O que é o Futebol de Formação senão aquilo que esta imagem, acima
ilustrada, apresenta? Um jovem atleta, perante um Treinador, que assume várias
caras, que tem de se moldar perante as diferentes necessidades do atleta nas
diferentes fases do seu crescimento/desenvolvimento maturacional e desportivo.
Não pretende este texto revelar noções inovadoras em relação a estes dois
conceitos: Sistema de Jogo e Modelo de Jogo. Apresentando a ideia que tenho
sobre os dois termos, e sobre a qual não me pretendo alongar, entendo o Sistema
de Jogo como um desenho, um ponto de partida, uma maneira de distribuir as
peças no campo. Depois, a bola começa a rolar e as peças terão de ganhar vida.
Aqui entra o Modelo de Jogo, que se entende pelo conjunto de ideias que a
Equipa Técnica pretende incutir na sua equipa, independentemente de elas serem
postas em prática através de um 1x4x3x3 ou um 1x3x5x2. O Sistema anda atrás do
Modelo. Ambos são condicionados pelo contexto em que a equipa se encontra:
clube, condições, campeonato, material de trabalho, entre outros…
Tendo-me já alongado mais do que pretendia, gostaria de levar o foco de
análise para o Futebol de Formação. E, para isto, recordo uma conversa entre
Henrique Calisto e Luís Freitas Lobo, num programa da RTP que, confesso esquecer
o nome, em que Calisto vincava a necessidade da utilização de uma linguagem
mais simples, mais parca nos termos técnicos correspondentes à linguagem do
Futebol para que o telespectador menos familiarizado com tais termos pudesse
seguir a emissão com maior naturalidade. Luís Freitas Lobo, comentador e
entusiasta do Futebol entendia como vital o uso dos termos técnicos. Falar de
Futebol usando a linguagem do Futebol.
Agora, como podemos aplicar isto ao Futebol de Formação? Quantas vezes
eu, Treinador, pensei no treino ou no jogo e entendi que usei um termo
completamente desconhecido pelo grupo de trabalho? Algumas…Com isto dizer que a
utilização dos termos técnicos mais utilizados pelos Treinadores deverão
acontecer desde cedo no Futebol de Formação. Não todos ao mesmo tempo, mas de
uma forma gradual, sem dúvida. Imaginemos o seguinte cenário: não terá
dificuldade um Treinador que chega a um escalão de sub-11 ou sub-13 e aplique
termos que os atletas não compreendem? Não será “contenção” o termo a utilizar
ao invés do “não ir à queima”? Não será “basculação” o termo a utilizar
substituindo o normal “chega lá”? Mas, e sabendo que não vivemos no país das
maravilhas, posso supor que todo o atleta nacional sub-13, por exemplo, tem
conhecimento do significado destes termos? Infelizmente acredito que não. E
importa frisar que não está em causa a aplicação destes conceitos. A questão
tornar-se-ia ainda mais grave.
Com efeito, onde poderão estar as principais causas desta problemática?
- Diferentes ideias dos Treinadores: Na
Formação, como na Competição, temos Treinadores com ideias diferentes. Uns com
uma visão mais bela do jogo, outros com uma visão mais eficaz do jogo. Uns que
têm um certo reportório de prioridades e outros que pensarão diferente. Há um
bocadinho de tudo por ai, temo.
- Falta de formação dos Treinadores: Por
vezes, para se poupar uns trocos, opta-se pelo Treinador menos creditado. E
depois quem sofre? O atleta. Tem uma formação incompleta.
- Dificuldade de comunicação por parte do
Treinador: Sabemos que o factor comunicação, tanto para dentro como para
fora do grupo de trabalho é ferramenta crucial ao Treinador, tanto de Formação,
como de Competição. Uma capacidade elevada em transmitir as suas ideias e o que
pretende dos seus atletas vai aproximá-lo do sucesso.
Assim sendo, como deverá operar um Treinador perante um novo grupo de
trabalho, perante um grupo que não conhece? Descarregar o Modelo de Jogo,
carregado de vontades expressas em conceitos que os atletas não conhecem?
Jamais. Na verdade, uma explicação cuidada da diferença entre Sistema de Jogo e
Modelo de Jogo trará benefícios ao Treinador. E mais do que propriamente
divulgar à sua equipa em que desenho táctico a equipa vai abordar o jogo
seguinte, o Treinador deve sim vincar o Modelo de Jogo, como sendo a identidade
caracterizadora de todo o Futebol da equipa.
Como tal, o Treinador terá de ter uma preocupação especial em avaliar o
grau de conhecimento que os seus jogadores têm acerca da linguagem
futebolística. Não esquecer que, Treinador estuda, lê, retém, analisa,
interpreta, fazendo crescer o seu vocabulário futebolístico associado às ideias
que prefere. Mas o atleta de Formação não tem essa preocupação. Esse
conhecimento deve-lhe ser instruído desde cedo, para quando chegar à Competição
o dominar inteiramente.
Finalizando, quantas vezes nos deparamos com equipas de jogadores de
grande qualidade, mas que falharam porque, segundo o Treinador, havia uma
grande dificuldade dos mesmos em interpretar as suas ideias? Quantas vezes
vemos equipas com qualidade, nas quais havia dois ou três jogadores que não
sabiam interpretar o jogo? Dificuldades de retórica do Treinador? Possível. Má
formação do atleta, em relação à temática abordada? Muito provável.
Pedro Cardoso
0 Comentários