A Comunicação
é, a meu ver, uma das características essenciais para performances de qualidade
superior nos Guarda-Redes. É normal, tanto ao nível da Formação como ao nível Sénior,
vermos os Treinadores a pedirem/exigirem aos seus Guarda-Redes para comunicar.
A questão essencial é: Comunicar o quê? Quando? Como?
É importante
referir que a Comunicação (para o objectivo deste texto focamos só a
comunicação verbal) é um processo complexo que exige que haja pelo menos 2
interlocutores: um emissor que emite a mensagem e um receptor que descodifica a
mensagem. A mensagem normalmente é passada num ambiente com muito ruído (subentenda-se
ruído como interferências no Processo de Comunicação). Num jogo de Futebol este
ruído é ainda maior, pois não se trata apenas de barulho externo, mas também de
todo o processo cognitivo envolvido no jogo, normalmente referido como leitura
de jogo. É essencial frisar a importância da descodificação da mensagem por
parte do receptor (em cada contexto) e da capacidade de leitura de jogo porque
são, na minha opinião, conceitos que se relacionam e que são importantes para
melhorar a comunicação do Guarda-Redes.
DICA 1:
Intensidade
A Comunicação
deve diferir nos vários momentos e ritmos de jogo e do contexto específico de
cada jogada. Um exemplo simples de um contexto com acção do Guarda-Redes será
uma bola aérea dividida: o Guarda-Redes tem de comunicar de forma intensa e
forte, mostrando presença, comando e domínio do espaço e até alguma
agressividade (para intimidar). Um exemplo da Comunicação com colegas de equipa
pode ser uma situação de saída de bola: se existe ou não pressão, um simples
“tens homem” pode significar coisas diferentes dependendo da intensidade que
dermos à nossa voz pela carga emocional associada, pois se for de uma forma
intensa e forte o colega fica mais atento e desperto e é porque provavelmente o
homem está muito perto. Por sua vez, se for de forma mais suave o colega sabe
que está a chegar homem, mas que ainda tem algum tempo.
DICA 2: Duração
O jogo é
rápido e não há muito tempo para pensar e decidir, até porque a concentração do
atleta tem de estar no jogo, tanto na leitura do jogo como nas várias acções
técnico-tácticas que acontecem em simultâneo. Para um Guarda-Redes, quando
comunica com os seus colegas, isto é importante, pois as suas palavras em jogo
corrido têm de ser fáceis, rápidas e perceptíveis de entender à primeira.
Portanto um “tens homem” é totalmente diferente de “homem”. É só uma palavra,
mas faz diferença assim como em outras expressões.
DICA 3: Especificidade
A Comunicação
para os colegas de equipa, principalmente quando o Guarda-Redes está a
“comandar as tropas” no processo defensivo, tem de ser precisa e não pode
permitir mal entendidos. Em termos práticos, o que acontece muitas vezes quando
começamos a dar mais ênfase à Comunicação é que o Guarda-Redes comunica algo deste
género: “olha aqui”, “olha ali”. Isto acontece muito frequentemente. E apesar
do Guarda-Redes estar a comunicar, o conteúdo da mensagem é basicamente nulo. A
estratégia passa por dar indicações precisas “direita”, “esquerda”, “costas”,
“meio”, etc. E, quando possível especificar, o nome do colega.
A Comunicação
Verbal na Formação não é um processo fácil. Porquê? Porque, tal como referi
anteriormente, para comunicar com qualidade é necessário capacidade de ler o jogo,
aliando depois esta acção à capacidade de antecipar o que vai acontecer de
seguida (sem contar com as acções técnico-tácticas, como, por exemplo, o
posicionar-se). Outra noção importante é que a Comunicação é associada muitas
vezes (no Guarda-Redes) à sua presença na baliza. O meu conselho para os
Guarda-Redes passa por trabalharem bastante a Comunicação, uma vez que isso vai
permitir-vos estar mais dentro do jogo e vai torná-los melhores Guarda-Redes
(nem que seja só para quem vê de fora…).
O contexto de
equipa é extremamente importante na Comunicação “Guarda-Redes – Equipa”, pois
existe uma linguagem comum (no contexto) que permite uma maior capacidade de
entendimento entre os vários intervenientes no processo de Comunicação (todos
têm de falar “a mesma língua”).
Para os
Treinadores de Guarda-Redes é importante fomentar o Guarda-Redes a comunicar,
começando logo no treino específico e depois no treino integrado (essencial).
Depois explicar as dicas acima descritas. Um grande problema para os
Guarda-Redes é muitas vezes o que dizer? O que falar? Explicar aos Guarda-Redes
quando falar, o que falar e o porquê de falar é muito importante. O melhor
processo será quase como trocar de posições com o colega de campo. Peçam aos
vossos Guarda-Redes para se colocarem na pele do colega de equipa. O que eu
gostaria que me dissessem em determinado momento do jogo?
Juntos somos
mais fortes.
Miguel Menezes
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