É certo que
ainda falta um jogo a Portugal para ver quem termina a competição no último
lugar do pódio e quem termina a competição em quarto lugar. Ainda assim, devido
à importância que este último jogo não tem, e apesar do muito que já se
escreveu e falou sobre esta prestação lusa na Taça das Confederações, entendo
ser peremptório dar a minha visão, do pouco que vi, pelo pouco que esta
competição puxou pelo meu interesse.
Dividindo o
texto em dois capítulos, começarei pelo capítulo das nuances, das pequenas
conclusões que podemos tirar. E este capítulo é sobre Futebol, pois o próximo
pode fugir um bocadinho do Desporto que tanto gostamos e entrar em outras
temáticas… infelizmente.
Olhando para o
Portugal vs Chile, jogo que culminou com a eliminação lusa, foi um jogo
completamente dividido. Não considero possível dizer que houve uma equipa mais
forte do que a outra na totalidade dos 120 minutos, ainda que admita
perfeitamente que foi com um elevado grau de sorte que Portugal chegou às
grandes penalidades. Todavia, ambas as Selecções tiveram superioridade em
certos momentos do jogo, não conseguindo materializar esse mesmo ascendente.
Mérito para Rui Patrício e Claudio Bravo.
Abordando a
estratégia utilizada por Fernando Santos, digamos que esta estratégia já deu
bastantes frutos no passado. Eis um facto inegável. E podemos também dizer que
o Chile não foi capaz de contrariar a estratégia portuguesa, apenas Bravo foi
capaz de contrariar os três executantes portugueses nas grandes penalidades.
Num 1x4x1x3x2 com William Carvalho no eixo defensivo do meio campo, André Gomes
numa posição de interior esquerdo, Bernardo Silva como interior direito (ainda
que com bem mais liberdade de movimentos, utilizando a sua qualidade de passe e
a sua grande capacidade de tirar o jogo das zonas de pressão – o que o levou a
ser um dos jogadores em foco nesta Taça das Confederações), Adrien Silva à
frente de William, cabendo a Ronaldo e André Silva a missão de finalizar o
pouco que Portugal viria a criar.
Analisada que
está a estratégia e as peças usadas para cada posto, está na hora de falar do
meu destaque da Selecção Portuguesa nesta Taça. Um jogador que me surpreendeu,
já que inicialmente não concordei com a sua titularidade, como possivelmente
muitos outros não concordaram. Cédric Soares é, a meu ver, o grande destaque da
Selecção das Quinas.
Mostrou acima
de tudo que em nada ficou atrás do rendimento de Nélson Semedo no campeonato e
isso é um elogio tremendo. Rápido, confirmando a qualidade de cruzamento que já
vinha dos seus tempos de Sporting, e exímio a defender, tem nota altamente
positiva. Os jogadores estão alertados para a montra que estas competições
tendem a ser. No Europeu já tinha sido titular, nunca conseguindo ser um
destaque absoluto da Selecção. Serviu para ganhar a confiança de Fernando
Santos e para cimentar a titularidade, a qual não foi perdida nesta Taça das
Confederações. E por falar em montra, Barcelona, Juventus e Manchester City
estão à procura de jogador para a posição de Lateral Direito, podendo haver
movimentações com Bellerín e Kyle Walker em Arsenal e Tottenham,
respectivamente. Portanto, quando falamos em montra, certamente que Cédric
atacou a competição motivado e disposto a mostrar que não seria tão descabida
uma mudança para um destes clubes.
Outro destaque
vai para William Carvalho. Principalmente no jogo frente ao Chile, voltámos a
ver o velho William. O William dos tempos de Leonardo Jardim e de Marco Silva.
Tipicamente elogiado por ser exímio em retirar o melhor dos seus atletas, Jorge
Jesus continua com dificuldades em catapultar o futebol de William não só para o
que já lhe vimos fazer, como para ainda mais. Aqui considero que um meio-campo bem
mais povoado é a receita para William se transcender. E concordamos todos que a
principal qualidade de William será a construção de jogo, na sua primeira fase,
não o transporte de bola, muito menos uma capacidade de destruir, tradicional
nos Médios Defensivos.
