Um mês depois da II Conferência de
Treino de Guarda-Redes, realizada uma vez mais em Vila Nova de Poiares, o
Futebol Apoiado decidiu entrevistar Vítor Salgueiro, mentor e autor desta
iniciativa, de modo a que todos possamos perceber de onde surgiu esta ideia,
como a mesma se tem desenvolvido e para onde caminha este evento.
Futebol Apoiado (FA) – Bom dia, Mister Vítor Salgueiro. Obrigado por aceder ao nosso convite e por se mostrar disposto a partilhar com os nossos leitores tudo o que envolve a Conferência de Treino de Guarda-Redes. Comecemos pela pergunta mais lógica: todos os projectos surgem de ideias, desejos e vontades, pelo que gostaríamos de saber o que o levou a avançar para a criação deste projecto ligado ao Treino de Guarda-Redes?
Vítor Salgueiro (VS) – Agradeço desde
já a oportunidade concedida pelo Futebol Apoiado para poder partilhar um pouco
da criação e existência desta Conferência. Este projecto surgiu de um desafio
efectuado por mim e pelo Ricardo Rebelo ao Presidente e Vice-Presidente da Câmara
Municipal de Vila Nova de Poiares, na sequência de uma acção para Treinadores
Principais realizada em 2015.
Nessa altura questionei porque
direccionávamos as Formações no nosso distrito na vertente do treino e jogo
apenas para Treinadores Principais, pois não existia nenhum tipo de acção para
o treino específico dos Guarda-Redes. Sugeriram-me então que apresentasse o
projecto e, depois de algumas reuniões com o Ricardo Rebelo, decidimos avançar
com o propósito de realizarmos este evento, mas apenas se o mesmo fosse
gratuito. A vontade de levar a todos os
que sentem esta Paixão pelo treino de Guarda-Redes mais conhecimento,
juntamente com a esperança de ver as nossas ideias (e de todos os Treinadores e
Oradores) criar um impacto positivo para ajudar a fundamentar esse sentimento
foram os nossos factores motivadores. Resumo a criação desta Conferência a uma
palavra - “Paixão”.
FA – Da ideia inicial ao esboço mental
de como tudo poderia vir a ser operacionalizado em termos práticos e daí até à
execução final da ideia, como foi todo este processo? Que género de
dificuldades encontrou ao longo do caminho?
VS – O processo de organização e
promoção de uma Conferência desta envergadura é muito complexo. Vai desde a
parte burocrática e logística até a parte mais prática. É o típico trabalho que
necessita de pessoas e convenhamos que foram muito poucas as que trabalharam
para que a Conferência pudesse surgir, mas o trabalho em sintonia fez toda a
diferença. Muitas das vezes era necessário recorrer a alguma criatividade e
apostar num diálogo franco e aberto com os Treinadores e Oradores convidados,
de modo a fazer-lhes sentir a causa que primou sempre esta Conferência, por não
ter quaisquer verbas envolvidas.
Pensar os Treinadores e Oradores, o
espaço, o tempo e toda a logística não é um desafio fácil. Dá realmente muito
trabalho pensar em soluções simples e eficazes para não defraudar as
expectativas dos convidados e participantes. Encontrei muitas dificuldades ao
longo dos meses de preparação das duas Conferências, com situações
imponderáveis dos Treinadores e Oradores, desistências em "cima da
hora" do evento ou pedidos de parcerias que me ensinaram o sentido da
palavra “Não”.
FA – Obviamente que um evento desta
natureza não é tarefa para um homem apenas, correcto? Que tipo de apoios foram
necessários para que a ideia passasse do papel e se tornasse realidade?
VS – Correcto. Por trás deste evento
tive sempre todo o apoio logístico da Câmara Municipal de Vila Nova de Poiares,
nas pessoas do Senhor Presidente João Henriques, do Senhor Vice-Presidente
Artur Santos e do fantástico elemento do Gabinete da Câmara da Área de
Desporto, Juventude e Associativismo, Ricardo Peneda, uma vez que sem a sua
preciosa ajuda este evento não seria possível de concretizar.
Preciosa também a ajuda do outro
elemento mentor do projecto, Ricardo Rebelo, responsável pela elaboração do
projecto. Naturalmente que os apoios cedidos pelo Município, com a cedência dos
espaços (Auditório e Estádio) e a estreita colaboração com algumas parcerias,
nomeadamente a Associação Desportiva de Poiares, a empresa DSMEI e algumas
unidades hoteleiras do nosso distrito permitiram a concretização da nossa
Conferência.
