Nem todos os Treinadores têm a sorte de ter à sua disposição um plantel
com vinte e sete jogadores: vinte e quatro jogadores de campo e três
guarda-redes. Nem todos os Treinadores têm a sorte de poder ir buscar jogadores
à Equipa B sempre que necessário. E nem todos os Treinadores têm a sorte de
pertencer a uma estrutura em que os jogadores do escalão abaixo podem “subir”
sem restrições à sua equipa. Aliás, alguns nem sequer têm o escalão abaixo do
seu para poder suprir uma eventual necessidade...
Ou seja, há Treinadores que acabam por ter de saber lidar com um plantel
curto (em opções) à sua maneira, sendo certo que nunca é fácil trabalhar com
plantéis parcos em opções, por muita polivaliência que exista no seio do grupo.
É fácil constatar que há jogadores que se acomodam com a sua situação, seja ela
a de suplente, seja ela a de titular, pois sabem que basta irem aos treinos (na
realidade amadora é tão comum) para serem convocados. Nem sequer precisam de ir
treinar, basta apenas irem aos treinos!
Ora, este cenário está longe de ser ideal para quem deseja fazer um bom
trabalho e ser reconhecido. Mais longe ainda para quem deseja fazer um bom
trabalho, ser reconhecido e chegar ao Profissionalismo, tanto em Portugal como
fora de portas.
Imagine agora o leitor que é Treinador de um plantel sénior com apenas dezasseis
jogadores (dois guarda-redes e quatorze jogadores de campo). O que faria para
motivar um plantel que não chega a completar uma ficha de jogo? O que faria
para motivar um grupo de trabalho cujos jogadores precisam apenas de ir aos
treinos para conseguirem ser convocados? Como conseguir que este mesmo plantel
assimile, alcance e demonstre qualidade de jogo (ou seja, qualidade de
trabalho)?
Não havendo uma resposta certeira nem uma fórmula mágica, vou avançar com
uma opção que, a princípio, tanto poderá parecer-vos estranha (caso nunca
tenham pensado nisso) como poderá fazer sentido (caso já tenham seguido por
este caminho). E essa opção é...a alternância dos sistemas tácticos da equipa.
Acredito que alguns leitores possam considerar este argumento como um
ultraje ou uma infâmia futebolística. Aceito toda e qualquer leitura, mas sei
que só podemos valorizar ou condenar uma ideia/um argumento depois de a/o
utilizarmos e a/o tentarmos colocar em prática. E sendo certo que a cada
Treinador cabe a responsabilidade de conhecer o seu grupo de trabalho ao ponto
de poder decidir o que é melhor para ele...
Importa dizer que se o leitor pretende enveredar por este caminho (a
alternância dos sistemas tácticos da equipa), então é porque conhece
perfeitamente bem os seus pupilos e sabe que eles vão reagir positivamente aos
novos estímulos apresentados por si e pela sua equipa técnica sempre que necessário.
Sabe que eles estarão dispostos a aprender e a assimilar novas ideias e novos
conceitos porque estão ávidos de aprendizagem. E isso é extremamente
gratificante para um Treinador. Especialmente ao nível sénior...
Mas, afinal, é mesmo possível seguir este caminho? Estar sempre a alterar
o sistema táctico da equipa?
Nem sempre, nem nunca, como diria o Povo. Mas eu defendo que uma boa
equipa deve saber jogar de várias formas, tenham elas por base o mesmo Modelo
de Jogo ou não. Acredito, e trabalho nesse sentido, que uma equipa deve saber
jogar em, pelo menos, três sistemas tácticos diferentes: um com quatro defesas,
x médios e um avançado (1x4x3x3, 1x4x2x3x1, 1x4x4x1x1), um com quatro defesas,
x médios e dois avançados (1x4x4x2 clássico, 1x4x4x2 losango, 1x4x1x3x2) e um
sistema com três defesas (1x3x5x2, 1x3x4x3 clássico, 1x3x4x3 losango).
Mesmo a nível distrital? Claro. E porque não? Mesmo a nível distrital.
Não pode haver desculpas. Só se desculpa quem é preguiçoso ou quem não ousa
fazer algo diferente!
E se ainda duvidam que trabalhar vários sistemas tácticos e
alterná-los de quando em vez no momento de preparar o próximo jogo é benéfico
para a potencialização dos índices anímicos de uma equipa, deixem-me que vos
diga que é uma das melhores e mais eficazes formas de manter todos os jogadores
disponíveis para o trabalho e motivados para o treino e para o jogo.
Porque nem todos se adaptam aos mesmos sistemas tácticos. Porque há uns
que sobressaem mais a jogar sozinhos no corredor central do meio-campo. Porque
há defesas-laterais que se destacam mais num determinado sistema que não exija
demasiado apoio ofensivo da sua parte. Porque há avançados que “casam” muito bem
com outros avançados. E isso leva a que todos acreditem que podem jogar.
Porque, de facto, podem! E jogam! Basta que o Treinador não “trema” a partir do
momento em que decida trilhar este caminho...
Tenho tido a particularidade de trabalhar sempre com plantéis reduzidos.
Antes na Formação, agora nos Seniores. E com o passar dos anos dei-me conta de
que os jogadores querem ganhar, mas querem essencialmente estar motivados, pois
sem motivação não podem render e, consequentemente, ganhar.
Como tal, tenho aprendido que um plantel curto pode ser motivado através
dos sistemas tácticos. Neste caso, da alternância dos sistemas tácticos e da
riqueza que pode advir dessa mesma situação. Não é um caminho fácil, mas, se
fosse, não seria para nós, pois não, caros Leitores/Treinadores?
Laurindo Filho
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