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"Queres o quê? Dedica-te à pesca"


Nem toda a fotografia de Futebol tem como fundo um pano verde, com uma moldura humana de assinalar nas bancadas. Nem toda a bola é Adidas ou Nike e nem todos os campos têm balizas de ferro, muitas delas são desenhadas com giz ou simplesmente feitas com 2 pedras em cada lado do terreno de jogo. Nem todos tivemos a sorte de ter as melhores condições possíveis para desenvolver um talento que nos era inato, bastava trabalhá-lo um bocadinho mais e rezar para ter sorte nos momentos cruciais.
Tantos foram os sonhos perdidos, tantas foram as horas perdidas a pensar num futuro risonho. Outros tempos, outras realidades…
Caiu em desuso a expressão “Quero ser Jogador de Futebol”! Em Portugal o Futebol encontra-se de luto… São cada vez mais os atletas que apenas praticam Futebol porque os seus pais os obrigam a andar no Desporto. São cada vez mais os atletas que apenas vão ao treino. São cada vez mais os atletas que apenas querem passar um bom bocado com os seus colegas e aproveitam o treino para isso. São cada vez mais os atletas que deixaram de sonhar e que não têm perspectiva nenhuma dentro do Desporto! O amor à camisola, o jogar pelo amor à bola, esse foi-se!
São cada vez menos os atletas que estão predispostos a aprender aquilo que os (cada vez mais) capacitados e credenciados Treinadores têm para lhes ensinar. São cada vez menos os atletas que sabem e conseguem aprender os valores de trabalhar em grupo e em prol disso! São cada vez menos os atletas que aproveitam todo o tempo disponível que têm em casa, para sair para a rua, seja sozinho ou acompanhado, para pôr à prova aquilo de que são capazes com uma bola de Futebol ou para improvisar aquilo que ainda não são capazes de fazer com ela. São cada vez menos os atletas que percebem o valor de um relvado sintético ou natural e da sorte que têm de ter todo o material disponível para poder melhorar a cada segundo que passa. E que importante é cada segundo que passa…
São cada vez mais os atletas que preferem isolar-se em casa numa rede social. São cada vez mais os atletas que, em vez de praticar e crescer dentro de um grupo, preferem o grupo do Facebook ou de qualquer outra rede social para conversar. São cada vez mais os atletas que não são atletas, pois um atleta lutará até à exaustão, nem que seja pela competição que um Desporto desperta num ser humano. São cada vez mais as crianças e adolescentes que estão dentro da geração dos “porquês” e que se sentem capazes de questionar tudo, pois têm essa liberdade dentro da educação que estão a incutir-lhes. Certamente não foi esta a liberdade por que tanto as gerações passadas lutaram…


Mas será que a culpa pode ser atribuída apenas aos atletas? Penso que não… Tanta vez ouvi “Quero ser Jogador de Futebol” e tudo o que fizeram foi tentar demover o dono dessa ideia. Tanta e tanta vez, apenas porque ser Jogador de Futebol não é para todos, é para um em cada cem mil. Tanta e tanta e tanta vez, apenas porque “é difícil” e “tens tanta outra profissão em que podes lá chegar mais facilmente”. Pois é, mas mais tarde percebem essas crianças que nada na vida lhes é dado e terão de lutar muito para essa “profissão fácil”. Muitos serão demovidos pela ideia de “Pffff, queres ser o Cristiano Ronaldo??? Já viste o quão bom ele é? Esquece, é impossível para ti!!!”. Muitos são aqueles que já não lutam em grupo, porque sozinho chegarão mais longe! (É incrível esta teoria!) A verdade é que lhes é incutido o tentarem se destacar ao máximo sozinhos para poderem se destacar e rapidamente ser o saco de dinheiro que irá encher a família.
A culpa nunca poderá ser de uma criança em constante aprendizagem. Não deverá cada educador aperceber-se das horas que os seus filhos se encontram isolados em casa quando na sua adolescência deveriam era ser incentivados a brincar na rua? Não deveriam sair do “ninho” e aprender a errar constantemente e assim descobrir qual o caminho mais correcto para si? Não deveriam os educadores incentivar a ouvir com tanta atenção quanto ouvem nas escolas que frequentam durante o dia, pois valores como a dedicação, o brio, auto-superação e o grupo como método para chegar à vitória, não se aprendem apenas na escola? Não deveriam os educadores incentivar os atletas a ouvir e a dedicar-se mais e a questionar e julgar menos? Não deveriam os educadores incentivar os atletas a perceber que se não jogam deveriam praticar mais para se poderem superar?
Não deveriam tudo isto e mais alguma coisa, em vez de cortar as pernas aos sonhos dos futuros Homens desta sociedade? Ser Jogador de Futebol não é assim tão difícil…Mas não se pode deixar de treinar porque se tem teste e então estudar na véspera irá resolver o assunto. Não pode haver mau comportamento na escola e então resolve-se o assunto, deixando de ir aos treinos. Não pode haver incentivos às “birras” do atleta e ainda questionar tudo e todos, não percebendo quais as dificuldades que são apresentadas e ajudá-los ao máximo a corrigirem-se. Será que a Internet só serve para mandar uns “bitaites” nas redes sociais? Não pode servir como incentivo de estudo para o atleta?
“Pai, quero ser Jogador de Futebol”? Eu até queria, mas disse-o da boca para fora e amanhã quero é outra profissão, pois esta é para quem luta e trabalha muito diariamente…

                                                                       Ricardo Carvalho


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