Terei que deixar aqui realçado as
pessoas que mais ouviram falar da Conferência nestes dois anos, que mais
telefonemas ouviram, que me auxiliaram nas minhas dúvidas e indecisões, que
estiveram sempre do meu lado e abdicaram do tempo delas, em prol do meu tempo
(e foi muito o tempo que lhes retirei), mas que se mantiveram sempre do meu
lado e me encorajaram a levar este projecto avante. Obrigado à minha mulher e à
minha filha.
FA – Da primeira para a segunda edição da Conferência de Treino de Guarda-Redes, e depois da experiência inicial, o que mudou em termos gerais e em termos específicos (seja ao nível organizacional, seja ao nível logístico, seja ao nível dos conteúdos programáticos do evento)?
VS – A primeira Conferência foi uma aprendizagem para a segunda. Efectuámos um balanço e extraímos o que não correu tão bem para podermos melhorar na segunda. Pese o facto de sermos totalmente amadores neste tipo de organização e sem qualquer experiência, procuramos melhorar sempre os aspectos menos positivos e convertê-los em aspectos positivos, por forma a que quem vem para o evento se sinta bem.
VS – A primeira Conferência foi uma aprendizagem para a segunda. Efectuámos um balanço e extraímos o que não correu tão bem para podermos melhorar na segunda. Pese o facto de sermos totalmente amadores neste tipo de organização e sem qualquer experiência, procuramos melhorar sempre os aspectos menos positivos e convertê-los em aspectos positivos, por forma a que quem vem para o evento se sinta bem.
Ao nível organizacional sentimos que
houve uma melhoria significativa em face de algumas parcerias conseguidas, as
quais nos permitiram ter os Oradores connosco ao longo dos dois dias do evento.
Em termos específicos, o ano passado fomos pioneiros em trazer o treino de
Guarda-Redes no Futebol Feminino a um evento desta natureza e procurámos chegar
a outros temas pertinentes nesta área específica do treino. Este ano procurámos
trazer novos conteúdos programáticos, por forma a abranger um maior horizonte
de conhecimento dos nossos participantes.
FA – Tendo em conta estas duas
edições, é possível dizer que a primeira foi mais difícil de se realizar por
ter sido uma novidade ou que a segunda, pelas expectativas criadas após a
primeira e pela vontade em fazer mais e melhor em relação à primeira, acabou
por ser mais complexa?
VS –
Ambas tiveram a sua complexidade, mas, para mim, sem dúvida que a
segunda foi mais complexa. Como refere, as expectativas criadas pela primeira
Conferência obrigavam-nos a ter um painel de Treinadores e Oradores com temas
apelativos, que nos permitissem trazer muitos interessados à nossa Conferência.
Finda a II Conferência constatou-se, pelo feedback dos participantes na página
oficial do evento, que as expectativas mantiveram-se sempre muito altas, o que
me leva a pensar que terá de existir sempre vontade em fazer mais e melhor nas
edições seguintes.
FA – Uma das atracções do evento deste
ano foi o Moreira (internacional português que defende actualmente as redes do
Estoril Praia), que aceitou o convite para ser o “Padrinho” desta iniciativa.
Acreditamos que muitos dos nossos leitores gostariam de saber as razões que
levaram a que fosse ele o escolhido, bem como de que forma tudo se processou
desde o contacto inicial até à sua presença no evento, visto que o Moreira é
uma figura mediática, com uma agenda bastante preenchida…
VS – O Guarda-Redes José Moreira é e
será para mim, sempre, o exemplo de quem ocupa esta posição ímpar no Futebol de
uma forma exemplar. Infelizmente passou por períodos conturbados, frutos das
inúmeras lesões que teve, o que me fez aumentar ainda mais o respeito que tinha
por ele, pela sua persistência e perfil psicológico capaz de reagir à
adversidade.
Quanto à forma como surgiu o convite,
numa conversa tida com o Treinador de guarda-redes do Standard de Liége,
Ricardo Pereira, perguntei-lhe se me conseguia o contacto do Moreira. Contacto
dado, contacto efectuado. Um telefonema e receptividade imediata do Moreira… Simples
como ele. O Moreira é muito mais que um Guarda-Redes conceituado...É um ser
humano de excelência.
FA – Depois do sucesso alcançado em
2016 e em 2017, todos aguardam ansiosamente pelo evento de 2018. Podemos contar
com isso? Nos mesmos moldes, com novidades…? O que pode adiantar relativamente
a isso…?
