SL Benfica
perde 1-5 frente ao Young Boys. Por sua vez, Sporting CP perde 0-3 frente ao
Valência, 2-3 frente ao Basileia e 1-2 com o Marselha. Os jornais da especialidade fazem as suas
capas, aludem a um suposto cataclismo técnico-táctico dos reinos da águia e do
leão. Accionem os alarmes, por favor, porque perante tão calamitoso cenário nem
uma equipa nem outra poderão lutar pelo título!
Exagero?
Sinceramente, também penso que sim. Mas se olharmos para as crónicas (críticas)
referentes aos jogos em questão, facilmente se percebe que as análises são
feitas...no momento. Neste momento. Ainda por cima neste momento. Ou seja, em
pleno início de Pré-Época. E se uma análise isolada num determinado momento já
peca por escassa, imagine-se uma análise a um conjunto de comportamentos
registados no início de uma Pré-Época.
Mas quanto
vale, afinal, uma Pré-Época? Como podemos avaliar esse Período Pré-Competitivo
de uma equipa? Devemos avaliá-lo sob um prisma quantitativo e/ou qualitativo,
tendo sempre em conta o contexto? Ou esqueçamos o contexto e olhemos apenas
para as coisas como elas são (resultado final)? Ensina-me a experiência que
existem dois grandes grupos de Treinadores, no que diz respeito à planificação
de uma Pré-Época:
- Os Treinadores que querem
apenas ganhar os seus jogos-treino, de modo a “injectar” moral e confiança nos
seus atletas para que estes “entrem com tudo” no Campeonato. Há uma maior
preocupação com o resultado final, sendo mais importante a vitória em si do que
a maneira como se ganha
- Os
Treinadores que estão mais preocupados com o processo de assimilação e
aquisição de conteúdos, conhecimentos e competências, cujo trabalho visa
fornecer os seus atletas com as “armas” necessárias para que estes possam
responder de forma adequada às exigências do Período Competitivo. O resultado
final, sendo igualmente importante, não é o foco principal do Treinador
Então isto
significa que os Treinadores não querem todos o mesmo? Eles não se preocupam única
e exclusivamente em vencer? Ainda que pareçam duas perguntas semelhantes,
estamos perante duas questões bastante distintas...Todos os Treinadores querem
ganhar! Isso é ponto assente! Nem há como negar tamanha evidência! Mas apesar
de todos os Treinadores quererem ganhar os seus jogos de Pré-Época, nem todos
resumem o seu trabalho ao 1-5, ao 6-0 ou ao 3-3. Reside aqui, a meu ver, a
grande diferença entre os dois grandes grupos de Treinadores que referi
anteriormente.
Olhando para
os Treinadores que se preocupam mais em ganhar e menos com a forma como se
ganha, se repararmos bem, percebemos que costumam defrontar uma maior número de
equipas de escalões inferiores, com menor tempo de trabalho e/ou de campeonatos
menos competitivos. Dada a diferença de qualidade/realidade competitiva e de
tempo de trabalho, as vitórias acabam por ser uma realidade mais ou menos bem
conseguida. E é esse o principal foco deste género de Treinadores. Perante este
quadro, surge como imperial fazermos um pequeno exercício: como será a reacção
das suas equipas quando perdem o primeiro jogo oficial da temporada ou quando
ganham o primeiro jogo oficial, mas depois perdem dois ou três jogos
consecutivos? Lidam bem com um estímulo menos positivo até então desconhecido? Gerem
mal esse estímulo menos positivo e passam imediatamente a desconfiar do caminho
até então traçado? Diga-me o leitor...
É óbvio que
estas interpretações são pessoais, dizem respeito tanto ao que já vivi, vivo e
vou vivendo, como ao que já li, leio e vou lendo. E, no meu caso pessoal,
assumo sem qualquer tipo de problemas que sou um Treinador cuja Pré-Época
inside muito mais na aquisição de competências do que na obtenção de vitórias a
qualquer custo. A identidade de uma equipa leva o seu tempo a ser “construída”
e eu entendo isso...
Mas há quem
não entenda. Há quem veja num empate ou numa derrota de Pré-Época o “fim do
mundo” ou o prenúncio de uma época menos boa. Como se um empate e/ou uma
derrota na Pré-Época significassem ausência de títulos no final época competitiva. Ou como
se uma Pré-Época cem por cento vitoriosa fosse sinónimo de títulos no final da
temporada. A futurologia tem futuro em Portugal, não vos parece? E para o
leitor, quanto vale para si uma Pré-Época?
Laurindo Filho
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