Muitas vezes
ficamos com um sabor agridoce quando vemos a aposta em jogadores cujo futuro no
Futebol não está para durar. Depois de ter escrito sobre a necessidade cabal
que a Selecção Nacional enfrenta para se remodelar após o Mundial de 2018 (caso
consiga o apuramento), não seria justo não destacar as exibições de Bruno Alves
e Eliseu nesta Taça das Confederações, até mesmo viajar até 2016, até França e
analisar as performances destes dois internacionais portugueses.
As histórias de
Bruno Alves e de Eliseu na Selecção apresentam algumas distinções. Bruno Alves
acaba por ser opção desde há muito, ainda que sempre tapado por Pepe, Ricardo
Carvalho e, no Europeu de França, por José Fonte. Já Eliseu mereceu a
convocatória nos últimos anos premiando a sua carreira no Benfica, substituindo
Fábio Coentrão, recente reforço do Sporting Clube de Portugal. Ora, olhando
para esta Taça das Confederações, Bruno Alves acabou por substituir José Fonte
quando este se apresentou intermitente e Eliseu substituiu o lesionado Raphael
Guerreiro, também a meio da competição. Realçar que Bruno Alves conta com 35
anos e Eliseu com 33 anos.
Sejamos
sinceros, com as idades que acabei de mencionar, é impossível a estes jogadores
deslumbrar. O virtuosismo, a própria capacidade física, a velocidade de outrora
esvaziam-se à medida que o tempo corre. Todas essas armas dão lugar a outras,
que estes jogadores usam de forma soberba. A vitamina experiência faz destes
jogadores soluções bastante viáveis e, acima de tudo, a percepção notória das
dificuldades que cada um apresenta hoje (e não apresentavam antigamente) faz
com que moldem o seu jogo e sejam dados a poucas invenções, possivelmente
melhorando uma das mais importantes capacidades num jogo de Futebol: a eficácia
em todas as abordagens que têm.
É esta
característica que faz destes dois atletas opções altamente válidas. Acredito
que estarão no Mundial, caso Portugal se apure, visto que para defesa central
Fernando Santos não parece ter opções fiáveis a emergir nos sub-21, enquanto
Eliseu lutará com um renascido Fábio Coentrão pela vaga de segundo lateral
esquerdo. Veremos quem fará melhor época, sabendo que Coentrão contará para
Jesus como um titular absoluto, já Eliseu partirá como suplente de Alex
Grimaldo.
Outro caso de
um jogador que parece imune ao passar do tempo é Luisão, capitão do Sport
Lisboa e Benfica. Luisão iniciará a sua décima quinta temporada ao serviço das
águias como a primeira opção no centro da defesa. A dúvida de Rui Vitória será
perceber quem poderá acompanhar o brasileiro. Luisão conta com 36 anos, sendo o
quarto jogador com mais jogos de águia ao peito, podendo ultrapassar Coluna e,
com maior grau de dificuldade mas ainda assim uma possibilidade, Nené em
2017/2018. E veja-se os jogadores que jogaram ao lado de Luisão, mantendo-se o
capitão intacto no onze: David Luiz, Lindelöf, Ezequiel Garay e Jardel, entre
outros. Estes são os que facilmente vêm à cabeça. E vêm porque ao lado de
Luisão todos eles deram um salto competitivo significativo, sendo que os
primeiros três conseguiram sair para grandes clubes europeus.
Luisão conseguiu
ainda uma proeza assinalável: o facto de em 2015/2016 ter jogado substancialmente
menos, graças a uma lesão, e ter conseguido em 2016/2017 reerguer-se, voltar à
titularidade, fazendo-o em grande estilo. Mais uma vez, vitamina experiência,
uma voz de grupo bastante importante no balneário e um elevado grau de
eficácia… sem rodriguinhos, dribblings, fintas ou fantasias… simplesmente
eficaz.
Em jeito de
nota, não me surpreende a aposta de Jorge Jesus em Jérémy Mathieu. Não esperará
o Treinador leonino nada mais que uma elevada dose de eficácia. Precisamente
aquilo que acredito que falte a Paulo Oliveira e Rúben Semedo, que são
jogadores tecnicamente evoluídos, mas acabam por ficar ligados a demasiadas
infelicidades ao longo da época. O único senão em relação ao francês será o
facto de ter acumulado lesões em 2016/2017. Veremos se Mathieu cumprirá o
enquadramento de atleta que tenho desenhado neste artigo.
Entretanto na
Serie A, liga que aposta e cria condições para jogadores em final de carreira
conseguirem prolongar a mesma, temos Gigi Buffon e Dani Alves, o primeiro com 39
anos, o segundo com 34 anos, finalistas vencidos da última edição da Liga dos
Campeões. Em Buffon temos uma lenda, e, quanto a mim, um dos três melhores
Guarda-Redes do mundo. Em Dani Alves temos, sem grande razão de discórdia, o
melhor lateral direito ainda no mundo do Futebol.
Quanto ao primeiro, o mundo do Futebol espera
que o lendário italiano possa figurar no pódio dos melhores jogadores do ano,
enquanto Daniel Alves poderá estrear-se na Premier League, quem sabe encontrar
Pep Guardiola no Manchester City, já que recentemente se tornou um jogador
livre. Tem ainda muito futebol para dar.
Não creio
existir uma idade ideal para um jogador se retirar. O que há é maturidade
competitiva ou falta dela. Cabe ao jogador tomar a sua decisão, sendo que para continuar
no activo e ter um final de carreira digno, só com total entrega ao projecto
desportivo. E há vários exemplos disso, alguns deles acima referidos. Vitamina
experiência… não é para todos.
Pedro Cardoso
0 Comentários