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Planeamento da Pré-Época no Treino de Guarda-Redes


A pré-época é para mim um dos períodos mais importantes da época desportiva, pois serve como rampa de lançamento e base de sustentação para o que realmente será a época desportiva. Rampa de lançamento no sentido em que é aqui que vamos iniciar o nosso percurso e é aqui que introduzimos todos os nossos princípios metodológicos e ideias colectivas (Modelo de Jogo). Base de sustentação na medida em que será na pré-época o momento ideal para trabalhar as bases de todo o trabalho físico (força, velocidade, etc.) e técnico.
A pré-época normalmente pode rondar entre 4 a 6 semanas de trabalho. Desde o início é importante ter definido a duração da pré-época, pois isso irá afectar a nossa periodização/planeamento. Os exemplos que irei apresentar de seguida são mais focados para um contexto de rendimento, mas mesmo assim não deixa de ser possível aplicar a maior parte dos princípios no planeamento de uma pré-época em qualquer outro contexto. 

(Gráfico ilustrativo das várias dimensões do atleta – Miguel Menezes)

             Bases Físicas

A preparação física de um ponto de vista geral é crucial antes de entrarmos no trabalho específico do Guarda-Redes. Começar o trabalho de reforço muscular e a prevenção de lesões, sabendo que é importante dar estabilidade ao atleta (trabalho de core). O princípio será criar uma base sustentável de trabalho para que os músculos sejam capazes de resistir às tarefas de carácter mais específico que se seguirão nas semanas seguintes. Este trabalho, principalmente em pré-épocas de menor duração, devia ser realizado antes do início da pré-temporada, principalmente a um nível profissional (referido no gráfico abaixo como trabalho físico geral). Mesmo assim nunca devemos descurar que, sem uma base de trabalho físico de qualidade, corremos o risco de, quando aumentarmos cargas e intensidade, aumentar também significativamente o risco de lesão dos atletas.

Familiarização /Readaptação

O Guarda-Redes tem uma posição específica que exige um tipo de acções que só podem ser trabalhadas realizando acções específicas de Guarda-Redes. Por muito que os atletas não descurem a sua forma física no período transitório entre épocas, será importante dar aos Guarda-Redes a oportunidade de voltarem a habituar-se ao seu habitat natural. Daí a importância de um trabalho técnico e táctico de baixa complexidade e com muita repetição. Voltar a “rever” os vários posicionamentos de baliza. Ter muito contacto com bola em acções simples. O objectivo passará também pelo atleta voltar a readaptar-se ao esforço inerente à sua posição.

Princípios Metodológicos

Trabalhar desde inicio os nossos princípios metodológicos de trabalho. Por exemplo, quando agarrar a bola, de seguida, tem de ter uma acção de distribuição e quando não agarrar existe sempre segunda bola. É importante vincar a nossa forma de trabalhar desde o início para o que vai ser o resto da época, assim como a forma e a ideia da equipa jogar. O objectivo será criar o hábito, a rotina que facilitará o decorrer das sessões no futuro.

Analítico para Global

Os exercícios devem ter uma ordem de progressão. Ao início exercícios que não tenham um grande grau de complexidade decisional e de pensamento (principalmente sob fadiga), ou seja, exercícios mais analíticos. A ideia será progredir para exercícios mais globais com maior semelhança ao jogo e de maior complexidade (contextos mais abertos).

Intensidade, Volume e Técnica

Como pode observar na imagem abaixo as linhas correspondem à variação da intensidade, volume e técnica durante três períodos. O treino físico geral (descrito acima como bases físicas), o treino físico específico da modalidade e a competição. O que se pode observar é que devemos iniciar a pré-época com volumes maiores, intensidades menores e com uma complexidade técnica menor, progredindo para um menor volume, uma maior intensidade e uma maior complexidade técnica.
Esta tabela de exemplo refere-se à componente do trabalho de força (de ginásio, por exemplo), mas tem os princípios essenciais que podem fundamentar uma boa periodização da pré-época. É importante referir ainda que com a aproximação da competição a preocupação passará mais para as componentes de velocidade específica. O objectivo será deixar os nossos Guarda-Redes prontos e “soltos” para a competição. 

(ARTIGO: The Science and Practice of Periodization: A Brief Review – Anthony Turner, 2011)

Para concluir é importante referir que os pontos acima descritos são somente parte dos aspectos essenciais no planeamento da pré-época dos nossos Guarda-Redes. Ainda fica aqui muito por dizer e reflectir. O contexto é determinante na adequação dos nossos recursos, bem como o conhecimento da capacidade dos atletas. Cada realidade tem diferentes necessidades específicas e cabe-nos a nós Treinadores procurar as melhores soluções para cada problema.
Com isto quero dizer que estas são algumas linhas gerais, mas temos de ser nós no terreno a analisar e a decidir. Complementando, talvez o primeiro passo seja mesmo analisarmos o contexto e a realidade onde estamos inseridos. Só depois, em função dessa informação, partir para o planeamento.
Nota final: é importante nunca esquecer que as várias dimensões do atleta nunca serão ou deverão ser trabalhadas sozinhas, elas relacionam-se entre si. A ideia poderá passar por dar mais ênfase a uma ou outra dimensão em função do planeamento.
Juntos somos mais fortes.

Miguel Menezes

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