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Os Timings de Evolução de um Jogador


E de repente, como se alguém houvesse feito magia, Francisco Román Alarcón Suárez é o novo menino-bonito do Real Madrid, o novo rosto da estética, da mestria, da classe e do futebol perfumado dos merengues. Não sabem a quem me refiro? Falo de Isco, pois claro.
Depois da enésima lesão de Gareth Bale, o craque galês por quem Florentino Pérez morre de amores e que tem sido “proclamado à força” como o símbolo do futuro próximo do Real Madrid, Zinedine Zidane deparou-se com uma questão: manter o seu habitual 1x4x3x3, lançando Lucas Vásquez ou Marco Asensio para o lugar de Bale…ou procurar um novo figurino táctico que não só permitisse a melhoria da equipa (a todos os níveis, em todos os Momentos e em todas as Fases do Jogo), como também permitisse a Isco que explanasse a sua verdadeira essência futebolística?
Os leitores já sabem a resposta. Zidane apostou em Isco, alterou o seu sistema táctico para um 1x4x4x2 Losango e a equipa passou a jogar de forma mais harmoniosa, de forma mais criteriosa, de forma mais cerebral. Acabaram-se as loucas e desenfreadas cavalgadas pelos flancos (levadas a cabo principalmente por Bale), o futebol praticado pelos merengues passou a ter mais tiki-taka do que o próprio Barcelona de Luis Enrique, Kroos e Modric passaram a ser ainda mais importantes, Cristiano Ronaldo e Benzema continuaram a ser extremamente bem solicitados, acabaram-se os desequilíbrios defensivos, enfim, tudo pareceu melhorar (e de que maneira!) com a entrada de Isco.


Obviamente que Isco, por si só, não operou nenhum milagre futebolístico no conjunto orientado por Zidane. Tão pouco revolucionou a forma de defender do Real Madrid que antes, e com Bale e o 1x4x3x3 do início a época, era tão fortemente criticada pelos adeptos e pela imprensa em geral. Mas Isco mudou muita coisa na forma de jogar do Real Madrid.
No entanto, o que terá mudado em Isco para conseguir ter um impacto tão grande e notório numa equipa tão poderosa como o Real Madrid? E, mais importante ainda, terá Zidane desenvolvido algum tipo de trabalho especial com o craque espanhol que o levasse a atingir os patamares exibicionais que vimos neste final de época?
A meu ver, não houve nenhum trabalho especial de Zidane para com Isco. Não acredito que lhe tenha dispensado nenhum tipo de atenção extra com o intuito de potenciar as suas qualidades e as colocar em prol da equipa. E, como tal, não creio que Isco tenha “mudado” graças a um suposto trabalho extra ou extra-especial…
O que terá acontecido então?


 Aconteceu algo perfeitamente natural num futebolista profissional: a sua evolução. Mas Isco não poderia ter evoluído antes, mais cedo? Poderia…se o seu Timing de Evolução assim o tivesse permitido.
Os futebolistas não são máquinas programáveis que rendem o que o Treinador quer, quando o Treinador quer, onde o Treinador quer. Para além de todo o trabalho levado a cabo pelo Treinador, há factores que são imponderáveis e impossíveis de controlar, sendo que o Timing de Evolução é um dos mais difíceis de “controlar”, na minha opinião. Ou não fosse um factor que depende essencialmente das capacidades cognitivas e volitivas dos jogadores com que trabalhamos.
Mkhitaryan é mais um belo exemplo disso. Chegou a Inglaterra, não conseguiu impor-se imediatamente no Manchester United de José Mourinho, lesionou-se e, quando se esperava ainda mais dificuldades para ganhar um lugar no onze inicial dos red devils…”pegou de estaca” e foi durante largas semanas o MVP do United. E Mkhitaryan já é um “jogador feito”, como se costuma dizer, não é nenhum jovem rookie nem um jogador pouco talentoso ou pouco inteligente. Antes pelo contrário...


Lembram-se do João Mário? Aquela estrela cintilante que brilhou nos relvados nacionais ao serviço do Sporting CP e que brilhou ainda mais ao serviço da Selecção Nacional no Euro 2016? E que depois foi transferido por 45 milhões de euros para a Internazionale Milano?
Por estes dias o jovem craque português tem estado afastado do grupo por motivos supostamente disciplinares. Além disso o seu rendimento desportivo tem estado muito aquém das expectativas. Obviamente que os três Treinadores que comandaram a equipa milanesa e a instabilidade directiva do clube em nada contribuíram para essa época menos positiva de João Mário…Em nada, pois não?
E perante esta época de menor fulgor, há alguém que acredita que o ex-Sporting CP perdeu qualidades ou foi uma “contratação enganosa”? Há alguém que acredita que João Mário será um flop em Itália só porque não se afirmou num clube organizacionalmente tão caótico como o trânsito de Calcutá? Claro que não. O que se passa é que o seu Timing de Evolução, dentro do Calcio e de tudo o que o envolve, ainda não foi atingido.
Para terminar, uma chamada de atenção para todos os Treinadores de Futebol, quer trabalhem na Formação, quer trabalhem apenas com Seniores. Todos os jogadores têm o seu próprio Timing de Evolução. Não podemos nem devemos apressá-lo, seja em que circunstância for, sob pena de arruinarmos as possibilidades de evolução do atleta.

                                                                         Laurindo Filho

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