Com as movimentações do mercado na ordem do dia, sendo nós bombardeados com notícias (a maior parte delas extravagantes) de possíveis entradas e saídas dos planteis das principais equipas europeias, entre os rumores e as barbaridades, as especulações e as capas de jornais que vão coleccionando dia após dia novas possibilidades de aquisições, cabe colocar algum gelo nesta discussão. Mas é possível tentar visionar os contornos da próxima época. Vamos tentar fazê-lo ao longo das semanas que se seguem, analisando equipa a equipa, tanto nacionais como estrangeiras.
Para início de análise vou falar
do Futebol Clube do Porto e tentar perspetivar aquilo que será um caminho que
consigo árduo para o clube da Invicta. Digo árduo devido às obrigações
financeiras a que o F.C.Porto está sujeito para com a UEFA pelo incumprimento
das regras do fair-play financeiro. Este acontecimento leva a que os dragões
tenham que vender para garantir um influxo financeiro considerável. Tais
necessidades já levaram o clube a abrir mão de André Silva. Por várias razões
André Silva era imprescindível ao Porto. Pelos golos, por ser uma referência da
formação do clube, pelos números que está a conquistar na seleção nacional
entendo que cada vez mais a equipa do Porto deveria ser construída a volta de
André Silva. Todavia, 38 milhões de euros trata-se de um bom negócio, e
entendo-o só bom porque daqui a um ano poderia valer mais.
Depois da saída de André Silva, outras acontecerão. À cabeça, vejo como insustentáveis, para um clube que, não só se vê na obrigação de vender, como baixar o seu orçamento para a nova época, a permanência de Iker Casillas e Maxi Pereira. Infelizmente, porque dois jogadores deste calibre e experiência só enriquecem o Futebol Português. Mas os salários monstruosos destes dois jogadores parecem incomportáveis para a nova realidade portista. Na lateral direita, abre-se aqui um debate interessante. Admitamos que Maxi não fica no Porto. O que fazer com Ricardo Pereira? Ricardo Pereira, por muitos considerado o melhor lateral do campeonato francês nos últimos dois anos, viajou até Nice para crescer como jogador, ganhar mercado, sendo neste momento um dos laterais direitos mais cobiçados da Europa. A dúvida é a seguinte: aproveitar o possível encaixe financeiro que Ricardo Pereira pode dar ao F.C.Porto ou aproveitar a grande qualidade que o lateral lisboeta pode oferecer à lateral direita? Tem mais do que talento para se inserir num lote, que nos últimos anos contou com Danilo e Maxi Pereira, contudo, parece mais provável que seja o segundo activo a abandonar a Invicta. André Silva sai sem provar onde pode chegar de dragão ao peito. Ricardo Pereira pior. São tempos que requisitam muita paciência.
Para enfrentar
este ano difícil que se avizinha temos Sérgio Conceição como novo líder do
dragão. A grande novidade que advém desta escolha está no perfil do treinador e
nas mudanças que forçosamente, segundo as suas ideias, imperarão. A
tranquilidade de Nuno transforma-se agora no choque com Conceição. Choque
perante a imprensa e mesmo perante os seus jogadores. A paciência transforma-se
numa necessidade constante de exigir o máximo, e ainda mais, aos jogadores do
Futebol Clube do Porto. Com Sérgio Conceição sabemos que os jogadores do Porto
correrão mais que os outros. A dúvida está em perceber duas coisas: a primeira
relacionada com o que foi analisado anteriormente, ou seja, tem a ver com a incerteza
relativamente à qualidade do plantel e se o plantel garante o Porto poderá lutar
pelo título sendo que, não tenho assim tanta certeza que garanta. A segunda tem a ver com
o Modelo de Jogo de Sérgio Conceição. Mesmo aquando da sua passagem pelo
S.C.Braga nunca imperou um estilo de jogo de posse, que não só vença como
domine o seu adversário. Conhecemos a exigência da plateia portista: esta
plateia quer ver a sua equipa vencer e convencer.
Outras
curiosidades no que concerne o plantel do Futebol Clube do Porto para 2017/2018
tem a ver com a utilização dos emprestados. Já analisámos a questão de Ricardo
Pereira e do quão importante a venda do seu passe pode significar para o
balanceamento das contas portistas. Em destaque estiveram também Moussa Marega
e Hernâni emprestados ao Vitória de Guimarães, e poderão ser surpresas para a
nova época. Com menor possibilidade temos Juan Quintero, um portento de técnica
individual mas que nunca conseguiu mostrar o seu talento na Invicta e Diego
Reyes que nunca pareceu dar o salto no dragão. No que diz respeito a Vincent
Aboubakar, o seu regresso parece impossível de acontecer devido à sua difícil
saída na temporada passada.
Rematando a
análise, projectar a época 2017/2018 do Futebol Clube do Porto é considerar o
clube como “outsider” na conquista do título. Por muito que aprecie Sérgio
Conceição e ache que ele é o homem certo para a realidade em que o clube se
encontra, o que Pinto da Costa parece pedir ao novo timoneiro é que supere
Julien Lopetegui e Nuno Espírito Santo com menos… muito menos. Recordemos a
época de Paulo Fonseca, que se tornou um dos treinadores portugueses mais
apreciados na Europa, campeão ucraniano, e compreendamos que, apesar de o
próprio já ter admitido que na altura não estava preparado para o desafio, essa
época o Porto atacava o título com uma equipa, em termos de qualidade bem menos
dotada do que em anos anteriores. Este ano acontecerá igual. Cabe a Conceição
encontrar estratégias para potenciar os seus jogadores, tanto a nível interno
como externo, e encontrar soluções para colmatar as saídas. Vital será também
frisar que o ataque ao mercado terá de ser cirúrgico e certeiro, ainda que não
se perspectivem muitas entradas.
Pedro Cardoso
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