As diferenças
do “trinco” William para o “trinco” Danilo são abismais. Recordando que com
Jardim e Marco Silva William jogava com dois médios a sua frente, com Jesus
joga apenas com Adrien ao seu lado, o que o obriga a nuances tácticas mais
intensas aquando da perda da bola. Num 1x4x2x3x1 parece muito mais livre para
construir, além de que as suas linhas de passe parecem multiplicar-se. Nota-se
uma entrega de bola não tão lateralizada, mas mais objectiva. Acima de tudo, um
William solto, mais confiante nas suas capacidades, que todos sabemos que as
tem. Neste último ano as melhores exibições de William tiveram lugar no Europeu
de 2016 e na Taça das Confederações de 2017. Pode não ser coincidência.
Fugindo ao
mundo da bola para abordar o segundo capítulo do artigo: a verborreia que por
aí anda, o que foi dito acerca da performance portuguesa. Primeiro dizer que
foi com este Treinador, esta Equipa Técnica e muitos destes jogadores que a Selecção
conseguiu o maior feito do Futebol Português: vencer um Campeonato da Europa.
Mas este assunto já resvala para a falta de Cultura existente em Portugal. Os
portugueses têm memória curta e passam do 80 para o 8 com uma facilidade muito
grande. Mas como isto dificilmente mudará, falemos de outra coisa…
Denzel Washington,
famoso actor de Hollywood, disse uma vez aos jornalistas: “ Se não lês os
jornais, não estás informado. Se lês os jornais, estás mal informado. Qual é a
consequência de informação a mais? A necessidade de ser primeiro, não de dizer
a verdade.”. Como é que podemos aplicar isto àquilo que temos ouvido em relação
a Selecção das Quinas após a sua eliminação?
É absolutamente
vital compreender que nem a Selecção tem mais defeitos após esta competição,
nem as virtudes demonstradas no Europeu de França desapareceram. Fazer desta
eliminação um “bicho de sete cabeças” é coisa de gente louca. Ponto número
dois, como ouvi muita gente falar, parece agora existir um “caso Nani”, através
de uma opinião quase unânime e bem fundamentada (onde é que já nos deparámos
com isto?). Cheguei a ouvir mesmo dizer que haveria uma suposta pirâmide de
extremos com Quaresma à cabeça, depois Gelson e em terceiro lugar Nani. Então,
mas estamos a falar de jogadores iguais?
Certamente que
não estamos…O Seleccionador não pode tomar as suas opções baseando-se no facto
de ter três extremos com qualidade, mas que lhe ofereciam valias diferentes?
Por isso é que todos eles entraram em diferentes momentos do jogo, pois o objectivo
das suas entradas, baseado naquilo que poderiam trazer ao jogo, era diferente.
Deixo uma
pergunta: como podemos criticar os 54 minutos de Nani frente ao Chile e não
criticar os 116 minutos de André Gomes? (não esquecer que Nani foi um dos
heróis da final do Europeu há um ano atrás, substituindo como capitão Cristiano
Ronaldo que saiu devido a lesão… atenção à memória curta)
Como podemos
então aplicar o que Denzel Washington disse? Não estamos a falar de notícias,
estamos a falar de opiniões. Denzel Washington dizia que havia a necessidade de
se ser primeiro em vez de se ser verdadeiro, em relação às notícias, bem
entendido. Eu acho que em relação a muitas opiniões, há a necessidade de se ser
polémico em vez de se ser preciso. Quando até já se critica o facto de
Cristiano Ronaldo ter sido dispensado para conhecer os seus filhos recém-nascidos
está tudo dito. Espero um dia ter filhos e ter uma agenda que me permita
testemunhar os seus nascimentos.
Pedro Cardoso
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