Pensar o
treino é uma crónica dentro da temática de Guarda-Redes, idealizado e focado
essencialmente em debater questões relativas ao treino de Guarda-Redes.
Hoje trago
duas questões separadas, mas com interligação entre si. A primeira é se existe
uma “fórmula” de Treino de Guarda-Redes que seja melhor (subentenda-se melhor
por ter mais sucesso/resultados). A segunda questão prende-se com a
adaptabilidade do treino aos Guarda-Redes e às suas necessidades. O treino
específico de Guarda-Redes deve ser igual para todos os Guarda-Redes?
Antes de mais
é importante referir que não existem fórmulas mágicas. Nenhum Treinador tem a
resposta milagrosa, e se disser que a tem, desconfiem. A verdade é que existe
algo que nunca pode ser dissociado do sucesso ou insucesso a qualquer nível – o
contexto. O contexto é que define os possíveis caminhos e hipóteses a seguir.
Um exemplo simples é que se eu, como Treinador de Guarda-Redes, duas épocas
seguidas fizer exactamente o mesmo trabalho, os mesmos exercícios e tiver a
mesma forma de treinar, ou seja, mantiver tudo igual, tenho a certeza absoluta
que o resultado será redondamente diferente. Para pior. Porque o contexto é que
nos permite olhar para o trabalho e dar-lhe significado. Esse é o grande
problema, por exemplo, dos vídeos da internet. Falta-lhe o contexto. Portanto,
aos meus olhos, determinado exercício pode parecer completamente errado! Falta
o essencial, o contexto, o objectivo do exercício e por aí adiante.
Não existe um
só caminho para o sucesso e para os resultados. Apesar de, por vezes, no mesmo
nível competitivo as discrepâncias entre os contextos serem completamente diferentes.
Isso influencia um pouco de tudo, desde os recursos, à qualidade dos atletas, ao
orçamento, etc. Por muito que não queiramos isto influência a maneira como
podemos trabalhar no treino.
Voltando à
primeira questão. Não existe uma maneira melhor que a outra de atingir o
sucesso, assim como não existe um só caminho, pois este tem de ser contextualizado.
Um exemplo que acho adequado (até pela forma como trabalho): a época anterior
trabalhava numa equipa com relvado sintéctico e tínhamos constantemente jogos
em pisos diferentes (relva natural). Por necessidade de criar um estímulo
diferente em treino usava muitas vezes a lona onde a bola rebate e acelera.
Este ano estou numa equipa com relvado natural. Provavelmente não faz tanto
sentido usar porque na relva tanto posso trabalhar num piso rápido como num
piso mais lento (em função da rega e do corte) e ao longo da semana de trabalho
consigo até ter diferentes tipos de velocidade quando a bola rebate na relva. A
principal influência do meu planeamento e da minha forma de trabalhar neste
exemplo foi o contexto.
Seguindo ao encontro
da segunda questão, e fazendo a ponte entre as duas questões, é importante
realçar que este contexto difere logo dos atletas que temos. Cada atleta tem as
suas especificidades e necessidades. Normalmente temos a preocupação de
trabalhar todos os contextos e técnicas de uma forma abrangente e generalizada.
Apesar disso sabemos que as necessidades de cada atleta são diferentes. Se
temos como objectivo potenciar os nossos Guarda-Redes, temos de, antes de mais,
definir as necessidades de cada Guarda-Redes e depois passar para um plano de acção.
Isso exige tempo e trabalho. É importante, principalmente num contexto de
equipa, ter um tempo dedicado ao trabalho individualizado. Este trabalho
normalmente é de âmbito técnico, mas pode também passar pelo âmbito físico
através de um plano de trabalho de força individualizado, por exemplo. A
resposta à segunda questão passa por ter um treino específico abrangente, mas
havendo tempo no nosso planeamento para o trabalho individualizado.
Em jeito de
conclusão queria lançar o desafio a todos os Treinadores de Guarda-Redes para
me falarem um pouco das vossas “fórmulas mágicas” e de exemplos de alterações
que tiveram de fazer, até mesmo no vosso método de trabalho, para se adaptarem
ao contexto.
Relembrar que
não existe somente um caminho para o sucesso. O contexto é fundamental para
sustentar as nossas decisões e deve ser um guia para orientar o nosso trabalho.
Juntos somos
mais fortes!
Miguel Menezes
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