Para aqueles que como eu consideram a Premier League a competição mais emocionante e espetacular do futebol mundial, e para aqueles que, como eu, torcem por resultados positivos da maior referência nacional de Treinadores, José Mourinho, não tem tido uma época fácil de digerir perante o poderio pontual e exibicional do Manchester City de Pep Guardiola. Mas mais do que em termos emocionais, em termos racionais uma noticia a meio da semana dá ao Futebol Português razões para sorrir: após uma primeira metade de época pouco conseguida ao leme do Sheffield Wednesday, que culminou com a sua saída, Carlos Carvalhal é contratado pelo Swansea City, lanterna vermelha da Premier League com o objetivo de salvar o clube da descida de divisão. Tal como Marco Silva, na temporada anterior, chega à Premier à 20ª jornada com 13 pontos no bolso. Teve a sua estreia no passado sábado contra o Watford de… Marco Silva.
Importa frisar que esta é uma tremenda vitória do Futebol Português no que diz respeito à qualidade dos seus Treinadores, que cada vez mais se assumem como os melhores Treinadores do mundo. Através de um rápido apanhado verificamos que o Treinador Português é o mais representado na Premier League se ignorarmos o Treinador de nacionalidade inglesa: são 3 os portugueses (José Mourinho, Marco Silva, Carlos Carvalhal). Segundo os rumores, o próprio Paulo Fonseca foi considerado para o banco do Everton e o líder isolado do Championship dá-se pelo nome de Nuno Espírito Santo. Que ótima achega, em tempos que o debate futebolístico em Portugal se centra em tudo menos Futebol.
Carvalhal assinou e viajou. Cinco horas de viagem revelou o técnico bracarense na conferência de imprensa com vista a dar o treino matinal no dia em que assinou. Dado o treino falou com os jornalistas. Disse que este ritmo frenético imposto por si próprio se deve à vontade do próprio em estar no banco em Vicarage Road.
E em Vicarage Road o que vimos do Watford x Swansea City? Um bom jogo, com duas equipas com gosto pela bola no chão, jogadas trabalhadas a potenciar os talentos que ambas as coletividades possuem. Depois vimos, gritantemente, uma equipa completamente à vontade perante as ideias do seu Treinador, entenda-se o Watford, e uma equipa a lutar contra as vontades de um Treinador que chegou dois dias antes do embate. E outra coisa não seria de esperar.
Montou Carvalhal um 4x4x2 com 4 médios na linha intermédia, com a particularidade de Renato Sanches ser um destro do lado esquerdo e Sam Clucas um canhoto do lado direito. Esta particularidade tinha como objetivo a projeção dos laterais Olson do lado esquerdo e Naughton do lado direito. Ofensivamente o que se verificou foi uma dificuldade gritante de ligar o jogo ofensivo a Jordan Ayew, que parece ser o grande craque da equipa, e Tony Abraham. Isto fazia com que todos os momentos de posse do Swansea se resumiam a zonas do campo demasiado defensivas, não tendo a equipa capacidade para desequilibrar depois de atrair. Boa capacidade na saída da zona de pressão e uma interessante habilidade de mudar o flanco do jogo, embora sempre com consequências nulas. Defensivamente destaque pela negativa no lance do 1x0, passividade defensiva de Federico Fernández no duelo com Okaka e Naughton do lado direito, que não corrige os apoios no momento da assistência de Okaka e negligencia a linha do fora-de-jogo que a sua linha defensiva estava a fazer. Quanto ao nosso Renato Sanches, uma exibição entre o melhor e o pior, onde é capaz de tomar uma decisão brilhante só ao alcance de uma visão de jogo apurada, como atirar um livre lateral quase para fora do estádio.
O resultado de 1x2 que deu a vitória ao técnico bracarense tem muito da sua autoria. Foi através do banco com as entradas de Nathan Dyer e Narshing que a vitória foi atingida. Através do alargar dos flancos, com jogadores tecnicamente mais capazes. E laterais mais comedidos, face aos companheiros que tinham pela frente. Uma vitória do querer e da vontade, consequência do discurso que tinha tido Carvalhal?
Sim. O discurso de Carvalhal na conversa com os jornalistas antes do jogo foi clara: há que elevar a moral destes jogadores, porque na verdade estão na Premier League, e se estão na Premier League é porque têm valor. Quanto ao ataque ao mercado, jogou à defesa e disse que ia reunir com o scouting para tomar decisões. Perante o jogo de sábado parece claro que, apesar da vitória, uma ida ao mercado se torna cabal às aspirações dos Swans, sobretudo para os flancos. E esperar pelo menos Wildfried Bony também será crucial. Poderá Rafa (S.L.Benfica) ter um papel a dizer neste Swansea de Carvalhal, como um médio destro do lado esquerdo, papel que o ex-Braga gosta de desempenhar?
Carvalhal é um Treinador de discurso fácil e elaborado, foi contratado para cumprir um milagre, mas seria ótimo que se conseguisse potenciar na Premier League. Um Treinador que, quanto a mim, nem sempre teve a melhor imprensa em Portugal. Um Treinador que tem um impacto imediato nas equipas que trabalha e que terá aqui o grande desafio da sua carreira. E um Treinador que em 90 minutos igualou o número de vitórias fora que o seu novo clube já tinha conquistado até agora. E um Treinador que em 90 minutos já tirou o seu novo clube da última posição. Porque os grandes trabalhos só estão ao alcance dos grandes Treinadores.
Pedro Cardoso
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