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Pensar o Treino: Onde, Quando, O Quê, Como…


Um dos temas mais em voga no que toca a Guarda-Redes, seja em treino ou competição, é a tomada de decisão. Hoje todos falam em tomada de decisão e todos treinam a tomada de decisão. Ou pelo menos é isso que pretendem fazer. Mas afinal o que é isso da tomada de decisão?
A tomada de decisão é um processo dinâmico através do qual reunimos um conjunto de dados internos e externos, analisamos esses dados e, em função de um objectivo, orientamos o nosso comportamento num determinado sentido. Visto desta forma pode parecer um processo simples e por consequência fácil de desmontar e replicar. Engana-se quem assim pensa.
Qualquer decisão, por mais simples que possa parecer, tem sempre reflexo no nosso presente e futuro. É portanto facilmente compreensível que seja um tema importante no Futebol, uma modalidade desportiva na qual uma decisão pode alterar o rumo de um jogo, mudar um vida ou fazer movimentar milhões. Mais importante é quando quem toma a última decisão, no último instante, se situa entre a bola e a linha de golo. Na esmagadora maioria dessas situações essa pessoa é o Guarda-Redes. Imaginem a pressão sob a qual, em certas situações, um Guarda-Redes se vê forçado a tomar uma decisão. Indescritível, certo?
Algumas questões que considero fundamentais responder são como é que os Guarda-Redes tomam decisões? Quais são os dados que os Guarda-Redes recolhem? De que forma os analisam? Qual é a sua decisão e o resultado da mesma? Como estamos a treinar este processo de decisão? E, acima de tudo, o que torna uma decisão boa ou má?
Desafio-vos a responderem a estas questões, a falar com os vossos Guarda-Redes (Treinadores gerais ou específicos), com os vossos colegas (Guarda-Redes e restantes jogadores) ou com os vossos conhecidos (adeptos, família, amigos). Já está? Podem continuar…

Deixo-vos agora aquilo que eu penso sobre esta temática.

Em primeiro lugar, concebo a tomada de decisão pelo Guarda-Redes em pelo menos três partes. Em jogo, o Guarda-Redes numa determinada situação toma em simultâneo 3 decisões, duas tácticas e uma técnica: Onde estar? O que fazer? Como o fazer?
Imaginem uma situação de cruzamento, no momento imediatamente após o pontapé na bola. Visualizem tudo em câmara lenta e observem um Guarda-Redes (ou a vocês mesmos) nessa posição. A trajectória da bola é rapidamente definida por vocês e, em breve, devem ter a resposta sobre onde estar. A visão periférica permite-vos vislumbrar quantos jogadores estão na área e quais constituem perigo e segurança, e isso ajuda-vos a decidir o que fazer. Rapidamente a bola chega perto da baliza e aí decidem como o vão fazer. Complexo? Visto desta forma pode até não o parecer, mas é. Sobretudo pela velocidade com que são calculadas as taxas de sucesso de outras opções válidas para aquele momento. Existe um pequeno problema…o tempo está a passar e têm, no máximo, 1 a 2 segundos para escolher a melhor. Boa sorte!
Em segundo lugar, continua-se a tratar a tomada de decisão como um processo completamente consciente e sob o nosso inteiro controlo. Mas com o parágrafo anterior podem rapidamente deduzir que a quantidade de dados que temos que processar, conjuntamente com a quantidade de opções que temos que analisar num espaço tão curto de tempo, torna esta tarefa impossível de ser executada a um nível exclusivamente consciente. É aqui que entra o nosso inconsciente. É aqui que se diferencia um Guarda-Redes de topo, de um que joga apenas aos fins-de-semana com os amigos. É aqui que entram todos os automatismos e toda a aprendizagem realizada em treinos e jogos. O inconsciente desempenha um papel determinante na tomada de decisão, muitas vezes esquecido pelos treinadores.
Quantas vezes vi Treinadores a exigirem aos seus Guarda-Redes que larguem uma primeira bola para defender outra? A pedirem ao seu Guarda-Redes para lhes passar a bola após um remate, ao qual se sucede outro remate? A pedirem para dizer cores ou fazer contas enquanto reagem a uma situação?. A decidirem entre 3 bolas simultâneas a que constitui maior perigo? Quantas?
Mais do que as que gostaria. Mais uma vez chamo a atenção para a presença constante do inconsciente e, sobretudo, para a importância que ele tem na tomada de decisão. Surpreendidos por o vosso Guarda-Redes largar muitas bolas, passar a bola para o adversário ou por demorar a reagir? Revejam o vosso treino. Sobretudo revejam o que lhe pedem para fazer….
Em terceiro lugar, eu acredito que não existem boas ou más decisões. Existem decisões, ponto. O resultado, esse sim, é que poderá ser bom ou mau. Então, mas um mau resultado terá como antecessor uma má decisão, poderão pensar alguns de vocês. Então eu questiono, quando decidem sair de casa num dia de sol e no final do dia queixam-se de não terem levado o guarda-chuva, como classificam a vossa decisão inicial? Boa, má?
Quando um guarda-redes decide sair fora da área e consegue um corte fantástico é uma boa decisão, mas quando faz o mesmo e chega tarde já é uma má decisão. Certo? Então qual é a diferença? O resultado? Então, mas o importante é o processo certo ou será que é o resultado? Feliz ou infelizmente o resultado só é conhecido depois da decisão tomada. A questão que muitas vezes fica sem ser levantada é o que levou à decisão? Quais foram os factores que foram analisados e quais foram deixados de fora? Como estou eu a ajudar o meu Guarda-Redes a decidir melhor? E, afinal, o que é isso de decidir melhor se não há boa ou más decisões?
Para finalizar algo que é crucial…Como é que reagem perante uma decisão vossa (Guarda-Redes) ou do vosso Guarda-Redes (Treinadores) que teve um resultado negativo?


(Texto de Pedro Cerveira, TGR, numa participação especial no Futebol Apoiado)

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