Hoje venho
falar-vos de um tema sensível, de uma sensibilidade exacerbada não só pela
complexidade do tema em si, mas também pelo facto de haver inúmeras e
infindáveis interpretações possíveis daquilo que é…a Liderança.
Desde logo
porque, como diria Anaïs Nin (escritora francesa do século XX), “vemos as
coisas como nós somos e não como elas são”, ou seja, todas as leituras
passíveis de serem feitas acerca do que é a Liderança estão, a priori,
condicionadas pelas nossas vivências e pelos nossos sistemas de valores
decorrentes dessas mesmas vivências. A meu ver este é o principal motivo pelo
qual se torna tão difícil falar/escrever acerca da Liderança.
Obviamente que
há autores que o têm feito de forma magnífica e extremamente elucidativa, mas
tenho a noção de que a Liderança continua a ser um tema demasiado subjectivo e
demasiado “volátil” no que diz respeito a interpretações. Por exemplo, dentro
de um clube de Futebol, os Jogadores podem considerar o seu Treinador como um
Líder (independentemente dos resultados e das condições em que trabalham no
dia-a-dia), mas o Presidente pode não ter a mesma opinião. Principalmente se o
Presidente for “adepto” da Liderança Piramidal e tiver um Treinador que exerce
uma Liderança Circular…
É precisamente
sobre isto que venho escrever: sobre a dificuldade que muitos Dirigentes e Treinadores têm em
perceber o que é a Liderança Circular e sobre a importância da Liderança
Circular no Futebol Moderno.
Muitos dos
nossos Dirigentes (e alguns Treinadores, infelizmente) ainda pensam que Liderança e Chefia são a
mesma coisa, que basta um Treinador dar ordens para que Jogadores executem e as
coisas aconteçam. Mas as coisas não se processam dessa forma. Pelo menos não no
mundo actual, onde a informação e o conhecimento estão ao alcance de todos,
onde o desenvolvimento das capacidades cognitivas do Homem só não acontece por manifesta
preguiça e onde o Homem já percebeu que pode chegar muito mais longe do que os
seus antepassados alguma vez sonharam chegar.
A partir do
momento que a globalização passou a ser uma realidade e em que todos passaram a
ter (minimamente) as mesmas condições de acesso à informação, o Homem mudou. E
se mudou o Homem…mudaram obviamente os jogadores. Contudo nem todos conseguiram
perceber isso ainda. No Futebol Moderno, que é onde pretendo enquadrar este
artigo, isso pode ser facilmente constatado em muitos dos nossos Dirigentes e em alguns dos nossos Treinadores.
Infelizmente
poucos são ainda os casos que revelam um pensamento actual e contemporâneo no que
toca ao dirigismo desportivo. Ainda não perceberam que na génese de tudo isto
está o Homem e a sua complexidade. Já não há mais como impor Liderança através
do grito, do medo, da imposição da força. Aliás, cada vez mais me parece que o
que muitos acreditavam ser o respeito pelo Líder de outrora mais não era do que
medo, isto é, os liderados de antigamente eram “crianças” amedrontadas que
receavam pelo seu bem-estar físico e psicológico e, como tal, obedeciam a toda
e qualquer ordem, mesmo que fossem prejudiciais para quem as ordenava.
Daí ser
importante mostrar que as coisas mudaram. Para melhor, se me perguntarem a mim,
pois agora existe o respeito pelo ser humano, pelo Homem. Agora existem preocupações
que não se extinguem nem se limitam ao que se passa no campo, em dias de treino
e em dias de jogo. O Treinador, agora, é muito mais um semelhante dos seus
liderados do que um mandante dos seus liderados. Isto, se tivermos em conta a
Liderança Circular, claro está.
Olhando para
este tema na perspectiva em que me encontro, como pode um Treinador, no Futebol
actual, não querer exercer Liderança Circular? Como pode um Treinador, no
Futebol actual, não aproveitar aquilo que tem de melhor à sua disposição – o Homem?
Para aqueles
Treinadores (e Dirigentes) que pensam que perdem “poder” ao colocarem-se no
centro do círculo que lideram (e por estarem no centro do circulo, ao mesmo nível
dos seus liderados), deixem-me que vos diga que não existe Liderança sem
Inteligência. E nos dias de hoje, há pelo menos dois tipos de Inteligência que
devem merecer a nossa atenção, se quisermos liderar uma equipa de Futebol: a
Inteligência Emocional e a Inteligência Contextual.
De modo a que
possamos todos perceber o que significam cada um destes conceitos, apresento-vos
duas definições que não são da minha autoria, mas sim da autoria de pessoas
conhecidas e renomadas no que diz respeito à análise destas questões:
Inteligência
Emocional é “a capacidade de podermos lidar conscientemente com as nossas
emoções e com as emoções dos outros, dar-lhes sentido e aproveitá-las
eficazmente, não de uma forma isolada, mas conjugada com a razão” (Luís Lourenço,
2017: 32).
Inteligência
Contextual ocorre quando “de situação para situação, a (…) influência do líder
aumenta ou diminui de acordo com o grau de adequação do seu estilo operacional
pessoal às necessidades organizacionais e condições exteriores “ (Nye Jr.,
2008: 120).
Por último,
para terminar e ainda sobre a Inteligência, uma pequena “provocação”:
Se a
Inteligência é uma condição sine qua non para que um Líder possa exercer a sua
Liderança junto do seu grupo de Jogadores, e se para haver Liderança é
necessário que existam Liderados, como pode um Treinador não querer estar ao
mesmo nível dos seus Jogadores? Como pode um Treinador saber as reais
necessidades dos seus Jogadores se não se encontrar no centro do seu grupo,
lado a lado com os seus Jogadores?
Laurindo Filho
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