Aos olhos da
comunidade Futebol Apoiado, este poderia ser um artigo sobre um tema mais que
debatido e que tanto é lamentado, mas cada vez mais percebido pelos adeptos.
Hoje em dia parece óbvio que são muito poucos os atletas que jogam uma carreira
inteira num só clube, abdicando de ganhar mais ou menos, tentando isso sim, dar
constantemente o seu melhor pelo clube que tanto ama e lutar com todas as
forças por isso mesmo.
Não me parece um acto de conformidade por parte do
atleta, mas sim uma declaração ao seu maior amor futebolístico! Um acto de
serventia para com os seus adeptos e para com um símbolo. O querer deixar um
legado e ser preservado na história. O querer muito, algo com que se sonha
desde pequeno e ser agradecido pela oportunidade de poder demonstrar o seu
Futebol num estádio que o viu nos melhores e piores momentos.
As grandes lendas dos últimos anos foram-se retirando
recentemente e os símbolos de que tanto falávamos estão a terminar as suas
carreiras. Frank Lampard, Steven Gerrard, John Terry ou Totti, jogadores que
fazem suspirar só de pensar em todo o perfume e qualidade que nos permitiram a
assistir! Atletas que deram tudo pelos clubes onde jogaram, em alguns casos,
até mais de uma década. Super profissionais que davam o exemplo e a cara por um
símbolo que tanto lhes dizia! Quem não se lembra da célebre final da Liga dos
Campeões em que Gerrard pede a palavra a Benitez e assume a motivação para os
seus colegas enquanto capitão? O primeiro golo teria de ser dele e tudo iria ao
encontro do que tinha pedido. Porquê? Porque tem o respeito dos seus colegas e
é um símbolo máximo aos olhos dos seus colegas. Porquê? Porque se um símbolo
máximo não desiste e vai à luta até final, os outros têm de ir atrás
dele.
Certo é que temos casos como Fábio Coentrão ou Maxi
Pereira, vistos como ídolos em casos mais recentes e, que no final as suas
juras de amor ao símbolo, pouco ou nada fizeram para as cumprir. É bastante
claro que isto não é uma crítica, pois são atletas e profissionais e, como tal,
procuram o melhor do ponto de vista financeiro para si e para as suas famílias.
Todos sabemos (e cada vez mais é uma realidade aceite) que são carreiras curtas
e de um segundo para o outro tudo está terminado. Todos sabemos, mas…jogar por
amor à camisola, ao símbolo ou pelos adeptos, tem também um valor muito grande.
Preservar-se na memória de milhões e milhões de associados e simpatizantes, é
algo que tem um valor inestimável. É o sentar na cadeira do trono, ser
reconhecido em toda a parte. Ter sempre o seu lugar reservado, quando quiser.
Isto é reservado para poucos, somente para quem joga com amor à camisola!
E passarei a explicar quais os sintomas para este
artigo. Sempre soube que tudo tem um antes, um agora e um depois, sendo que na
carreira futebolística isso tem uma repercussão numa dimensão ainda maior.
Faz-me confusão pensar por onde andam super lendas e quais os seus pensamentos
no pós-término. Qual terá sido o vazio sentido quando o pano do palco se fechou
e o silêncio se apoderou da sala? Como terá sido o quebrar de rotina de um
profissional que se dedicou toda a vida da mesma maneira? Que impacto terá tido
na sua vida aquele formigueiro sentido nos dias seguintes? Será que a dúvida se
apoderou do atleta? Será que no depois foram tratados da mesma maneira como eram
vistos antes ou serão já perfeitos desconhecidos para as gerações mais novas?
Será que todo o esforço valeu a pena?
Como tudo isto é cada vez mais um mito, aquilo que
poderei considerar como um atleta que joga por amor à camisola é que será
aquele que durante o período em que defende as cores do clube, emprega toda a
intensidade que consegue e vai aos limites em cada jogo na expectativa de criar
um bom espetáculo aos seus adeptos e dar-lhes as tão merecidas vitórias. Será o
atleta que disputa qualquer lance como se fosse o último e que vejamos na sua
expressão o quanto está focado, que até trinca a língua naquela boa ganância de
ganhar a bola e guardá-la para a sua equipa.
São cada vez menos aqueles que procuram deixar um
legado, mas começam a existir os ídolos que através do seu carisma e postura
procuram deixar a sua marca com uma imagem daquilo que terá de ser o jogador do
clube x ou y. Tentam ao máximo que os seus sucessores olhem para o antes e
vejam que no agora terão de trabalhar imenso para conseguir fazer o mesmo ou
melhor!
Na minha óptica, será um duro golpe pensar na perda de
jogadores desse calibre. É de uma profunda alegria pensar que se conseguiu
criar essa dinâmica e que se conseguiu passar os valores que se pretendiam e
que o atleta sentirá falta daquele espaço.
Mas é uma tristeza enorme e uma grande perda para um
clube quando chega a hora da despedida desses atletas. Sinal de que irão à
procura do melhor para si do ponto de vista individual e que também têm outro
tipo de sonhos depois da alegria de se terem tornado profissionais com bastante
esforço e dedicação. Chegou a hora? Talvez…
Jogar por amor à camisola é cada vez mais um acto
efémero e bastante transitório. Como tal, há que dar valor a todos os atletas
que dão tudo em campo enquanto temos o privilégio de poder admirar as suas
capacidades e perceber a imagem que é deixada dentro do clube/grupo.
Muitas das vezes essa capacidade não é observada por
todos e, como tal, deixo o meu muito obrigado a todos os atletas que deram tudo
por mim enquanto lá andaram dentro. Foi um privilégio ver quem joga por amor à
camisola, pois o Futebol é muito mais que um desporto!
Ricardo Carvalho
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