VS – Primeiro terei que descansar
deste, mas certamente que irá haver III Conferência em 2018. Os moldes ainda
não estão pensados e todas as pessoas que estão envolvidas terão oportunidade
de se pronunciar. A partir de agora o patamar começa a ficar elevadíssimo e o
trabalho a realizar também se eleva, mas não me vou adiantar mais…
FA – Avançando para aquilo que é o
Treino de Guarda-Redes, muitos são os agentes desportivos que começam a
demonstrar uma sensibilidade diferente (para melhor) em relação ao próprio
Treino do Guarda-Redes. A ponto de, na nossa opinião, ser notória a maior
importância e a maior relevância dada a este género de treino específico. Na
sua opinião, quais as razões que levam a esta maior aposta e a este maior
destaque?
VS – Felizmente que as equipas de
Futebol, através dos seus agentes desportivos, inserem já nas suas estruturas
técnicas um ou mais Treinadores de Guarda-Redes. Observamos que o Guarda-Redes
detém um desempenho de elevada responsabilidade dentro da equipa e a sua
participação no colectivo é um enorme contributo para os objectivos da equipa.
Esta aposta no treino específico permite que os Guarda-Redes evoluam, sejam
potenciados, e que contribuam para o sucesso das suas equipas.
Mas para que estes evoluam, também os
seus Treinadores têm de evoluir. E só podem evoluir se acompanharem esta
partilha de conhecimento com outros Treinadores da mesma área do treino
específico e se o conhecimento lhes for possibilitado através dos Clubes e de
Formações, de modo a melhorarem as suas competências. Relembro que o Treinador
de Guarda-Redes actual, tem competências ao nível do treino específico que lhe
permite melhorar o rendimento dos seus Guarda-Redes, mas que também deve
reflectir os temas técnico-tácticos do colectivo.
FA – Isso significa que os Treinadores
de Guarda-Redes passarão a ser encarados como uma peça vital dentro das Equipas
Técnicas ou ainda há muito caminho a percorrer até que isso seja uma realidade
global?
VS – Seguramente que já têm de ser
encarados como uma peça vital, embora continue a haver muito atrito. Para que o
seu trabalho tenha sucesso dentro de uma Equipa Técnica deverá existir um bom
relacionamento e muita partilha de informação com o Treinador Principal. Deverá
haver comunicação, objectivos de treino do colectivo bem definidos, para que o
Treinador de Guarda-Redes possa ajustar o seu treino específico à realidade do
integrado.
FA – Em termos metodológicos, o futuro
do Treino de Guarda-Redes passa por onde, na sua opinião?
VS – Este seria seguramente um tema
que daria um bom Workshop para Treinadores de Guarda-Redes, porque é demasiado
abrangente. Deixo apenas uma breve apreciação. O futuro do Treino de
Guarda-Redes passa muito por continuar a operacionalizar conteúdos no treino
que estejam muito perto da realidade do jogo.
FA – Para finalizar, tendo em conta a
sua vasta experiência e o facto de ter sido um dos pioneiros do Treino de
Guarda-Redes no distrito de Coimbra, que conselho gostaria de deixar a todos os
jovens que aspiram, um dia, a vir a ser o novo Rui Patrício (GR) ou o novo
Ricardo Pereira (TGR)?
VS – Não deixo conselhos, mas, se me
permitem, irei deixar algumas frases para que os jovens Guarda-Redes possam
pensar e sentir:
“Alguém disse que ser Guarda-Redes é o
mais próximo que um Homem está de voar. Não se enganou. O Guarda-Redes voa nos
seus sonhos.”
“Uma coisa eu sei. Que todas as
equipas, seja em que escalão for, seja no Futebol de rua ou no Futebol federado
começam por um Guarda-Redes.”
“... é a paixão que estes nobres
atletas possuem, que os leva a superarem-se. É o que os torna diferentes.”
“...o Guarda-Redes, para obter sucesso
face ao infortúnio do erro, deve possuir e trabalhar a capacidade de controlo
das emoções negativas, e a preocupação ou o stress pré e pós-competitivo nunca
poderão melindrar as suas capacidades, devendo focalizar-se na resolução das
suas tarefas, não se preocupando com as consequências negativas do seu
desempenho. “
(Vítor Salgueiro no Estádio Municipal Rui Lima, em Vila Nova de Poiares)
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