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Que Tipo de Treinador Quero Ser? Eu Mesmo...


Periodização Táctica. Descoberta Guiada. Kick and Rush (vulgarmente conhecido como “estica na frente” em Portugal). Eis apenas algumas das correntes ideológicas presentes no Futebol Moderno, umas mais recentes e outras mais antigas, mas todas elas figuras recorrentes em qualquer conversa de café, em qualquer conversa via chat ou em qualquer Tertúlia entre Treinadores.
É verdade que a Descoberta Guiada tanto pode ser aplicada na Periodização Táctica como no “Estica na Frente”, mas não deixa de ser uma forma autónoma de pensar e operacionalizar o treino, a meu ver. Daí que a tenha incluído neste rol de ideologias futebolísticas que, cada vez mais, tendem a ser assuntos de debate e discussão, seja em fóruns específicos para o efeito, seja entre os mais comuns dos mortais.
Cada vez mais dou-me conta de que há Treinadores que sentem uma certa necessidade de se encaixarem num determinado contexto, numa determinada ideologia. Como se disso dependesse a sua afirmação. Como se disso dependesse o seu sucesso. Como se disso dependesse a validade das suas ideias, da sua forma de pensar e operacionalizar o treino.
Talvez por isso a palavra “Processos” tenha ganho a dimensão que ganhou nos últimos tempos. Se repararmos bem, 9 em cada 10 pessoas que falam de Futebol acabam por mencionar o termo “Processos” nas suas conversas. Os “Processos” passaram a estar na moda e, de um dia para o outro, passamos a associar de forma espontânea e natural essa palavra ao Futebol. E passamos também a associar os “Processos” a um determinado estilo de jogo, como se, por exemplo, apenas Pep Guardiola tivesse Processo de Treino.
É curioso estar a falar disto, pois sou um acérrimo defensor daquilo que acredito ser o Processo de Treino. Podem ler isso mesmo aqui. E sou fã de Guardiola. Considero Don Pep o mais iluminado Treinador da História do Futebol. Pelo menos da História que vivi e testemunhei. Mas não deixa de ser curioso que alguém que defende acerrimamente o Processo de Treino venha escrever acerca disso numa perspectiva que poderá levar o leitor a pensar exactamente o oposto.


O Processo de Treino existe. Ponto final. Mas não é um dom único e exclusivo de quem procura jogar futebol apoiado, com passes curtos e triangulações. Todos os Modelos de Jogo têm o seu Processo de Treino, pois é através dele que treinam aquilo que querem para o jogo. Pouco importa se o treino é, como ainda hoje se faz em muitos clubes (infelizmente), chegar, mobilizar, fazer de conta que se alonga e siga para uma peladinha. Isso também é um Processo de Treino. Porque é a forma como o Treinador em questão entende que os seus jogadores ficam mais preparados para o jogo.
Eu não concordo com essa postura. Creio que quem o faz é um facilitista, é alguém que não deveria estar a treinar uma equipa e muito menos estar a ser remunerado para estar a orientar uma equipa. Mas não posso ser fundamentalista ao ponto de dizer que o “Treinador Y não tem Processo de Treino porque só faz umas peladinhas, nem sequer trabalha rotinas e passa uma época inteira sem trabalhar bolas paradas”. Não posso.
O que posso, e devo, é dar o exemplo...
Daí que regresso à parte em que muitos dos actuais Treinadores de Futebol sentem aquela necessidade de integração em determinadas ideologias, sendo a Periodização Táctica o novo Santo Graal do Futebol em Portugal.
Não deveremos nós, Treinadores, querer ser apenas e só nós mesmos, vivermos e convivermos bem com as nossas ideias, em primeiro lugar e antes de tudo, em vez de nos querermos ver com um determinado rótulo futebolístico só para parecer bem? O que ganho eu, por exemplo, que ainda sou amador e trabalho nos distritais, se for conotado com a Periodização Táctica? Irei chegar mais rapidamente ao Profissionalismo? Conseguirei chegar aos grandes clubes europeus mais depressa graças a isso?


Um dos futuros melhores Treinadores de Guarda-Redes do Futebol Português (acreditem no que vos digo) diz que eu sou um Treinador da Periodização Táctica. Ele já trabalhou comigo e felizmente já seguiu para patamares mais altos em relação a mim. E sempre que ele me diz isso eu...sorrio. Apenas sorrio.
Não sei se ele tem razão ou não. Não é esse o meu foco. Não é essa a minha preocupação. O que me preocupa é seguir as minhas ideias. O que me preocupa é seguir os meus instintos. O que me preocupa é ser autêntico.
Por mais que leia, por mais que eu estude, por mais que eu pesquise, por mais que troque ideias com inúmeras pessoas ligadas às mais distintas áreas, o que me importa é ser eu mesmo. Porque é disso que dependem as minhas ideias. Porque é disso que depende o meu Processo de Treino. Porque é disso que depende o meu futuro.
E no final do dia, sempre que eu me pergunto que tipo de Treinador eu quero ser, a resposta acaba por ser sempre a mesma: quero ser eu mesmo... 

                                                                         Laurindo Filho


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