto tudo para as suas
carreiras e exibições futuras.
Mas
há mais, há aqueles que por onde passam só apresentam sucesso e que todas as
histórias são de um romance inequívoco entre as celebrações e a progressão. O
Ricardinho é uma bomba, sempre será, não tem uma história menos conseguida (ter
até pode ter, mas para o comum mortal seria um enorme sucesso).
O
Riga tem um plantel de qualidade, é verdade, mas e o rapaz (senhor) que aparece
na hora certa, que com limitações físicas, dor e sempre com cara de último
esforço, está ali na interceção decisiva, no remate da diferença e na chamada
de união, coesão defensiva e foco num objetivo? Podia ser coincidência, mas não
aconteceu com o ACCS naquela repescagem divina? Não se lembram que praticamente
sem treinar, com um projeto falido e moribundo, foram lutar olhos nos olhos
numa Meia Final da Champions e caíram de pé? É isto a verdadeira magia do Mago.
Recordem para sempre o golo frente à Sérvia, mas nunca esqueçam o todo: o
crescimento coletivo e a coesão e competitividade que todas as equipas por onde
passou, seja em que realidade for, apresentaram.
Em
suma, não é preciso ser-se o melhor de todos os tempos para se ser uma
referência, o Caxinas demonstra isso muito bem, foi uma estruturação do plantel
com muita lógica, conhecimento e qualidade, esperemos que sirva de exemplo para
outros clubes no futuro. E temos que ser sinceros, as referências são raras,
mas existem (o Caxinas até se dá ao luxo de ainda ter o Eskerda), mas muitas
vezes são os projetos que criam as referências, é química entre a identidade do
projeto e o perfil que identificam que posteriormente fabrica a referência.
Para
finalmente terminar, necessito ressalvar que o melhor de todos os tempos, com a
idade que tem e com a história que tem, continua aí para explicar o que é ter
impacto positivo, de longo termo e de sucesso, como se a bola que disputa fosse
a primeira e isto é o que deve ser partilhado, muito mais que um drible, é o
comportamento, princípios e carácter com que se enfrenta cada desafio!
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