Cavani, Neymar e Dani Alves, como coadjuvante do astro brasileiro, qual
Robin auxiliando Batman. Três jogadores de Futebol pagos a peso de ouro, três
jogadores com um lugar garantido na História do Futebol Mundial (cada um com o
seu “peso” e a sua “expressão” dentro do desporto-rei), três jogadores a actuar
juntos na mesma equipa, o PSG, mas com diferentes anos de casa. Três jogadores
envolvidos na mais recente batalha de egos protagonizada no Futebol.
Talvez seja importante começar por aquilo que é mais notório. O que se
passou no último fim-de-semana em Paris mais não foi (e mais não é) do que uma
batalha de egos. Mais não foi...ainda! Porque de domingo em diante estou em
crer que nada mais será como antes nos balneários da equipa parisiense.
“Estalou o verniz”, como se costuma dizer na gíria popular. Mas já lá vamos...
Importa antes perceber o contexto em que isto acontece. Porque tudo nas
nossas Vidas depende do contexto em que estamos inseridos (seja ele social, económico,
cultural ou desportivo). O contexto molda-nos, ou pode moldar-nos, se quisermos
ser mais precisos. O contexto influencia-nos, ou pode influenciar-nos, se assim
o desejarmos e permitirmos. E o contexto “PSG” é, de facto, um contexto único e
irrepetível (diria eu) ao nível do Futebol Mundial, por estes dias.
Cavani está em França desde 2013/2014. Caminha para a sua quinta época ao
serviço do clube parisiense, ao serviço do qual marcou 139 golos em 206 jogos,
e com o qual renovou recentemente o contrato até Junho de 2020. Viveu alguns
anos na sombra de Ibrahimovic, tendo que aprender a jogar como “falso”
extremo-direito/esquerdo para poder coabitar com o astro sueco no onze inicial.
E Cavani foi sempre um “9” de eleição em todos os clubes por onde passou.
Mas soube “comer o seu arroz”, como se diz na gíria futebolística. Soube
conviver com o enorme ego de Zlatan e soube esperar pelo seu momento. O qual
chegou no início da época passado, quando Ibrahimovic seguiu para Old Trafford
e deixou o centro do ataque parisiense à espera dos dotes do goleador uruguaio.
Cavani agradeceu e respondeu com golos. Muitos golos...
(Créditos: ZezoCartoons)
Porém este ano tudo parece estar prestes a mudar. Cavani já não é o
centro das atenções. Di Maria, Rabiot, Lucas Moura, Draxler são bons executantes,
mas possuem perfis discretos e personalidades que parecem fáceis de se lidar
(parecem, porque não estou lá a trabalhar com eles). Chegou Mbappé, uma estrela
em ascensão low-profile (até ver), mas chegaram também duas personalidades
extremamente fortes: Dani Alves e Neymar. E com a chegada desta dupla
brasileira parece ter chegado igualmente uma nova ordem de liderança dentro do
balneário...
Todos conhecemos Dani Alves. O talento que exibe dentro de campo só é
comparável à força e ao poder da sua personalidade. Diz o que pensa, faz o que
diz, não se coíbe de emitir opiniões mais controversas, enfim, todo ele é
magnetismo em termos de personalidade. Tem carisma. E o carisma aliado à
qualidade como jogador de Futebol fazem dele um líder, ao meu ver. Um líder com
uma ligação muito forte ao mais recente reforço do PSG: Neymar.
Que Neymar é um menino mimado, já todos o sabemos. Desde os tempos do
Santos FC. Protagonista de muitas histórias que comprovam o seu “mau feitio” e
a sua infantil tendência para as “birras” sempre que é contrariado, talvez a
mais famosa tenha ocorrido com Dorival Júnior, em 2010 (Neymar tinha então 18
anos), quando o jovem prodígio santista “chamou nomes” ao seu Treinador por
este ter dado indicações para que outro jogador que não Neymar batesse o
penalty sofrido pelo próprio Neymar. Dorival Júnior deixou-o de fora da
convocatória do jogo seguinte, Neymar fez “birra” e o Treinador foi demitido
pela Direcção do Santos FC, tendo sido acusado de, pasme-se, insubordinação!
Perante isto, há alguém que possa dizer ter ficado surpreendido com a
reacção do jogador mais caro da História do Futebol no passado fim-de-semana?
Há alguém que possa dizer que a sua reacção foi normal, principalmente se
tivermos em conta que Neymar saiu do Barcelona porque estava “cansado” de estar
à sombra de Messi (só o mais genial de todos os jogadores de Futebol que alguma
vez vi)? Eu não fiquei. Minimamente. E a julgar pelo que diz o jornal
“L’Equipe”, o episódio não ficou por ali e arrastou-se até aos balneários logo
após o final da partida.
E o que faz um Treinador perante isto? Unay Emery já veio dizer que vai
solicitar a ambos os jogadores que se entendam e que, caso não haja
entendimento, irá decidir aquilo que for o melhor para a equipa. Alguém
acredita nisso? Que Cavani e Neymar vão entender-se? Ou que o Treinador
espanhol vai decidir realmente o que é melhor para a equipa...se isso for
manter Cavani como o “homem das bolas paradas”? Os 222 milhões de euros gastos
na aquisição de Neymar não vão influenciar a tomada de decisão de Emery?
Como Treinadores, penso que devemos, de facto, pugnar pelo equilíbrio
dentro do balneário, ter em consideração os vários egos e as variadíssimas
personalidades que lideramos. Mas para isso é necessário sermos, na verdadeira
acepção da palavra, líderes. É necessário que as regras sejam ditadas por nós,
que ninguém esteja acima dos interesses colectivos da equipa e que ninguém
esteja acima dos interesses do clube.
Como Treinadores, devemos fazer valer o nosso estilo de liderança, não
abdicando nunca das nossas crenças e dos nossos valores, pois isso seria uma
traição à nossa própria pessoa. E devemos estar dispostos a ter e desenvolver o
chamado “jogo de cintura” ideal para, sem abdicarmos daquilo que acreditamos,
conseguirmos impor a nossa “lei”, pois dela depende o equilíbrio de um
balneário.
Não é fácil, tenho a certeza, lidar com egos como os de Dani Alves,
Neymar, Cavani e companhia. Não é, já se percebeu. Mas ninguém disse que gerir
personalidades seria fácil. Em Portugal tivemos um caso recentemente que em
nada belisca o trajecto anterior e posterior do Treinador em questão (Paulo
Fonseca), mas que nos mostrou o que pode acontecer a um balneário quando o
Treinador não consegue fazer valer a sua liderança.
Acontecerá o mesmo no PSG? Arrisco-me a dizer que Unay Emery só se mantém
até ao final da época se, para além da conquista de títulos, der primazia e
destaque a Neymar. Tudo o que não passe por esse caminho será o fim da linha
para o comandante espanhol, pois o astro brasileiro não vai ficar satisfeito e
ter 222 milhões insatisfeitos pode ser considerado um acto de má gestão por
parte do dono do clube...
Tem a palavra o Treinador do PSG:
ou mostra carácter e corre o risco de sair, ou “faz-se” de desentendido e
coloca Neymar no topo da hierarquia parisiense, num balneário repleto de
jogadores brasileiros (Tiago Silva, Marquinhos, Lucas Moura, Dani Alves,
Neymar, Thiago Motta [ítalo-brasileiro]). Percebem onde quero chegar?
Laurindo Filho
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