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A Crise do Sporting – O Que Foi e o Que Podia Ter Sido – Parte 1


                O que foi, hoje, e o que podia ter sido amanhã. Uma análise dos eventos da surreal crise no Sporting Clube de Portugal feita através de várias perspetivas. Desde quinta-feira, dia que marcava a visita do Sporting ao Wanda Metropolitano, estádio onde joga o Atlético de Simeone, uma das equipas mais fortes do Futebol, que quase hora após hora temos novidades em relação a esta crise, ora com posts de Bruno de Carvalho, todos eles candidatos a um Top de surrealidade, ora um comunicado do plantel do Sporting, ora reações a esta crise por elementos também eles ligados à vida do Sporting.
               Em jeito de resumo, considero importante realçar o estado do clube aquando da eleição que colocou Bruno de Carvalho como presidente do Sporting Clube de Portugal. Uma equipa de Futebol dizimada por uma estrutura completamente despreparada encabeçada por Godinho Lopes, que tinha contado com Ricardo Sá Pinto, Oceano, Franky Vercauteren e Jesualdo Ferreira no comando da equipa, que chegou a virar o campeonato em 12º lugar a mais de 30 pontos de atraso para os restantes candidatos ao título, que resultaria num ano impensável (pior resultado interno de sempre) e num novo presidente ao leme. Em relação às modalidades o Sporting tinha uma divisão de Futsal forte, que mantém hoje, mas a evolução nas modalidades, sob a nova direção, é notória. Tal como a situação financeira do clube. São estes os verdadeiros títulos ganhos por Bruno de Carvalho.
                É em relação a este pequeno resumo a que Bruno de Carvalho se refere, quando fala em ingratidão. Não deixa de ser necessário dizer que cinco anos volvidos os títulos ganhos no Futebol não são muitos para mostrar. Ainda assim, não deixa de ser inédito, que um clube que tem uma estratégia montada para criar instabilidade no clube rival, que tem amealhado os títulos que o Sporting não tem, consiga criar mais crises no próprio clube do que no alvo. Porque a verdade é esta: todas as crises vividas no Sporting este ano, são criadas pelo próprio Sporting.
                Da perspetiva do presidente Bruno de Carvalho, os seus posts são absolutamente ridículos. Acusar jogadores que contra Astana e Viktoria Plzen poderiam ter visto amarelo para limpar uma possível suspensão contra uma equipa mais forte, de não quererem jogar contra o Atlético de Madrid em Lisboa, por mais absurdos que os amarelos tenham sido, é ridículo e gravíssimo. Dizer que o Sporting jogou com 9 é ridículo porque todo o atleta está sujeito ao erro. Lançar um post, após reuniões que tinham como objetivo apaziguar o clima, três horas antes do jogo com o Paços de Ferreira é ridículo e completamente imprudente. A conferência de imprensa pós jogo e o tratamento a alguns jornalistas é ridículo. No fim disto tudo, o que fica? Uma imagem ridícula de um homem que acabará sozinho. 


                Na perspetiva dos jogadores, o verniz estalou. Perante as acusações daquele que deveria ser o primeiro a estar com eles, o plantel decidiu agir. Uma ação coletiva que contemplou um comunicado publicado nas redes sociais que descriminava a forma de atuar do seu presidente e que assegurava que o ser humano eventualmente erra mas que nunca os valores do Sporting Clube de Portugal deixaram de, honradamente, ser defendidos. Esta ação acaba por ser de difícil análise, porque ainda que se compreenda, pelo facto dos atletas entenderem que deviam defender o seu brio publicamente, o facto de tornarem algumas insatisfações públicas pode não ter sido a melhor ideia. Institucionalmente é uma ação repreensível. Mas este comunicado não surge só na ressaca do jogo de Madrid… é um palpite. Parece-me que o mau ambiente vem de algum tempo atrás tratando-se a passada quinta-feira na última gota de água. Na perspetiva dos jogadores, saem a perder, institucionalmente, saindo a ganhar na união preservada no balneário e transbordada para o jogo com o Paços de Ferreira.
                Desta feita, há que analisar a perspetiva dos grandes prejudicados, a perspetiva dos sócios e adeptos. Quem não se sente campeão desde 2001/2002 e continua ano após ano, semana após semana a encher Alvalade não merecia este folclore. Quando na Liga Europa são eliminados Astana e Viktoria Plzen (este com recurso a prolongamento), quando na Taça de Portugal não foi eliminada uma equipa da Primeira Liga (por circunstâncias do resultado do sorteio obviamente) até às meias-finais e com uma conquista da Taça da Liga com apenas uma vitória em cinco jogos, no tempo regulamentar, a expressão “estamos em todas as frentes”, apesar de verdadeira, não passa de uma lengalenga para enganar o mais distraído, porque o facto de o Sporting estar em todas as frentes não se trata de um feito, apenas de uma obrigação, dadas as circunstâncias, e mesmo perante isto o apoio esteve sempre lá, quer nos jogos em casa quer nos jogos fora, e raramente se ouviu uma contestação digna de ser enaltecida.

                Terminar este artigo de opinião com duas ideias que me parecem claras depois disto tudo:
è Parece haver uma grande necessidade dos sportinguistas de encontrar alguém finalmente lhes dê aquela alegria há tantos anos desejada. Uma espécie de messias, e Bruno de Carvalho foi até quinta-feira esse homem.
è A grande falha de Bruno de Carvalho foi não encontrar alguém que conseguisse persuadi-lo a agir de outra forma. Jorge Jesus parecia ser esse homem, mas os resultados fizeram com que essa influência se fosse perdendo, até que quebrou nestes últimos dias.

O que foi, hoje, o que podia ter sido, amanhã. Porque falta falar de uma pessoa que também foi parte integrante deste processo, o Treinador Jorge Jesus. E afinal o que foi? Uma crise descabida em que ninguém saiu a ganhar. E uma crise que dará aso a muita especulação e muito debate em relação ao futuro do Sporting Clube de Portugal.

Pedro Cardoso

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