Advertisement

Main Ad

Rigidez Tática


Jorge Jesus saberá melhor que ninguém que só uma regularidade exibicional e pontual permite a uma equipa alcançar o principal objetivo de final de época: a conquista do campeonato nacional. Ainda assim, Jorge Jesus saberá melhor que ninguém que a qualidade exibicional demonstrada pelo seu Sporting C.P. parece claramente insuficiente para alcançar esse objetivo por muita qualidade e quantidade que tenha no plantel.
            Nas duas últimas deslocações para o campeonato (Luz e Bonfim) o clube de Alvalade deixou fugir os três pontos já em tempo de compensação. Dois empates que são resultado de uma incapacidade do controlar a vantagem no marcador, tal como resultado de duas exibições bastante cinzentas especialmente no plano ofensivo. Dos 10 pontos perdidos pelo Sporting, 6 deles aconteceram por incapacidade de segurar vantagens (S.C.Braga, Benfica e Vitória de Setúbal), um 0-0 frente ao F.C.Porto e apenas 2 pontos perdidos depois de estar em desvantagem. Recordar que em casa frente à equipa de Abel Ferreira, a equipa de Jorge Jesus permitiu inclusive a remontada, mas acabou por ganhar um ponto na fase terminal da partida.
            Será justo dizer que frases como “o sofrimento faz parte da vida de uma equipa campeã” ou a necessidade de controlar o jogo sofrendo, não é uma virtude mas uma incapacidade. A verdade é que olho para este Sporting como uma equipa extremamente eficaz ofensivamente, no que diz respeito ao rácio de oportunidades criadas e oportunidades concretizadas. Justo será certamente dizer que este Sporting cria poucas oportunidades quando comparado com Porto e Benfica. Parece-me ser também justo dizer que o Modelo de Jogo do treinador do Sporting é taticamente mais rigoroso  que o dos restantes clubes grandes portugueses.
 Ora, apesar achar que um Treinador deve viver e morrer com as suas ideias, justifica-se que com um plantel com jogadores como Bruno Fernandes, Bryan Ruiz, Podence, Gelson Martins, Rúben Ribeiro, Fredy Montero, Fábio Coentrão, entre outros, jogadores com uma qualidade técnica individual acima da média, exista uma rigidez tática tão acentuada? Na minha opinião não, ou seja, entendo que o talento individual de um atleta é mais notório perante uma certa liberdade que o próprio jogador possa sentir, uma certa margem de manobra para “inventar”. A exemplo, no lance do 1-0 do Sporting x Aves na semana passada, Rúben Ribeiro privado da tal rigidez tática imposta aos jogadores mais avançados no campo, muitas vezes até pisando os mesmos terrenos de Bruno Fernandes, o ex-Rio-Ave “inventou” uma jogada de génio que levanta qualquer estádio, Bas Dost para o golo que desbloquearia uma partida que teve um Aves atrevido na primeira meia-hora. Beneficiará o rendimento de Rúben Ribeiro com a tal rigidez tática? Tenho as minhas dúvidas… 


   Um bom exemplo desta diferença entre rigidez e liberdade, sem que estes dois conceitos não representem a totalidade da sua significação, está, a meu ver, no Liverpool de Klopp. Olhando para a equipa que acabou com a invencibilidade interna do Manchester City de Pep Guardiola, por vezes parece que olhamos para uma corrida desenfreada dos seus jogadores mais ofensivos, não resultante da velocidade de jogadores como Mané, Firmino e Salah. Mas de facto, parece-me que o talento destes três é potenciado pela liberdade que lhes é dada, até porque permitam-me escrever que, o talento destes três a isto obriga.
  Ter-se-á Jorge Jesus iludido pelo cognome “Mestre da Tática” a ponto de negligenciar a imprevisibilidade do próprio jogo? Por muita fé que tenha no seu processo defensivo e nos jogadores que preenchem a sua linha mais recuada, a opção por abdicar de uma atitude de procurar avolumar as suas vantagens, como aconteceu na Luz faz sentido? Caso faça será difícil explicar tantos pontos perdidos após vantagens alcançadas, pontos esses que cada vez mais parece que farão muita falta, no momento de se fazerem as contas. 

Pedro Cardoso

Enviar um comentário

0 Comentários